Natal não é apenas recordação,
 é, também, oportunidade de transformação.


Que a verdadeira paz preencha a vida de todas e todos vocês!

Queridas irmãs, queridos irmãos, permitam-me iniciar minha reflexão de hoje sobre o Natal, resgatando a passagem evangélica do ultimo domingo – o 4o Domingo do Advento.

Estamos finalizando o período de alegre e reflexiva preparação para o Natal, na expectativa das celebrações referentes ao nascimento de Jesus Cristo, período em que fomos chamados para reconhecer o Cristo vivo nascido em cada irmão, a cada momento de nossa vida.

Iniciou-se, o Advento, com o veemente convite de Jesus, à conversão e à preparação, apresentando uma forte imagem escatológica que, contextualizada em nosso cotidiano, aponta para a incerteza de nossa partida, o desconhecido momento de nossa morte, e, como isso, a necessária preparação, permanente, para que esse instante não nos pegue desprevenidos. No segundo domingo, João Batista, o destacado anunciador da divindade de Jesus e de sua missão redentora, lembra-nos sobre a importância da preparação para a nossa libertação, para a almejada vida eterna. O mesmo João Batista, dá seqüência à sua exortação, no terceiro domingo do Advento, chamando-nos a atenção para a incomensurável felicidade que estava por vir com a chegada do Cristo Jesus, não uma chegada e partida estabelecidas em um ponto humano temporal, mas sim, a chegada e a permanência da divindade Crística em cada um de nós. Conseqüentemente, adverte-nos, João, sobre a fundamental importância de mantermos nutrida a amorosidade com o próximo, pois nele habita o próprio Cristo vivo.

Em relação ao quarto domingo do Advento, gostaria de destacar três pontos importantes, dentre diversos deles. Para tanto, vejamos a sua passagem evangélica:

Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor? Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio. Bem-Aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas! (Lc 1,39-45)

O primeiro ponto relaciona-se à disponibilidade de Maria, mãe do Cristo Jesus, a escolhida, deslocando-se para ajudar sua prima Isabel, submetendo-se a todas as dificuldades que envolviam tal viagem; o segundo ponto refere-se à primeira profecia de João, o Batista, que, mesmo antes de nascer, já anunciara a presença de Jesus no mundo encarnado; o terceiro, a belíssima acolhida de Isabel a Maria, mãe do Cristo, e ao próprio Messias.

Reflitamos sobre Maria que nos dá, inicialmente, o exemplo de entrega e fé, desde o momento da anunciação, quando, imaginando todas as dificuldades, inclusive o risco de morte por adultério, tendo em vista que ainda não tinha mantido qualquer relação carnal com José, disse, sem hesitar, o seu SIM, entregando-se, plenamente, nas mãos de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,38) Encarnando-se, assim, em seu seio, o Verbo de Deus.

Em seguida ao exemplo de entrega e de fé, mesmo grávida e correndo todos os riscos advindos de tal situação, à época, deslocou-se, enfrentando uma região montanhosa, de difícil acesso, esquecendo-se de si mesma, para auxiliar sua prima Izabel, mais velha e, também, grávida. Diz-se que, através de Maria, Jesus, com essa visita, foi ao encontro de sua Igreja, pela primeira vez.

Ao chegar, João, ainda no ventre de Izabel, anunciou a chegada do Cristo Jesus, em sua primeira profecia, estremecendo-se, como se gritasse, exultante, com a vinda do mestre Jesus, ainda não nascido, ainda velado, mas já gerado, já encarnado. Chamava a atenção João, também ainda não nascido, para a chegada daquele que traria palavras de vida eterna.

Imediatamente, mobilizada por João e iluminada por Deus, Izabel acolheu a mãe do Senhor, situação que se sobrepõe à relação familiar existente, exclamando, pela inspiração divina: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” (Lc 1,42)
Amadas e amados, recordemos, sim, dos acontecimentos que acarretaram as festas que nesta época se repetem, porém, reflitamos sobre tais episódios e a importância de sua perenidade em nossa vida.

Primeiramente, inspiremo-nos na entrega inquestionável de Maria aos desígnios de Deus. Sejamos capazes de, em qualquer que seja a situação, por mais arriscada ou difícil que possa parecer, dizer: Faça-se em mim segundo a Tua palavra.” Fé, como já afirmamos anteriormente, não é apenas crer, acreditar na existência e no poder de Deus, mas sim, a resposta que damos diante da revelação do Senhor em nossa vida. Fé é, acima de tudo, ação. O exemplo de Maria, com sua entrega, foi impar, mostrando-nos como se exercita, na prática, a verdadeira fé em Deus.

Exemplificou-nos, também, a mãe de Jesus, para nós ortodoxos a Theotokos (Mãe de Deus), mesmo grávida, correndo perigo, enfrentando adversidades geográficas, com seu deslocamento para ajudar sua prima Izabel. Deixa de lado suas dificuldades, suas preocupações, seus riscos, para se dedicar a quem, em sua avaliação, mais necessitava. Ela poderia ter ficado aguardando auxílio e apoio de todos, ajuda humana e divina, afinal, ela tinha no ventre, aquele que passaria a ser chamado de “Filho do Altíssimo” e que, a Ele seria dado o trono de Davi, para reinar, eternamente, na casa de Jacó. (Lc 1,32) Uma visão simbológica do poder e da força divinas daquele que estava para sair de suas entranhas. Mas não, ela optou por servir, por se doar, ensinou-nos a todos, com sua prática, que servir, independentemente da importância da pessoa, é a verdadeira missão do ser humano.

Na seqüência, dos fatos, João Batista, ainda no ventre de sua mãe Izabel, dá-nos o ensinamentos do reconhecimento da presença de Deus, mesmo que velado, mesmo que não visível, pois sentiu, mesmo sem ver, a presença do divino em Maria. Demonstra-nos a possibilidade e a importância de reconhecermos o divino, mesmo que não visível aos nossos limitados olhos, existente em cada irmão, pois da mesma forma que Jesus, o Cristo, habitava o ventre de Maria, o mesmo Espírito habita em cada ser humano.

Não apenas o reconhecimento e a exultação apresentadas por João podemos aprender nesse episódio, mas, também, a alegre acolhida de Izabel. Saibamos reconhecer a presença de Deus em nosso irmão e, igualmente, exultarmo-nos pela sua proximidade, pela oportunidade que temos de compartilhar com a presença do outro, pela chance que temos de aprender com cada palavra, cada sorriso, cada gesto, carinhoso ou, até mesmo, com as agressões. Já foi dito que podemos aprender, sempre, com nosso irmão, mesmo com palavras e ações inadequadas, pois aprendemos o que devemos fazer com os bons exemplos e o que não devemos fazer com os maus. Sempre, assim, poderemos e deveremos agradecer a presença e os ensinamentos de nossos irmãos.

Enfim, minhas irmãs e meus irmãos, o Natal, momento de agradável recordação do nascimento de Cristo Jesus, mas, acima de tudo, período que nos é propiciado, mais uma vez, mas de forma emblemática, uma maior reflexão sobre a entrega de nossa vida à Deus, a nossa disponibilidade para ajudar o próximo, a capacidade de reconhecermos o divino em todos os nossos irmãos e, com isso, acolhe-lo, sempre, com alegria e exultação.

Levemos amor e paz aos homens de boa vontade, compartilhando, atemporalmente, com os pastores que presenciaram o nascimento de Cristo Jesus, o nascimento e a presença viva, permanente, do Nosso Senhor em cada ser vivo.

O Natal não é somente uma oportunidade para os cristãos, tendo em vista que não é, apenas, a lembrança do nascimento de Jesus. Aproveitemos, todos, mais essa chance de melhora, de evoluir, lavando nossa alma, limpando nossa mente, e transformando-nos, continuamente, para sermos seres humanos melhores neste mundo.

Um feliz Natal a todas e todos e que o espírito de alegria, harmonia e paz permaneçam presentes todos os dias em sua vida!

Fiquem com Deus!
Milton Menezes
Enviado por Milton Menezes em 24/12/2012
Reeditado em 22/12/2017
Código do texto: T4051237
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