O Deus bão, e o Deus marvado
Diz a anedota que o sujeito chegou às pressas onde ia começar uma rinha e pediu uma dica ao caipira, para saber em qual galo apostar. Qual é o bom? Perguntou. – O bão é branco, respondeu o caipira. O sujeito confiante apostou o que tinha no galo branco. Mas, dois ou três pulos após começar a rinha, eis o galo branco caído, bico aberto, sangrando, “nocauteado”. Cretino, esbravejou, você disse que o bom era o branco! – Sim, foi o que eu disse, o vermeio é o marvado.
Agora, falando sério, vez em quando deparo com textos que parecem sugerir a existência de um Deus bão, outro marvado. Jesus sim, anunciou e viveu o amor, o perdão, a graça; contrário ao Deus do velho testamento, que era sanguinário, violento; Esse eu aceito, aquele não.
A ideia que alguns esposam, é que Jesus seria um Upgrade de Deus. Ele teria se aperfeiçoado e respeitado os “direitos humanos”. Bem, seja como for, Jesus fez questão de unir-se plenamente ao Deus do Velho testamento, e seus ensinos. “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam;” Jo 5; 39 As Escrituras então existentes eram as do Velho Testamento. Disse mais: “Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele.” V 46
Essa ideia bipolar que Deus foi violência no Velho e graçioso no Novo testamento, deriva de um olhar tendencioso, superficial. Certo é que Deus mandou varrer aos cananeus da face da Terra, não sem motivo, contudo; Depois de depreciar ao adultério, ao incesto, ao homossexualismo, à zoofilia, etc, Deus disse: “Porque todas estas abominações fizeram os homens desta terra, que nela estavam antes de vós; e a terra foi contaminada.” Lev 18 27
Os que fazem isso hoje e estão “seguros” apenas abusam da longanimidade de Deus, equacionando o amor Divino com frouxidão moral.
Entretanto, mesmo olhando aquele tempo rudimentar, se pode achar nuances do amor e da graça de Deus por toda parte. Quando ouviu a súplica de Moisés e não destruiu ao povo como intentava; quando tolerou falhas dos patriarcas, Abraão, Isaque e Jacó; quando perdoou ao pusilânime Acabe, mesmo digno de morte, porque se humilhou; quando, após ter enviado uma mensagem de juízo violento a Nínive, reconsiderou e não fez, dado o arrependimento coletivo, etc.
Os que fazem um apanhado parcial e veem um Deus sádico, cruel, ignoram esses e muitos fatos semelhantes; mais, a posição expressa do Criador sobre isso; “Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que razão morrereis, ó casa de Israel?” Ez 33; 11
Mesmo não desejando a violência, acaba sendo necessária ante os clamores da justiça. Aliás, foi a violência humana desmedida que deu azo ao violento juízo do Dilúvio. “Então disse Deus a Noé: O fim de toda a carne é vindo perante a minha face; porque a terra está cheia de violência; e eis que os desfarei com a terra.” Gen 6; 13
Ademais, o simples atrevimento de julgarmos os atos de Deus, já é uma violência espiritual insana; “Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?” Rom 9; 20 algo parecido Deus questionou a Jó: “Porventura também tornarás tu vão o meu juízo, ou tu me condenarás, para te justificares?” .
Por outro lado, quem descansa no fato de ser Jesus o “bão”, achando que Sua graça significa licença para pecar, deveria considerar alguns textos sobre Sua "marvadeza" também; “Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas. De quanto maior castigo cuidais vós, será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?” Heb 10; 28 e 29
“E diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro; Porque é vindo o grande dia da sua ira; e quem poderá subsistir?” Apoc 6; 16 e 17
Não nos enganemos, pois; não há distinção alguma entre Deus Pai, e Jesus Cristo; “Eu e o Pai somos Um” disse.
Se Deus pudesse manifestar Seu amor assassinando à justiça, teria evitado a Cruz de Cristo, pois, era a justiça Divina que requeria tal preço. Nele, pois, o amor e a justiça de Deus atuaram de mãos dadas. Só assim, se pode ter paz com Deus.
“A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram. A verdade brotará da terra, e a justiça olhará desde os céus.” Sal 85; 10 e 11
Ademais, só reclama da “violência de Deus” aquele que sabe estar em rota de colisão com ela, uma vez que se recusa a obedecer. Então, caso nosso fim for a destruição, será por nossos “méritos” não pela Vontade de Deus. “Porque o erro dos simples os matará, e o desvario dos insensatos os destruirá. Mas o que me der ouvidos habitará em segurança, e estará livre do temor do mal.” Prov 1; 32 e 33
"A justiça sem força e a força sem justiça são duas grandes desgraças."
(Joseph Joubert)