O Batismo de Jesus
 
No tempo da pregação pública de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, Verbo de Deus vivo, que se encarnou através da santa Virgem Maria, sucedeu esta mensagem:

Ora, como o povo estivesse na expectativa, e como todos perguntassem em seus corações se talvez João fosse o Cristo, ele tomou a palavra, dizendo a todos: Eu vos batizo na água, mas eis que vem outro mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de lhe desatar a correia das sandálias; ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo. Quando todo o povo ia sendo batizado, também Jesus o foi. E estando ele a orar, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como uma pomba; e veio do céu uma voz: Tu és o meu Filho bem-amado; em ti ponho minha afeição. (Lc 3:15-16;21-22)

Minhas irmãs e meus irmãos em Cristo, que a verdadeira paz esteja presente na vida de vocês!

Assim como Lucas, todos os outros evangelistas narram, também, o batismo de Jesus (Mt 3,13-17; Mc 1,4-8; Jo 1,29-34). Cada um, com sua peculiaridade, traz-nos o fato que dá início a vida messiânica de Jesus. Porém, tal ocorrido, de extrema importância, estaria voltado somente para o Cristo Jesus? Reflitamos um pouco sobre isso.

O batismo de Jesus, por João Batista, proporcionou uma radical mudança na vida de João, de Jesus, uma mudança no próprio batismo, enfim, uma mudança no rumo e nas concepções messiânicas de toda humanidade. Não foi, apenas, um ritual de passagem, mas sim, um marco na compreensão do cristianismo.

Como sabemos, João Batista, segundo a Sagrada Escritura, foi filho de um sacerdote por nome Zacarias, e de Isabel, descendente de Aarão, prima de Maria, mãe de Jesus. Ambos já estavam em idade avançada e Isabel, além disso, era considerada estéril. Porém, foi concedia a graça ao casal do nascimento de um filho, que seria pleno do Espírito, desde o ventre da mãe, e, por conseguinte, cheio de sabedoria e santidade, com a missão de anunciar a vinda do salvador e de “preparar ao Senhor um povo bem disposto”.

João, após a morte de sua mãe, 10 anos depois da morte Zacarias, ofereceu todos os bens de família à irmandade nazarita e iniciou a sua peregrinação, com vistas à preparação dos judeus para uma nova vida espiritual, anunciando a chegada do verdadeiro Messias que estava próxima.

João, pelo exposto, fora “incumbido” de ser precursor de Jesus Cristo, não somente profetizando a vinda do Salvador e conclamando a todos para conversão, mas também, introduzindo o batismo como ritual de conversão. Exortava todos para que se arrependessem de seus pecados e, através do batismo, mergulhando nas águas do rio Jordão, eles seriam lavados e purificados, podendo, assim, iniciar uma vida nova.
Sempre chamando a atenção para suas ações, como a de um simples precursor do Messias, afirmando que ele não era o Cristo (Jo 1:20) e dizia: “mas eis que vem outro mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de lhe desatar a correia das sandálias” (Lc 3:16). Ele preparava o caminho, advertindo as pessoas para a necessidade de uma mudança de vida, em especial os fariseus e saduceus, insistindo que eles deveriam se arrepender das faltas cometidas e mudarem sua vida, voltando-a para o reino espiritual. Ele mostrava a necessidade de uma mudança de vida, abandonando o mal e destacando a honestidade, a não-violência e o desapego às coisas do mundo, contentando-se com o que recebessem.

Segundo Lucas, no caminho da preparação da vinda de Jesus, João alertara que ele apenas batizava na água, mas viria outro mais poderoso do que ele que passaria a batizar no Espírito Santo e no fogo (Lc 3,16). O que ele queria dizer com isso?

O batismo realizado por João simbolizava um compromisso de mudança, deixando, sob às águas, os pecados e dela emergindo para uma nova vida, uma vida voltada à preparação para o reino dos céus. O batismo de João, antes de fazê-lo com Jesus, tinha um significado representativo, pode-se dizer que representava, até então, apenas um compromisso do batizado, um verdadeiro ritual de passagem, da velha e pecadora vida, para a nova vida em busca da santidade. Nenhum sinal, nenhuma marca espiritual era cunhada naquele que participava de tal ritual. Havia um importante simbolismo, mas se restringia à representação da aceitação, pelo batizado, à conversão de sua vida.

Com o Batismo de Jesus, mudou, também, João, pois deixou de ser um profeta e pregador “daquele que haveria de vir” e passa a ser o emissário do Cristo, para a transmissão de sua palavra de salvação. Deixou de ser aquele que preparava o caminho do rei que haveria de chegar e passa a ser seu representante, para a conversão dos judeus.

Jesus foi batizado, tornou-se Cristo, muda, então, o próprio Jesus.

Seu Batismo não foi um rito de passagem. Jesus mergulhou nas águas do rio Jordão como o “Nazareno” e, delas, emergiu como o “Cristo”. Não é a toa que se concretizou, segundo os Evangelhos, a presença, nesse momento, da Santíssima Trindade – o Pai, com a voz exclamando que Jesus era seu Filho amado; o Espírito Santo, corporificado na pomba, como um sinal visível de sua presença e o Filho, no novo Jesus que nascera das águas, para ser o verdadeiro Cristo, o salvador, o redentor, a eloqüente testemunha encarnada da fidelidade de Deus. O batismo passou a ser o sinal sensível da união de Cristo com o Pai e o Espírito Santo. Passou a ser tal sinal da união entre a trindade e qualquer ser humano que assim desejar.
Durante sua vida como homem, Jesus Cristo mostrou-nos o caminho certo, qual seria o correto rumo à santidade. Buscando o original grego da palavra pecado (amartia), encontramos o significado literal de “perder a meta”, “perder o rumo”. Nada mais elucidativo! O pecado não nos deve representar somente algo feio, vergonhoso, mas sim, qualquer desvio assumido pelas mulheres e pelos homens, tirando-os do caminho na contínua perfeição.

O próprio batismo mudou com o batismo de Jesus!

De um mero rito de passagem, após o batismo de Jesus, passa a existir, de fato, um novo Sacramento, ou seja, “um sinal que efetua o que assinala”. No Batismo, não apenas na água, mas no Espírito Santo, a água utilizada assinala purificação e, de fato, a realiza. Ele passa a marcar, a selar, de forma indelével, o sinal espiritual na alma do cristão, deixando de ser um mero rito de passagem, tornando-se, verdadeiramente, a entrada no plano da graça. Pode-se dizer que passou a ser o selo da união com o Cristo. Não é à toa que se diz “viver o batismo”, ou seja, a reafirmação permanente, durante toda a vida do cristão, de sua vinculação com os princípios cristãos. Viver o Batismo é vivenciar, aqui, o “reino dos céus”. Não o céu como um lugar físico e vindouro, mas sim, como um estado de espírito, puro e perfeito. Pode-se até dizer que este céu tem seu início no batismo, sendo o início da vida cristã.

De forma alguma devemos imaginar que viver o batismo significa seguir um conjunto de regras de procedimentos, posturas e pensamentos. “O que devo eu fazer ou não fazer?” Não! O “viver o batismo” é muito mais do que isso. É viver a vida de Cristo Jesus, é deixar que o divino que habita em nós conduza, verdadeiramente, nossa vida. Não são, apenas, palavras, discursos e orações verbais, são postura e ações cotidianas. Não é, necessariamente, “o que dizemos”, é “o que fazemos”, e, acima de tudo, “como fazemos”. Não é a preocupação com o cumprimento de regras determinadas – “tenho que fazer, se não, pereço!!” – , mas sim, viver o amor, plenamente.

Assim como, no batismo de Jesus, o “céu se abriu”, ele se abre para nós quando assumimos tal vida. Não, literalmente, uma fenda na abóboda celeste, mas a representação da abertura para uma plena vivência com Deus. Assim como se ouviu “Tu és o meu Filho bem-amado; em ti ponho minha afeição”, igualmente, ao aceitarmos a nova vida cristã – vida vivida, não, apenas, formalmente assumida –, passamos a ser, também, “filhos” e “amados”. Incorretamente pensarmos que não éramos “filhos”, tampouco “amados” antes do batismo, mas tal característica está relacionada com a visão da íntima relação, no vínculo próximo de ligação cotidiana.

Viu-se, ainda, uma pomba, representando a “descida” do Espírito Santo que, igualmente, se faz presente em cada um de nós quando assumimos e vivemos a íntima relação com Deus. Obviamente, Ele não se apresenta numa forma visível, até porque não precisamos que isso aconteça, pelo menos não deveríamos, já que a fé é o suficiente para crermos no vínculo estabelecido.

Apenas como lembrança, a pomba, nessa passagem, está vinculada à mansidão e à pureza. Além disso, a pomba fora mencionada no Antigo Testamento (Gn 8:10ss.) quando, depois do dilúvio sobre a terra e o perecimento da humanidade, a pomba surge, com um ramo de oliva na boca, para comprovar o fim do cataclismo, anunciando, então, o restabelecimento da paz sobre a terra. Ou seja, a pomba, além de representar a pureza e a mansidão, traz-nos, também, a imagem da paz, da verdadeira paz, conquistada com a íntima relação com Deus.

Um fraterno abraço e fiquem com Deus!
Milton Menezes
Enviado por Milton Menezes em 13/01/2013
Código do texto: T4082416
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