Estamos em busca da lei ou do amor divino?

Irmãs e irmãos, que a divina paz inunde a vida de vocês!

No tempo da pregação pública de Nosso Senhor Jesus Cristo, Verbo de Deus vivo, ocorreu que “os mestres da Lei, que tinham vindo de Jerusalém, diziam que ele estava possuído por Beelzebu, e que pelo príncipe dos demônios ele expulsava os demônios”, curando doentes, ajudando os necessitados e disseminando o amor entre os seres humanos.

Quantas vezes deparamo-nos com pessoas consideradas como intelectualizadas questionando determinadas atitudes fraternas e solidárias, imputando a seus realizadores adjetivos tais como insanos, transloucados ou perdulários?

A crítica ao próximo, baseada em preconceitos (ou pré-conceitos), infelizmente, é algo extremamente corriqueiro.

Associados a tal postura humana preconceituosa, existem posicionamentos religiosos dogmáticos, radicais, fundamentalistas, limitadores e que buscam enquadrar as pessoas em verdadeiras formas religiosas, impedindo que elas abram seu coração, expandam sua mente e encontrem Deus em sua vida, de acordo com suas peculiaridades e especificidades, ou seja, negam as diferenças, abominam a riqueza do pluralismo e colocam-se como verdadeiros intermediários intérpretes e julgadores entre o ser humano e o divino. É como se um novo Cristo voltasse afirmando que, de fato, existe um povo escolhido, existem pessoas que, por serem diferentes, foram excluídas de seu Reino e terão alguma chance somente aqueles que Ele, a priori, escolhesse. Que a oração correta é esta e a errada é aquela, que o amor entre os seres como princípio é apenas um tema e o ponto principal é a forma de a humanidade se dirigir a Ele, com as palavras certas, com os gestos adequados, com a postura correta e a aparência apropriada.

Cristo Jesus fora considerado pelos doutores da Lei como um demônio, pois sua prática não estava de acordo com o que estava escrito e ia de encontro aos princípios legais que eram muito mais importantes que a própria prática do amor.

Será que mudamos, será que nos dias de hoje muitas das nossas linhas religiosas, de todas as partes do mundo, conseguem ser diferentes daqueles que criticaram Cristo Jesus por praticar o amor de forma diferente do que estava escrito? O que era mais importante: amar ao próximo e por este amor tudo fazer para aliviar o seu sofrimento, ou cumprir corretamente o que estava escrito na Lei?

Condenamos por inveja, por soberba, acreditando que somos detentores da verdade, da verdadeira religião, da verdadeira fé. Criticamos e admoestamos pessoas que, amorosamente, ajudam e apóiam o próximo, assim como fez o samaritano na parábola contada por Jesus, somente porque não fazem parte de nosso círculo de crenças e dogmas. Digladiamo-nos por conta de pseudo-verdades escritas pelos homens, enquanto negligenciamos e abandonamos milhões de pessoas que morrem de fome. Estamos tão preocupados com preceitos de conduta a serem seguidos, que esquecemos as pessoas para as quais devemos direcionar nosso amor e nossa atenção. Acreditamos tanto que as nossas palavras é que serão ouvidas, diferentemente dos demais meios de relacionamento com Deus, que, apesar de as proclamarmos, esquecemos seu significado e sua aplicação diária.

Os doutores da Lei negavam a prática do amor divino, não porque não a aceitavam, mas porque quem o fazia e como fazia não estava de acordo com suas normas legais religiosas.

Não é à toa que Cristo Jesus, por algumas vezes, os chamou de hipócritas. Palavra que ainda ecoa até os nossos dias, cabendo, perfeitamente, a grande maioria de nossa prática relacional com o próximo, quer sejamos movidos pela ética social ou pelas normas religiosas.

Vivemos, cotidianamente, as brigas religiosas, as contendas dogmáticas, a busca pela primazia da verdade, os conflitos eclesiásticos, enfim, tudo o que nos leva à cisão, ao invés da união; à guerra, ao invés da paz; aos debates fervorosos e vaidosos, ao invés da coesão em busca da aplicação universal do amor. Buscamos salvar nossos dogmas e esquecemos de salvar nossos irmãos; estamos tão preocupados em defender a religião que professamos que abandonamos a verdadeira razão de estarmos nela. As vezes, chegamos ao cúmulo de amarmos mais ferrenhamente as normas, as leis, os dogmas, que o nosso próximo.

É comum que nossas instituições religiosas estimulem, muito mais, o aprisionamento dos sentimentos e idéias de seus fiéis, enquadrando-os em seus princípios encaixotados, do que promovam formas de expandirem sua espiritualidade, fortalecerem sua verdadeira fé, vincularem-se com o infinito Deus. A fé, que é decorrente de uma relação direta entre o ser humano e o Absoluto que deveria propiciar movimentos amorosos e práticas solidárias, acaba sendo um instrumento de combate entre “defensores” de diferentes instituições religiosas, como sem não houvesse um Deus único, universal, infinito, que habita em todos e que sempre esteve e estará presente, em todo tempo e lugar. É a absurda luta pelo “aprisionamento” do Absoluto. Queremos limitá-Lo ao nosso entendimento, às nossas crenças, aos nossos dogmas. Nós, pobres mortais limitados e finitos, ignorantes e arrogantes, vaidosos e prepotentes, apresentando estandartes de um Deus universal como se fosse vinculado, de forma excludente, a alguma instituição religiosa.

Uma vez eu li um texto dizendo que as determinações e definições religiosas estariam muito mais relacionadas à geografia global do que à própria fé, pois quem nasce na Índia, mais provavelmente será hindu; quem nasce no sudeste Asiático tem mais chance de seguir o budismo; quem nasce no Japão tem maior chance de se inserir no Xintoísmo; quem nasce na Europa ocidental tem oportunidade maior de ser cristão; quem nasce no oriente médio, mas facilmente, seguirá o islamismo. Quem está certo? Quem está errado? Qual dos Deuses, geograficamente estabelecidos, é o verdadeiro?

O Deus do índio Tupã teria menos valor que Javé, Deus de Israel? Brahma dos hindus seria menos importante que o Deus cristão? Quem somos nós para estabelecermos a importância do divino? Podemos até nominá-Lo de forma diferente, de acordo com nossa cultura e nossa compreensão, reverenciá-Lo e  adorá-Lo de forma diferente, mantermos uma íntima relação com Ele de forma pessoal. Porém somos competentes para O qualificar, ao nosso bel prazer, de acordo com nosso limitado entendimento, apontando falsidades àquela nominação que não utilizamos? Como podemos acreditar em sua infinitude, em sua universal presença, se assim procedemos?

Reflitamos sobre nossa prática religiosa. Não optando por abandonar todas, pela ausência de uma possibilidade de ser inequivocadamente apresentada, tampouco acalentando o pueril desejo de colocá-las todas no liquidificador e dele retirar uma religião universal, mas qual, de fato, é o princípio, a essência de nossa religião e de nossa prática decorrente? Qual é o ponto de unicidade entre as religiões e de seus seguidores que nos faria unirmo-nos, fraternalmente, em busca da paz e da harmonia universal? O que podemos compartilhar com nossos irmãos que professam outras religiões para que todos nós possamos nos enriquecer, evoluir e melhor trilhar a estrada da espiritualidade em busca do encontro com o Infinito, com a divindade que nos habita, e, com Ele, mantermos uma íntima relação geradora de amor e paz?
Milton Menezes
Enviado por Milton Menezes em 29/01/2013
Reeditado em 29/01/2013
Código do texto: T4111983
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