Sigamos os magos, ao encontro do Cristo Jesus.
 
No tempo da pregação pública de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, Verbo de Deus vivo, que se encarnou através da santa Virgem Maria, sucedeu esta passagem:

Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do oriente a Jerusalém. Perguntaram eles: Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo. A esta notícia, o rei Herodes ficou perturbado e toda Jerusalém com ele. Convocou os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo e indagou deles onde havia de nascer o Cristo. Disseram-lhe: Em Belém, na Judéia, porque assim foi escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo (Miq 5,2). Herodes, então, chamou secretamente os magos e perguntou-lhes sobre a época exata em que o astro lhes tinha aparecido. E, enviando-os a Belém, disse: Ide e informai-vos bem a respeito do menino. Quando o tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu também vá adorá-lo. Tendo eles ouvido as palavras do rei, partiram. E eis que e estrela, que tinham visto no oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o menino e ali parou. A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria. Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonhos de não tornarem a Herodes, voltaram para sua terra por outro caminho. (Mt 2:1-12)

Minhas irmãs, meus irmãos, permitam-me compartilhar com vocês algumas reflexões sobre essa passagem evangélica, desejando, a princípio, que a verdadeira Paz esteja com cada uma e cada um de vocês.

No domingo que se situa entre os dias 2 e 8 de janeiro, boa parte da cristandade celebra a chamada Epifania, e antes de entrarmos no texto acima, gostaria de lembrá-los do significado dessa palavra e do seu significado religioso cristão.

Se formos buscar o significado etimológico da palavra Epifania, veremos que sua origem está no grego (Ἐπιφάνεια – epiphanéia) e significa aparição, manifestação. Em sua abordagem religiosa cristã, traz-nos o significado de manifestação divina, representada pela apresentação de Jesus ao mundo, por intermédio da reverência a Ele pelos Reis Magos. Ocorre que, a mesma palavra pode ser vista de forma filosófica, trazendo-nos o sentido de profunda sensação de realização ao se compreender a essência das coisas, ou seja, a sensação de se solucionar algo extremamente complexo e difícil. Por essa linha, pode-se considerar epifania como um pensamento iluminado, uma grande inspiração, tão especial que parece ser algo divino, um pensamento único, indescritível. Muitos religiosos, filósofos, místicos, escritores, cientistas, através de relatos históricos, alegam que passaram por experiências epifânicas, tais como Buda (ao se iluminar e de Sidarta Gautama tornou-se o Buda); Moisés (com todas as suas revelações no deserto); Estêvão (ao dizer: “Eis que vejo (...) os céus abertos e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus.” At 7:56); Arquimedes (com o conhecido grito “eureka”, quando formulou a lei do empuxo); Maomé (ao visualizar o anjo Gabriel); Jacob Boehme (quando a ele fora revelado a estrutura espiritual do mundo); Friedrich August Kekulé (que, sonhando com uma cobra engolindo o próprio rabo, descobrira a geometria da molécula de benzeno), e tantos outros.

Mas, fixemo-nos no texto evangélico.

Teria, mesmo, nascido Jesus em Belém, ou esse fato fora assim descrito pelo evangelista para confirmar profecias anteriores? Pela fé, cremos que sim, porém, o que importa é a revelação que o nascimento de Jesus em Belém nos apresenta.

Ele não nascera em Jerusalém, o fausto centro do poder religioso, local do grande Templo de Israel, cidade por onde todos os judeus esperavam que ocorresse a chegada do descendente de Davi, salvador do povo de Israel. Jesus nascera na simplicidade e na pobreza de Belém, cujo significado em hebraico é “casa do pão”. A relação entre alimento, sustento, vida e o nascimento de Cristo Jesus não seria por acaso! Da simplicidade, da pobreza, nasce o pão da vida!

Os Reis Magos que, genericamente, foram identificados como do oriente, ao saberem do nascimento do Messias, foram direto para Jerusalém, o centro do poder local, mas lá, além de não O encontrarem, da mesma forma não identificaram quem pudesse mostrar o verdadeiro caminho. Na riqueza, no poder, não conseguiram encontrar o Messias e ninguém que pudesse apontar o verdadeiro local de seu nascimento.

Seguiram, então, a estrela, a luz, o sinal, que os levou a Jesus recém-nascido. Eles foram capazes, e crédulos o suficiente, de seguir a estrela, de seguir a luz, acreditando, sem qualquer prova prévia, sem qualquer palavra certificadora, que aquele sinal os levaria ao encontro do Messias.

Quantos sinais apresentam-se em nossa vida e titubeamos, resistimos, chegamos até mesmo a evitá-los! Queremos, sempre, a certeza do caminho que eles nos levarão, estamos sempre em busca de coisas concretas e evidentes, para que possamos crer e agir. Desejamos, continuamente, fatos que nos levem ao conforto e a tranqüilidade neste mundo. Solicitamos milagres, grandes feitos, chegamos a pedir que Deus fale literalmente e diretamente conosco, para que assumamos caminhos em direção ao que compreendemos ser a nossa salvação. Por que, simplesmente, não seguimos a luz, a estrela, os sinais, como fizeram os magos, sem questionamento e com fé?

Por mais ilógico que parecesse, os magos seguiram a luz, a estrela, o sinal, e foram para em Belém, na absoluta simplicidade, e não resistiram, não duvidaram. Creram que, mesmo na pobreza, era possível nascer o Messias, que o pão da vida poderia surgir de uma das mais simples localidades de Judá. Foram, creram e prostraram-se diante do Cristo nascido homem!

Acreditaram que, aquele menino recém-nascido, pobre, sem pompa ou luxo, era, de fato o Messias. Eles foram capazes de ver o Salvador na pobreza e na simplicidade, ao seguirem, credulamente, a luz que os conduzira.

Além de acreditarem no sinal, além de segui-lo credulamente, além de não questionarem a presença do Messias no meio da pobreza, eles não apenas expressaram com palavras o que criam, mas apresentaram com atos e bens a sua reverência ao Cristo recém-nascido.

Ouro, incenso e mirra simbolizavam a reverência concreta do homem, da criatura, ao seu Salvador, ao Criador. Diversas vêm sendo as interpretações relacionadas a esses três presentes, tais como ao ouro, o reconhecimento do poder terreno ou, mesmo, a fervente caridade; ao incenso, o reconhecimento de sua divindade, ou, ainda, a devoção humana ao Senhor; à mirra, uma forma de testemunhar que Deus fez-se homem por nós, associado, também, ao reconhecimento do sacrifício irrestrito. De qualquer maneira, todas apontam para à totalidade dos valores humanos diante do Supremo.

Porém, não param na reverência. O encontro com o Messias, mesmo sem palavras orientadoras, somente o seu encontro, fez com que os magos mudassem de caminho, levou-os a alterar a rota de seu retorno para casa. Mostraram que, após o verdadeiro encontro, sem palavras ou efeitos especiais, “somente” o encontro profundo e real, os caminhos são alterados. Buscaram a salvação, de si e dos demais, fugiram do encontro com a maldade, com o cotidiano mundano. A fuga de Herodes não significou, somente, a não revelação de onde estava Jesus, mas a possibilidade do crescimento e a propagação do Cristo vivo, representando o co-responsabilização com a missão da salvação humana.

Inicialmente, a luz iluminou o caminho dos magos até o seu encontro com Jesus. Após o encontro, o seu caminho tornou-se outro e, eles próprios, tornaram-se a luz, a estrela, o sinal do nascimento de Cristo ao mundo. Eis a Epifania!

Sem dúvida alguma, se acreditarmos nos sinais que aparecem em nossa vida e os seguirmos, de forma crente e desprendida, acreditando que a riqueza da salvação pode ser encontrada na simplicidade da vida, não na riqueza das coisas e no poder do mundo, seremos capazes de termos o verdadeiro encontro com o Todo Poderoso. Por conseguinte, nossa vida transformar-se-á, nossos caminhos mudarão, e, cada um de nós, passará a ser um nova luz, uma nova estrela, um novo sinal, com a missão de conduzir outros “magos”, para que consigam ter a felicidade desse divino encontro.

Reflitamos sobre as opções feitas pelos Reis Magos, e suas ações, que, até então, para muitos, representavam, somente, pitorescas figuras folclóricas de um fato imaginado. Aproveitemos a revelação que, por eles, nos chega e acreditemos que somos capazes de identificar a estrela do oriente, a luz que ilumina nosso caminho e seguirmos em direção ao verdadeiro encontro com Deus. Não em algum lugar distante, não em luxuosas igrejas ou santos locais, mas no fundo de nosso interior, na simplicidade de nosso ser, sem pompa ou riqueza, na pobreza humana de nossa alma limitada. Lá, certamente, encontraremos o Cristo nascido, vivo e disponível para transformar cada um de nós em uma nova estrela orientadora, compartilhando, assim, com o plano da salvação universal.

Não há escolhidos, nem excluídos, a todos a estrela evidencia-se, basta ver e crer em sua luz e segui-la, com fé, seguindo em direção ao verdadeiro encontro com o Supremo Deus que habita em nosso ser, transformando-nos, com isso, em novas estrelas de intensa luz, iluminando a humanidade.

Um fraterno e carinhoso abraço e fiquem com Deus!
Milton Menezes
Enviado por Milton Menezes em 06/01/2013
Código do texto: T4070195
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.