Não são os títulos que magnificam o homem

NÃO SÃO OS TÍTULOS QUE MAGNIFICAM O HOMEM

Jorge Linhaça

É bastante comum percebermos no ser humano a tendência de dar uma importância exagerada a títulos, cargos, chamados que ele próprio ou seus semelhantes carregam ou desempenham, como se tais honrarias, per si, fossem capazes de tornar alguém melhor ou mais importante que os demais.

Na verdade, em uma época em que títulos são distribuídos à mão cheia e, muitas vezes, comprados a bom preço, como em muitas outras épocas já ocorreu, cabe a cada pessoa magnificar ou não o título que lhe foi atribuído.

Na literatura, infelizmente, isso não é diferente, ainda que haja certas premiações que, ao menos aparentemente, seguem critérios qualitativos e não outros.

O ego do ser humano anda tão insuflado que se confundem alhos com bugalhos.

No início de minha atividade como “poeta” e “escritor” confesso que deixava-me levar pelo desejo de acumular títulos premiações, afinal todos nós desejamos ver nosso trabalho reconhecido de uma maneira ou de outra.

Não desprezo àqueles prêmios que recebi e nem renego títulos que me foram auferidos, afinal fazem parte de minha história pessoal e do meu aprendizado como ser humano.

Fora da literatura já tive uma enorme gama de cargos e chamados e foi ali que aprendi a valorizar a ação e não apenas o título a mim atribuído.

Ser diretor de teatro, por exemplo, acumulando por vezes o papel de ator no mesmo trabalho, ensinou-me a importância do trabalho em equipe, a relevar os espinhos e as loucuras do ego. As premiações que recebi durante esse tempo, do qual tenho imensa saudade, não foram nada se comparadas com o ver pessoas que jamais haviam pisado em um palco, após me aturarem por meses, pressionando e corrigindo-os, muitas vezes até chegarem às lágrimas, serem aplaudidas de pé após a apresentação. As medalhas e troféus são apenas lembranças físicas de algo muito mais elevado.

Por outro lado, pululam pelo reino da literatura premiações para as quais basta se inscrever e pagar determinadas taxas para que sejamos agraciados com medalhas ou troféus. Não existe um exame da obra, da vida pregressa ( literariamente falando) do agraciado. Eu mesmo possuo uma comenda ( portanto a grosso modo sou um comendador) literária obtida dessa forma e cujo único valor, para mim, foi o de abrir-me os olhos para tal prática.

Por outro lado, alguns segundos lugares e menções honrosas em outros concursos literários para mim representam muito mais pela análise de meus escritos.

Como atual presidente de uma academia de letras, não me considero melhor que meus associados, pelo contrário, encontro nestes, muito mais qualidades do que em mim próprio como escritor ou poeta. A maior qualidade que lhes atribuo é a de aturarem ao longo do tempo a minha visão de que um presidente não deve impor nada. Reconheço que infelizmente isso não tem gerado bons frutos que eu gostaria de ver enfeitando nossa árvore cultural.

Carisma é uma coisa que raramente se passa através das letras, talvez nisso resida a diferença que sinto entre o real e o virtual. Talvez me faltem, nas palavras escritas, o tom de voz , o olhar, a postura que fazem a diferença em um trabalho presencial.

Como não sou dado ao elogio fácil, reservo meus comentários para textos e atitudes pontuais. Talvez aqui resida outro erro meu em relação a uma maior interação com meus pares.

Estabelecer um meio termo entre a mudança e a preservação de meus valores nem sempre é fácil e portanto pode criar em mim uma imagem de antissocial.

Magnificar um título vai além de mostrar-se detentor do mesmo, passa pelo exercício de suas funções ou atitudes que elevem tal título a um patamar de qualidade e não apenas de nomeação.

Por “n” fatores sinto-me falho, até o momento, em magnificar o cargo que herdei da antiga presidente, quando de seu óbito.

Como ninguém, neste período, apresentou-se como opção para assumir a casa, apesar de vários convites lançados, cabe-me superar meus obstáculos pessoais e reestruturar este cenáculo de literatura, coisa que venho fazendo esparsamente ao longo do tempo analisando a receptividade de cada passo dado. No entanto urge, e mesmo ruge, o tempo para ações mais efetivas e producentes.

No âmbito geral, todos nós temos nossos chamados, cargos e títulos, desde os mais óbvios como pais, mães, avôs, avós, esposos, esposas, amigos e etc.

Cada um deles necessita que seja magnificado para não incorrermos no erro de que apenas o título é capaz de elevar-nos a qualquer função ou patamar sem que lhe demos a atenção devida e nos esforcemos para fazer o melhor possível com as ferramentas de que dispomos.

Ou isso ou os títulos, independente de quão pomposos sejam, serão apenas palavras sem sentido, sem peso e sem valor algum.

Salvador, 17/06/2012