CALVÁRIO...
Uma Sexta Feira Santa...
O sol, naquele dia tinha um brilho estranho, um triste lamento por Ele que foi crucificado, e inocente pagou pela culpa de toda humanidade. Eu olhava aquele pôr de sol, alguma coisa na minha alma era triste, parecia que aquele sol estava a me chamar ou talvez me acusar... Em uma avenida, Av. Zelina. O ano era 1974. Em algum ponto daquele lugar, eu só olhava, e aquele sol me chamava ou acusava... Às 17: hs, um dourado intenso, aquele céu parecia dizer-me algo que nem eu sabia o quê, porém só minh’alma entendia a razão.
Sexta Feira Santa, como Santo era aquele inocente que teve seu corpo pregado no madeiro, cruz fria, pesada, ardente... Estendia à humanidade um lamento, grito de socorro e clemência... Aquela sensação, misto, estranho de que aquele sol ligava-me àquela cruz, eu podia ouvir-lhe os gemidos... Pedindo para ser socorrido por aquela multidão onde misturavam-se gemidos de dor, revolta, angústia, sentimentos de compaixão. Porém, eles sentiam-se pequenos, impotentes perante o poder dos Imperadores, cruéis que sentiam se ameaçados pelo seu poder inocente, más divino.
Parecia-me, sentir na carne o cravejar daqueles pregos, sentir na alma o ranger de dentes de uma galera enfurecida... Outros, compadeciam-se.
Parei em algum canto da avenida, não me lembro onde...
Queria ir para algum lugar... Meditar, refletir,... Parecia que o brilhar daquele sol queria me invadir, sufocar,... Estendia-me um “dedo”, apontando, dizendo alguma coisa... Ir a uma igreja? Um templo? Uma sinagoga? Uma mesquita?... Talvez... Ir para um rio ou um bosque! Será que Ele, nesse instante crucial, em algum destes recintos estaria? Ao fechar os olhos e olhar para dentro de minh’alma, sentir que estava sendo também crucificado, ouvia o choro daquela mulher. Seria ela Maria, minha/sua Mãe? Bernadete, minha esposa/mãe? Talvez?... E a ajuda de Simão, o Cirineu? Amenizou? Maria chorou por nós? Por quem, Maria, minha/nossa Mãe/mulher chorou?
... Ele, abandonado, sacrificado na cruz agonizou. Sentia-me culpado, por ele na cruz pregado!... E, amargurado sentia o peso do fardo,... A luz daquele sol me acusava, condenava, absolvia?,... Pois, sem culpa eu estaria? Era como uma absolvição, ou uma condenação por uma culpa ou inocência que eu não teria! Aquele sol se pôs dizendo-me ore!, Reze, chore! Para lavar alguma culpa, sua ou da humanidade, que não sei por quê naquela tarde veio bater-me à porta ou à face.
Aquela Sexta Feira Santa passou, a noite trouxe um alento, pois o dia foi de tormento. Para nós... Passou!... Em meu repouso, minha alma aplacou. A culpa?... Essa não passou... Calvário de um dia que o tempo, em 12 ou 24 horas, naquela tarde, o pôr do sol, a agonia de uma alma, que não sei se minha ou de Jesus, selou. Há dois mil anos, Será que cada um que ali estava seria culpado? Judas, Pedro? João? Que rosto ou nome terá o culpado? Quem será o mais culpado? A humanidade traz essa culpa! Terá essa culpa remissão dos seus/nossos pecados? Seria aquele sol para remir ou iluminar, apontar nossa culpa? Por quê o sol, que iluminava uma Sexta Feira Santa trazia uma mensagem ou ditava uma justa sentença? Judas seria eu, ou nós? Quem pagará?...
Este texto faz parte da Antologia de poesia e prosa "ALÉM DO OLHAR",
1ª edição,2013. Pgs 55 a 57.Editora Sucesso/Celeiro de Escritores. S Paulo S P.
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