Na primeira vez ela confiante e tão feliz se vestiu com a sua melhor roupa, e faceira foi ao poço; no meio do caminho a água se esvaiu; deixando-a sedenta; chegando em casa, não encontrou o seu marido, e a melancolia tomou conta de sua vida.
Na segunda vez ela se esmerou na caminhada; retirando com agilidade a água do poço, mais uma vez ela se esvaiu no meio do caminho; deixando-a cada vez mais sedenta; chegando em casa, encontrou seu segundo marido prostrado, dormindo, roncando; novamente ela sentia uma imensa tristeza, uma desolação pela sua vida tão vazia.
Na terceira vez ela afoita, se arrumou com afinco, e no meio do caminho, pensava... dessa vez saciarei a minha sede... mas novamente a água se esvaiu no meio do caminho; arquejante, cansada, nem queria entrar em sua casa; já sabia o que a esperava... o seu terceiro marido praquejando, discutindo com ela, porque mais uma vez ela tinha saído sozinha, esquecendo de preparar o seu almoço.
Na quarta vez ela procurou não pensar nas outras tentativas frustradas; agora seria diferente, conseguiria trazer a água pra compartilhar com seu quarto marido; ele entendia das suas aflições, dos seus desejos; mas passivo e acomodado não queria acompanhá-la na sua jornada, deixando-a sem par, tão solitária.
Na quinta vez ela se adornou de esperança, colocou a sua roupa preferida, sorriu e não se incomodou com o calor fustigante, nem com a longa e pedregosa caminhada; chegando no poço, bem rápido encheu o seu cântaro, chegando a transbordá-lo, molhando o seu vestido, e refrescando o seu corpo; sentia que dessa vez conseguiria saciar a sua sede, mas novamente a água se esvaiu no meio do caminho...
Durante todo o percurso de volta, ela não conseguiu controlar as lágrimas, e chorou, chorou ...chegando em sua casa, foi recebida pelo silêncio, o algoz de uma mulher sem marido; a poucos dias atrás, o seu quinto marido tinha ido embora, não suportando mais as suas ausências, tristezas...
Na sexta vez, o dia estava tão belo e convidativo, mesmo ela se sentindo tão tristonha e cansada, resolveu ir ao poço, não queria reclamações do seu amado, estava aprendendo a ser uma mulher mais cordata, mais alegre, se esmerando em agradá-lo; aproveitando a sua ausência, queria logo tirar a água no poço.
Apressadamente andou e chegando ao poço, se surpreendeu com a visão de um homem assentado junto a fonte de Jacó, quis evitar sua presença e não conseguiu; pois Ele lhe dirigiu a palavra e a surpreendeu com um pedido, pedindo que ela lhe desse a água do poço pra Ele beber; logo a ela, uma samaritana tão sedenta, com uma reputação manchada, destruída; um judeu falando, dando atenção a ela, nunca isso tinha acontecido antes; ela que sempre foi rejeitada, desprezada...
E não pode ficar calada e teve de retrucá-lo, se Ele não sabia que os seus mundos eram incompatíveis e incomunicáveis!
Disse-lhe, pois, a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (porque os judeus não se comunicam com os samaritanos). Jo 4:9
Mas aquele homem tão diferente, com fala tão doce, mas ao mesmo tempo tão firme, que não se intimidava com o seu tom de voz, nem com seu medo latente, perseverando em manter um diálogo com ela; a lhe ensinar o que sobejava no seu Ser!
Mesmo ela não conseguindo compreender as suas palavras...
Como Ele conseguiria me ofertar água viva e saciar minha sede?
Por toda a minha vida busquei por minha própria força saciar a minha sede; busquei em outros braços saciar a minha sede de amor, de cumplicidade, de companheirismo e jamais encontrei água viva, e sempre me sentir mais sedenta...!
Como esse homem conseguiria tal façanha, saciar a minha sede?
Mas Ele me respodeu tão sabiamente e tão docemente e me convenceu...como eu fui tão cega minha vida toda???
Jesus respondeu, e disse-lhe: Qualquer que beber desta água tornará a ter sede;
Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna. Jo 4:13-14
E eu aceitei imediatamente o Fonte de águas vivas e jamais fui a mesma mulher de outrora!
Não me entristeci perante a verdade proferida por Ele, sobre a vida vazia e sem sentido que eu levava antes; deixando de buscar um manancial perene, e me entristecendo em frente as cisternas rotas, que jamais saciariam a minha sede.
Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido, e vem cá.
A mulher respondeu, e disse: Não tenho marido. Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não tenho marido;
Porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade. Jo 4:16-18
Ele me ensinou que apesar de todas as minhas fragilidades, carências, eu poderia ser usada como vaso de honra pra divulgar as Boas Novas ao meu povo carente, discriminado; e que poderia ser uma adoradora, não importando o lugar que estivesse, e sim o que sobejava dentro do meu ser, amor, obediência e adoração ao meu Senhor!
Em espírito, em verdade, sendo apenas uma mulher, uma serva de Deus! Jo 4:19-24
Minha verdadeira identidade encontrei, e ela não estava em ser adornada pelo sobrenome de um marido!
O seu cântaro estava vazio, ela deixou pra trás o seu passado; mas ela, a mulher samaritana estava plenamente saciada, cheia do Espírito Santo!
O porvir, a eternidade, ao lado do Seu Senhor, a aguardava!
Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, e foi à cidade, e disse àqueles homens:
Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Porventura não é este o Cristo?
Saíram, pois, da cidade, e foram ter com ele. Jo 4:28-30