Carta de um pastor na manjedoura

Um pastor no presépio

Jorge Linhaça

Meu nome é Jethro, sou um pastor de ovelhas por profissão.

Numa noite, como tantas outras, dormia eu junto ao aprisco quando fui despertado por uma música que vinha ao longe, aproximando-se. Quando abri meus olhos e deixei minha tenda, percebi o brilho resplandecente de uma estrela que parecia quase pousar sobre a manjedoura de uma estalagem.

O coro de vozes maviosas adentrava minha alma de modo que não pude conter-me e parti em direção ao humilde estábulo. Qual não foi minha surpresa ao avistar um grupos de anjos que pairava sobre um cocho onde um recém-nascido envolto em panos descansava placidamente ao lado do pai e da mãe.

Ostros pastores foram chegando dos arredores e até de mais longe, atraídos pela luz e pelo cântico dos anjos que anunciavam o nascimento do Messias tão aguardado.

Confesso que fiquei confuso, como poderia um Rei nascer em condições tão humildes, dentro de um estábulo, cercado por animais, ao invés de num palácio?

Não fossem os anjos e a paz profunda que invadia minha alma e custaria a crer que aquele infante era o Filho de Deus feito carne e sangue como qualquer um de nós.

Mais tarde chegaram uns magos vindos do oriente, montados em seus camelos e com suas roupas lindamente bordadas. Vieram trazer presentes para o menino que os pais denominaram Jesus.

Trouxeram ouro, incenso e mirra, presentes que eram, costumeiramente , dados à realeza.

Confesso que os considerei como penetras naquela ocasião, afinal destoavam em tudo da cena ali montada. No entanto Deus não faz acepção de pessoas e portanto não me cabia imaginar que mandaria seu Filho Unigênito para trazer a salvação apenas aos pobres.

Com o tempo a história foi ganhando algumas versões e decidiram que os tais sábios deviam ser três... Não sei não, para mim parecia haver mais deles, mas como eu estava muito mais atento ao menino, pode ser que eu tenha me enganado (ou não).

Mas o mais importante é que eu estava lá e pude testemunhar esse acontecimento único. Não me contaram nada disso, meus olhos presenciaram o Filho de Deus deitado na manjedoura e pude testemunhar a sua glória.

Salvador, 24/12/2012