O meu reino não é deste mundo!
 
Amadas irmãs e amados irmãos, utilizando as próprias palavras de Cristo Jesus, em aramaico: “shlomo lkulkhun” (Nvuklukl axmXlw)! Que a paz esteja convosco!

No fim de semana passado, considerando o calendário da Igreja Romano, celebrou-se o último domingo do ano litúrgico, com a festa de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo. Já pelo calendário Ortodoxo Siríaco, no domingo passado foi celebrado o 5º domingo anterior ao Natal com a festa da Anunciação de Nossa Senhora.

Aparentemente, temas bastante distintos. Porém, se formos buscar os textos evangélicos indicados para tais celebrações, observaremos a mão do Senhor direcionando-nos a um ponto comum: O Reino de Jesus Cristo.

Vejamos as duas leituras:


Pilatos entrou no pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: És tu o rei dos judeus? Jesus respondeu: Dizes isso por ti mesmo, ou foram outros que to disseram de mim? Disse Pilatos: Acaso sou eu judeu? A tua nação e os sumos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste? Respondeu Jesus: O meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente teriam pelejado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu Reino não é deste mundo. Perguntou-lhe então Pilatos: És, portanto, rei? Respondeu Jesus: Sim, eu sou rei. É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo. Todo o que é da verdade ouve a minha voz. (Jo 18:33-37)

No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria. Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo. Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação. O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim. Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, pois não conheço homem? Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, porque a Deus nenhuma coisa é impossível. Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo afastou-se dela. (Lc 1:26-38)

Na primeira das leituras acima apresentadas, deparamo-nos com um diálogo entre Jesus e Pilatos, cuja pergunta inicialmente feita pelo prefeito da província romana da Judéia, fora se Jesus seria o rei dos judeus.

Tal questionamento poderia ter duas conotações. A primeira relacionar-se-ia à condução política terrena do povo de Israel, os judeus, e, a segunda, poderia estar ligada ao aspecto religioso, não mundano. No caso da primeira das possibilidades, flagrantemente, Jesus poderia representar uma ameaça ao império romano, o que seria, certamente, inaceitável. Já na segunda condição, dificilmente Jesus poderia representar qualquer afronta ao império, tendo em vista que este pouco se imiscuía com as questões religiosas dos judeus. Frente a tais possibilidades, Nosso Senhor não apenas respondeu a pergunta com um sim ou um não, Ele devolveu o questionamento com uma afirmativa associada a uma explicação: “O meu Reino não é deste mundo”.

A resposta de Jesus foi tão nebulosa para Pilatos, como ainda é para aqueles que não compreendem a verdadeira existência de seu reino e de sua realeza.

O Reino de Deus já fora anunciado pelos profetas, a exemplo de Isaias, Jeremias e Daniel, mas a grande questão é o reconhecimento do verdadeiro rei, da delimitação de seu reino e da participação dos homens e das mulheres nele. Eis a grande dificuldade para a humanidade daquela época e que perdura até os nossos dias.

Ao longo de sua passagem conosco como Homem-Deus, Cristo Jesus, em diversas oportunidades, demonstrou que não viera, somente, para um povo escolhido, para uma raça específica, para um gênero determinado, se quer, exclusivamente para pessoas boas ou não pecadoras. Afirmou, várias vezes, que viera para todos e aguardaria o aceite de todos (de todas as regiões e de todas as épocas) ao seu convite para a vida eterna, para o seu Reino. Ninguém está excluído e nunca esteve. Deus não seria amor em essência se, a priori, eliminasse quem quer que seja de seu Reino. Não existe povo escolhido, o indivíduo eleito, existe sim, pessoas que O escolhem como seu Rei, como soberano de um reino que deseja participar e, com isso, incluem-se em tal universo.

Permitam-me ir mais além, caros irmãos e caras irmãs. Jesus, ao responder a Pilatos seu questionamento disse-lhe que “todo o que é da verdade” ouve a sua voz. Se associarmos tal fala aos seus diversos posicionamentos anteriores, fica-nos evidente de que não há, a princípio, exclusão por Ele de qualquer ser humano, pois todos são convidados, desde que sigam a sua verdade, os seus ensinamentos, que vivenciem o amor por Ele propalado, reconhecendo-o como sendo o verdadeiro mandamento. Assim, não apenas estamos reconhecendo seu reino como o reino do amor, da paz e não mundano, como também, O estamos reconhecendo como nosso verdadeiro Rei, explicitando o universo que optamos por participar.

Muitos não têm a oportunidade de nascer em um lar ou uma comunidade que reconhecem Jesus Cristo como o Senhor. Muitos, se quer, já ouviram falar seu nome em toda sua vida. Estariam estes, necessariamente, excluídos do Reino de Deus? Claro que não! Desde que tais pessoas “sejam da verdade”, desde que vivam a fraternidade, o amor e a paz anunciados por Cristo Jesus, eles poderão fazer parte de seu reino. Seriam eles piores do que aqueles que batem no peito e dizem: “Jesus, Jesus”, mas vivem alheios ao amor por Ele apregoado? Caso as pessoas disseminem o verdadeiro amor e a caridade entre os irmãos, estarão propalando a verdade cristã exposta por Jesus, com palavras e atos, e, certamente, pelo Deus todo poderoso será aceito em seu reino.

Atualmente, as pessoas buscam as riquezas do reino material, a prosperidade relacionada as coisas deste mundo, a aparente e temporária felicidade que elas propiciam, e pior, ainda dizem que tudo isso faz parte do universo do Reino de Deus!!

O Reino mencionado por Jesus não é o reino material, não está relacionado ao universo das coisas mundanas, é o reino espiritual, que não está fora de nós, mas sim, dentro de cada um. Como poderemos ir em sua busca no nosso exterior? Eis a razão de muitos passarem toda a vida procurando o Reino de Deus e terem enorme dificuldade de encontra-lo. Eles o procuram onde não está!!

Pois bem, e a leitura da anunciação, qual a sua relação com o reino universal de Deus?

Sem dúvida que a primeira coisa que nos chama a atenção foi a escolha de Maria e sua entrega absoluta nas mãos do Senhor. Ela sabia dos riscos de estar grávida sem que, oficialmente, ainda estivesse com José, tinha ciência de todos os problemas que iria enfrentar, mas não titubeou, entregou-se nas mãos do Senhor de forma inquestionável: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra.” Maria, na anunciação, foi um exemplo de fé absoluta, entrega plena e sem qualquer senão, dúvida ou hesitação.

Entretanto, relembremos a mensagem a Maria: “Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.” A Maria Santíssima foi avisado que, além de conceber um filho, Ele será chamado de filho do Altíssimo e reinará, eternamente, um reino sem fim.

Sabemos que tudo o que é material tem fim. Pode durar mais ou menos, pode resistir ao tempo no limite máximo possível, mas teve um início e há de se findar. Entretanto, o Reino de Deus é eterno, ou seja, não teve início nem fim, não envolve, assim, coisas materiais ou temporais, relacionando-se, então ao mundo espiritual, ao interior de cada um, à essência de todos os seres humanos.

Ambas as leituras, minhas amadas e meus amados, apontam para o Reino Universal de Deus, reino eterno, sem princípio e fim, um reino não-material e que não deve e não pode ser acessado por caminhos mundanos ou materiais.

Busquemos o Reino de Deus e O aceitemos como soberano de nossa vida. Porém, tal busca jamais poderá ocorrer dentre as coisas terrenas, nas alegrias superficiais e passageiras que este mundo pode oferecer, na paz provisória que poderemos obter no aqui e agora. O Reino de Deus está dentro de nós e nele seu verdadeiro soberano, basta que o encontremos e o reconheçamos como o único rei de nossa vida, ao invés dos deuses materiais e dos prazeres que neste mundo, provisório e temporário, poderemos encontrar.

Entreguemo-nos nas mãos de Deus, assim como fez Maria, sem questionamentos ou dúvidas, para que possamos fazer parte do Reino de Deus, o reino do amor e da verdade, reconhecendo-O como o nosso verdadeiro e único soberano.

Fiquem com Deus!
Milton Menezes
Enviado por Milton Menezes em 26/11/2012
Código do texto: T4005954
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