A Religião deve se misturar à Política?

A RELIGIÃO DEVE SE MISTURAR À POLÍTICA?

Jorge Linhaça

Com a eleição de Marcos Feliciano ( pastor ) para a Comissão de Direitos Humanos e Minorias a celeuma foi armada, algumas minorias que sentem-se agredidas pelo posicionamento do pastor, por outro lado alguns outros pastores como Silas Malafaia ( sempre ele ) saem em defesa do colega.

No meio do bate boca a população, refém de sua própria falta de conhecimento, deixa-se levar pelos discursos de terceiros, assumindo o papel de massa de manobra.

Em primeiro lugar é preciso entender que somos um Estado laico, ou seja, não estamos ou pelo menos não deveríamos estar atrelados a interesses desta ou daquela religião.

É verdade que, por conta de contingências históricas e culturais, nosso Estado esteve sujeito a influências da chamada “religião oficial”, no entanto, o quadro vem mudando sensivelmente.

A “invasão” da bancada evangélica, de certa maneira, criou um cabo de guerra, uma sensível tensão entre diversos interesses.

Quanto aos movimentos em “defesa” das minorias, muitas vezes não passam de organizações montadas para favorecer financeiramente meia dúzia de espertalhões em nome de lutas nem sempre são reais. No mais das vezes, os defensores das minorias não procuram a tão decantada igualdade que alegam buscar, mas sim, “virar o jogo” criando dispositivos que criem direitos a mais para seus componentes.

Portanto a discussão atual vai muito além do que aparenta.

O medo dos movimentos homossexuais ( por exemplo) é que haja um recrudescimento naquilo que consideram avanços nos seus direitos diferenciados.

Quanto aos movimentos do direitos dos negros, o medo é que o deputado seja racista, por conta de uma vertente teológica seguida pelo pastor.

Se Marcos Feliciano tem ou não capacidade de separar a parte teológica da atuação política, só a sua atuação poderia demonstrar; no entanto seu posicionamento, sempre turbulento e polêmico causa todo esse mau estar.

O interessante, mas que passa despercebido, é que os evangélicos podem ser considerados como minorias em nosso país, da mesma maneira que negros e homossexuais, por exemplo.

A questão é que existe uma resistência cultural contra muitos desses religiosos exatamente por conta da pregação agressiva e intolerante por parte de vários de seus representantes ae mesmo de alguns fiéis mais afoitos.

Ainda não estamos acostumados com a democracia, com o respeito pelas diferenças e é justamente isso que cria conflitos absolutamente desnecessários e claramente evitáveis em sua maioria.

Ainda não nos acostumamos ou compreendemos o que seja cidadania, olhamos para os nossos direitos, reais ou imaginários, esquecemos que todos os demais membros da sociedade devem ter os seus direitos respeitados, por mais diferentes que sejam as suas prioridades.

Da mesma maneira que não se pode patrulhar o homossexualismo, não se deve patrulhar a religiosidade, cada qual tem direito de gerir suas vidas e crenças, segundo os ditames de sua própria consciência.

É preciso exercitar a tolerância de lado a lado, deixando a intransigência para os néscios.

Dogmas religiosos e posicionamentos políticos devem ser equacionados, afina das contas, um deputado ou senador, ou vereador não devem legislar te ou em causa própria ou apenas para este ou aquele segmento da sociedade, quando são eleitos representantes do povo, o são para representar todos os segmentos da sociedade.

Salvador, 22 de março de2013.