AS DUAS NATUREZAS DO HOMEM – DOUTRINA DIVINA OU SATÂNICA?

Nas Escrituras Sagradas o coração é comumente usado para representar a essência da criatura humana – a sua natureza. E a natureza do homem inclui seus sentimentos, sua disposição, o conjunto de seus atributos, tanto negativos como positivos, a que denominamos de CARÁTER.

O caráter, tal como o DNA, traz todas as informações morais que herdamos de nossos pais. As boas e más tendências estão ali inscritas delineadamente. Por vezes o caráter e a personalidade são confundidos. Algumas pessoas têm acreditado serem a mesma coisa, apenas vistas por ângulos diferentes. Existe, porém, alguma diferença? Vejamos. Caráter significa imagem gravada. Ela é a impressão moral, a qual diz quem somos, do que gostamos, a que somos inclinados a agir. Personalidade, por sua vez, é o conjunto de caracteres que demonstramos em nossas ações, ou seja, aquilo que evidenciamos. Ela pode representar ou não o caráter.

A personalidade é manipulável pelo ser humano, enquanto que o caráter é imutável, sob esse mesmo aspecto. O homem, por si só, não pode alterar absolutamente nada daquilo que está impresso em seu ser, moralmente falando. E é por esse azo que é necessário a intervenção divina para mudar a condição moral de um indivíduo. Fundamentado nessa premissa, o profeta Jeremias asseriu: “Pode o etíope mudar a cor de sua pele ou o leopardo as suas manchas? Nesse caso, podeis fazer o bem sendo ensinados a fazer o mal.” capitulo 13, versículo 23. Impossível, noutro falar.

Quando Deus criou o homem, nele imprimiu o Seu próprio caráter. Se quisermos saber como era Adão antes da sua queda, basta lermos Gálatas 5:22. Os atributos divinos ali descritos eram vistos em Adão, estavam inscritos em sua natureza, em seu caráter. Cedendo à tentação, Adão permitiu que Satanás corrompesse todos esses caracteres. Assim, a fé não seria resistente ao temor, ao medo; o amor não seria incondicional, mas esperaria sempre algum retorno; o altruísmo cederia lugar ao egoísmo; a paz e a persistência dariam oportunidade à ansiedade e ao desespero, e assim por diante. Agora, o homem traria impresso em sua natureza o caráter do diabo.

Adão, por si mesmo, não poderia mudar sua nova condição espiritual. Seus esforços seriam totalmente inúteis. Mais: sua natureza agora era escrava do pecado, escrava do príncipe das trevas. Estaria submissa aos seus mais terríveis caprichos. Não fosse a intervenção divina e não poderíamos mensurar o caos a que Satanás levaria a humanidade. E foi essa drástica antevisão do estado do homem que moveu o íntimo da Majestade do Céu. Deus não suportou ver o terrível futuro a que estaria fadada a humanidade. Nasceu-Lhe, então, o plano da redenção, preparado desde a fundação do mundo. E em que consistiria basicamente esse plano? Todos os passos divinos para salvar o homem receberam o nome de GRAÇA, e a exposição pormenorizada dessa graça se chama EVANGELHO. A sua obra principal é restaurar o caráter do Criador na degradada criatura humana. Essa obra faz com que o homem caído, escravo do pecado, retorne ao seu estado espiritual anterior à queda, reproduzindo novamente cada atributo divino.

Dessarte, Adão e sua mulher foram os primeiros a receber as “boas novas”. E o registro bíblico de roupas de pele de animal serem confeccionadas pelo próprio Deus para SUBSTITUÍREM as vestes de folhas criadas pelo casal, já nos antecipam a miraculosa ação divina na recriação da humanidade, através do evangelho. Aquela substituição foi o testemunho do próprio Jeová, quanto ao Seu poder de refazer, criar uma nova criatura partindo até mesmo de um ser apodrecido pela malignidade do pecado.

Embora pensemos que Deus tenha agido como o oleiro descrito em Jeremias 18:4-6, devemos entender que aquela mensagem é ilustrativa e não comparativa. O oleiro da parábola não tinha o poder de fazer nada do nada. Ele trabalhava com o que estava em suas mãos. A mesma matéria prima do vaso quebrado era reaproveitada. Na recriação não se dá assim. Deus refaz o homem, mas não da mesma matéria prima, Adão alma vivente, antes, de uma muito mais sublime: CRISTO.

Ao recriar o homem, Deus estava começando tudo novamente. A primeira criação era como se não existisse para Ele. Ele não usaria uma matéria que possuísse as digitais do inimigo das luzes. Teria que fazer tudo outra vez. Eis o grande motivo de São Paulo em I Coríntios 15:45 utilizar a expressão “último Adão” para referir-se a Cristo. E por que “último Adão” e não “segundo Adão”? Se o apóstolo tivesse escrito “segundo” daria a impressão de vir um terceiro. E o livro de Naum é assaz enfático quando pronuncia quanto ao futuro, depois da restauração de todas as coisas: não se levantará POR DUAS VEZES a angústia. Naum 1:9. Tacitamente Paulo nos diz que não haverá outra cadeia de circunstâncias que ameace a paz do universo.

Malgrado o que define a etimologia do vocábulo ADÃO, seu significado está ligado a COMEÇO, começo da humanidade, isso no sentido espiritual, no contexto da guerra cósmica em que estamos envolvidos. Lembremos que o intento divino ao criar o mundo era que ele fosse habitado e que “a terra se enchesse de Sua glória”. Números 14:21. O homem foi a coroa da criação de Deus, e Adão passou a ser o Seu mordomo. O destino do planeta estava sob a sua responsabilidade, e eis a razão de o mundo entrar em trevas por conta de sua rebeldia, e não da de Eva. Por isso o apóstolo diz que “assim como por um SÓ HOMEM”, referindo-se a Adão e não a Eva, “entrou o pecado no mundo”. Romanos 5:12.

A expressão “último” do versículo 45, de I Coríntios 15, é a garantia dada por Deus de que não mais se levantará o mal, após o seu extermínio. Cristo, portanto, é o início e a consumação da criação. E é assim que o apóstolo Paulo O apresenta: “o PRIMOGÊNITO da criação.” Colossenses 1:15. Ora, Cristo não foi o primeiro homem a ser criado, então só podemos cultivar em nossa mente aquilo que é mais razoável e verdadeiro – a primeira criação não mais existe para Deus. Os descendentes de Adão apenas respiram pela misericórdia de Deus, a fim de que tenham a chance de decidirem se salvar. Na verdade, tudo teve novo começo em Cristo. Em Apocalipse 3:14, João, uníssono com Paulo, diz: “o PRINCÍPIO da criação”. Se na primeira criação todos deveriam vir de Adão, na segunda, todos DEVERÃO vir de Cristo. São Paulo diz que devemos ser “feitura Sua (de Deus), CRIADOS EM CRISTO JESUS”. Efésios 2:10.

Quando Nicodemos ouviu de Cristo de que lhe era necessário nascer de novo, isto lhe foi confuso, porque NASCER implica um processo gerativo, e ele já estava velho, ou seja, teria que regredir até se achar no ventre de sua genitora. O que Nicodemos conhecia era o processo natural do ser que vinha de Adão, alma vivente. Tal processo gerativo requeria a junção de dois gametas, a intervenção humana, para em seguida nascer. No processo da nova criação, não há intervenção humana. Cristo estava tentando mostrar ao visitante que da mesma forma como Ele veio ao mundo, deveria ser a que traria à existência os filhos do Altíssimo – UM MILAGRE. O mesmo agente divino que atuou na geração do Salvador, faria a mesmíssima obra para trazer ao mundo a família celestial. Jesus, então, sendo enfático, disse a Nicodemos: “O QUE é NASCIDO da carne é carne, e O QUE é NASCIDO do Espírito, é espírito.” São João 3:6. Só faltou Cristo dizer, “COMO EU”. Mas Paulo disse por Ele: “O primeiro Adão foi feito alma vivente; o último Adão, espírito vivificante.” Por que vivificante? Por que Ele é a VIDA, a fim de que, NASCENDO dEle, recebamos vida e vida em abundância. Referindo-se a esse mesmo assunto, Paulo parece tornar mais séria a necessidade do novo nascimento. Ele diz: “A carne e o sangue NÃO PODEM herdar o reino de Deus”. I Coríntios 15:50. Ora, a carne e o sangue são todos os que nascem em Adão, pois Paulo também nos diz que “todos morrem em Adão”. Todos os descendentes de Adão morrerão e não herdarão com Cristo, pelo simples fato de não terem sido refeitos, gerados do próprio âmago do Salvador. Noutras palavras: se ainda retivermos a velha natureza, herdada de Adão, não entraremos no Reino de Deus, já que os que são carne e sangue não obedecem a Deus por serem escravos do arquiinimigo. Note que se retivermos a imagem de Adão estaremos perdidos. E Paulo faz menção disso quando diz que, semelhantes ao terreno (o primeiro Adão), assim são também os terrenos, seus descendentes; e semelhantes ao celestial (Cristo), assim são também os celestiais, Seus descendentes. E aí ele conclui: “E assim como trouxemos a imagem do terreno, traremos também a imagem do celestial.” Esse também não significa junção, como aparenta ser, mas igualdade. E não poderia ser de outro jeito, porque não podemos ter dois caracteres. Eu não sou alto e baixo, gordo e magro. Sou um ou outro. Assim, ou somos terrenos, ou somos celestiais; ou possuímos o caráter de Deus ou do diabo. A obediência é o que faz a diferença. Cristo disse que é impossível para o homem servir a dois senhores. Deste modo, OU SOMOS FILHOS DE DEUS OU FILHOS DO DIABO. O nosso caráter o revela. Daí necessitarmos encarar que a teoria de que temos duas naturezas (dois caracteres) não tem cunho bíblico, e se não tem fundamento nas Escrituras Sagradas, só podemos afirmar, sem medo de errar, que ela nasceu em Satanás.

Se eu fui gerado pelo Espírito Santo, sou uma nova criatura, cujo caráter é o próprio caráter do Criador. Disso já sabemos. Faço parte, então, de uma criação plenamente extraída de Cristo. Eu disse EXTRAÍDA. Para entendermos o que pretendo expor, falemos um pouco do nascimento de um ser humano. Qual a parte do corpo humano que é formada primeiro? A cabeça. Dela advém todas as outras. Paulo utiliza esse evento maravilhoso em Colossenses 2:19 para exemplificar como o corpo de Cristo, a Sua igreja, se forma – dEle mesmo. E dá os detalhes das juntas e medulas, ou ligaduras, como amostra de que os demais órgãos não estão separados, mas intimamente ligados, fazendo parte de uma matéria só. Então, Paulo nos afirma que em Cristo “habita toda a plenitude da divindade”. Colossenses 2:10. E disso também já sabemos. Não pasme o leitor ao saber que Paulo também afirma que a igreja é a plenitude de Cristo. Efésios 1:23. Ora, se unirmos esses dois versículos, haveremos de concluir que aquele que nasce de Cristo, está cheio da divindade, pois é membro do corpo do Salvador. E é a isso que alude São Pedro ao nos dizer que pelas grandíssimas e preciosas promessas de Deus nos tornamos participantes de Sua natureza. II Pedro 1:4. Veja que o que parecia ser ousadia de Paulo, não é, quando categoriza: “Nós temos a MENTE de Cristo.” I Coríntios 2:16. Não poderia ser diferente. E o próprio Paulo nos admoesta, em Efésios 5:18, a estarmos CHEIOS do Espírito Santo. E o Espírito Santo é Deus.

Mas o que isso tem haver com o mote em questão? Ora, se tudo começa em Cristo, tudo começa do zero, TUDO se fez novo. Tenho novo propósito, novo rumo, novo espírito. Sou outro ser, com outro coração. As inclinações não são mais as mesmas. Eu não tenho mais a natureza pecaminosa herdada de Adão, eu tenho agora a natureza de Cristo. “E os que são de Cristo crucificaram a carne com suas paixões e concupiscências.” Gálatas 5:24. O pecado não tem mais poder sobre mim; não sou mais escravo de Satanás. Essa é a razão de João comparar o que nasce de Cristo com o próprio Cristo – “quem pratica a justiça (o que é nascido dEle) é justo, ASSIM COMO Ele é justo”. I João 3:7. “Assim como” é uma expressão de igualdade. Justiça é o contrário de injustiça. E aqui não está se falando de aplicação de castigo, mas de testemunho de vida, obediência plena. Justiça foi o viver de obediência plena aos mandamentos do Senhor, manifestado por Cristo Jesus. Se o justo pratica a justiça, significa que ele não pratica a injustiça. Noutras palavras: ele não transgride, NÃO PECA, pois toda injustiça é pecado. Na versão Almeida Fiel está escrito em I João 3:9 – “QUALQUER que é nascido de Deus NÃO COMETE PECADO”, e aí o apóstolo apresenta a razão desse milagre, “porque a SUA SEMENTE permanece nele; e NÃO PODE PECAR, porque é NASCIDO DE DEUS.” E qual a razão desse novo comportamento? Por que não há mais uma natureza pecaminosa, escrava do pecado, que nos inclina a transgredir a lei de Deus. Sendo um novo ser, não só há vontade como disposição, mas PODER para obedecer. Satanás não tem mais domínio sobre nós. Assim nos assegura o apóstolo João: “o maligno NÃO LHE TOCA”. I João 5:18.

O novo homem gerado pelo Espírito Santo vive em paz com Deus, obedece-Lhe cabalmente a Sua vontade, e por esse motivo o apóstolo Paulo declara veementemente: “Portanto, agora já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.” Romanos 8:1. Não há condenação porque não há transgressão. O Santo Espírito traz o próprio Cristo para o trono do coração do homem, e este vive como viveu o Salvador. Esse viver santo é fruto de uma constante parceria entre o homem e o Espírito Santo. Paulo disse: “OPERAI a vossa salvação”. Filipenses 2:12. Mas isso só pode ocorrer depois que o milagre da recriação tiver sido realizado, uma vez que sem a justificação todo esforço para obedecer à lei divina é embalde. Na justificação, obra exclusiva de Deus, o homem participa tão somente com a fé.

Só é possível, portanto, ser gerado de novo, se pedirmos a Deus esse milagre e crermos, sem qualquer dúvida no coração, que Ele realizará, que nos fará de novo, segundo a Sua imagem e semelhança. “É necessário que aquele que se aproxima de Deus, creia que Ele existe, e que se torna GALARDOADOR DOS QUE O BUSCAM.” Hebreus 11:6. Galardoador, que dá galardão. Devo confiar da mesma maneira demonstrada por todos aqueles que foram curados, do contrário não receberei a bênção. Neste caso, a que galardão se refere Paulo? Ao que João escreveu: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos PERDOAR os pecados e nos PURIFICAR de toda a INJUSTIÇA.” I São João 1:9. Perdoar significa CURAR. Curar da doença espiritual que herdamos de Adão. E aqui está o primeiro passo da salvação: JUSTIFICAÇÃO. Perdão e justificação se confundem na mesma ação divina, pois quando Deus nos perdoa, quando apaga os nossos pecados, Ele não apenas apaga registros, mas nos faz passar da condição de pecadores para justos. Romanos 5:19. Já não somos pecadores e, sim, justos, como Cristo é justo. Possuímos agora a Sua natureza. Recebemos, nesta ocasião, a Sua justiça, e é por isso que Deus nos vê como justos, porque fomos criados dEle mesmo. Dizemos que, nesse momento, Sua justiça nos foi imputada. E isso não é teórico, é prático, a nossa vida dará provas do que houve em nós. Veremos a vida de Cristo ser reproduzida em nós. Não mais sentiremos o peso da natureza pecaminosa. Estamos livres dela. Eis a razão de Paulo dizer em Romanos 5:1 – “JUSTIFICADOS”, tornados JUSTOS por Deus, “pois, mediante a fé, TEMOS PAZ COM DEUS, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.”

Primeiro Ele nos cura, nos sara da doença espiritual, para que assim possamos PODER viver uma vida santa, irrepreensível, sem mácula, nem ruga, nem coisa alguma semelhante (Efésios 5:27), como é exigida daquele que pretende habitar em Sua presença. Justificação e santificação. A ordem de tais eventos não pode ser alterada; o primeiro é instantâneo, o segundo, gradual. Não posso tentar ser santo se ainda não fui justificado. Meus esforços serão inúteis. Somente empós ter sido curado por Deus, ato instantâneo do Espírito Santo, é que estarei habilitado a viver a vida que Lhe agrada. “Portanto”, diz Paulo, “os que estão NA CARNE”, os filhos de Adão, “NÃO PODEM agradar a Deus.” Romanos 8:8. Note que o apóstolo fala em impossibilidade, não em desejo. Os filhos de Adão, OS CARNAIS, os que ainda não provaram o novo nascimento, vivem uma impossibilidade constante, pois ainda que tenham sincero desejo de servir a Deus, não conseguem. É-lhes impossível por que fazem parte da primeira geração. Necessitam ser gerados novamente, necessitam nascer de Deus, e tal providência divina só ocorre mediante a fé, por ser um milagre. “Sem fé é IMPOSSÍVEL agradar a Deus (viver uma vida santa, irrepreensível e sem mácula).” Hebreus 11:6.

Podemos ver, com bastante clareza, que os milagres contidos nas Escrituras Sagradas não foram escritos para somente louvarmos o poder de Deus, mas para nos fazer enxergar que o nosso problema espiritual só pode ser sanado como eram os problemas físicos, tais como a surdez, a cegueira, a paralisia, etc., os quais se acham no mesmo patamar da impossibilidade. Eles só poderão ser resolvidos do mesmo jeito – submetendo-se a um MILAGRE, como fizeram os portadores daquelas deficiências, naqueles idos.

Precisamos pedir a Deus para que Ele nos cure com o mesmo toque restaurador com que libertou a todos os que O procuravam. Devemos, entretanto, pedir com fé, em nada duvidando. E se assim o fizermos, Ele operará em nosso favor, seremos transformados instantaneamente em um novo ser que NATURALMENTE refletirá a Sua própria imagem e semelhança. Seremos colocados na mesma posição de Adão, quando antes da queda. Receberemos uma natureza que SUBSTITUIRÁ a velha, a escrava de Satanás. Poderemos dizer que “agora somos filhos de Deus.” I João 3:2. Teremos, então, entrado no Seu reino, e, por conseguinte, no Seu descanso, referido no livro de Hebreus.

Foi a esse maravilhoso episódio a que se referiu o profeta Ezequiel, narrado no capítulo 36, versículos 26 e 27 – o transplante divino. Lemos: “Também vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. Ainda porei dentro de vós o meu Espírito.” Deus não nos concede mais um coração, para assim ficarmos com dois. A narrativa é clara como o cristal – o nosso enganoso coração (Jeremias 17:9) é trocado, substituído por outro. Notemos que o Espírito Santo nos é concedido empós a permuta do coração pecaminoso pelo sagrado. E, em função disso, o autor sagrado nos relata o esperado efeito desse transplante: “... E FAREI QUE ANDEIS NOS MEUS ESTATUTOS, E GUARDEIS AS MINHAS ORDENANÇAS, E AS OBSERVEIS.”

No livro de Mateus, capítulo 15, versículo 19, Cristo nos evidencia que o coração é a nossa natureza pecaminosa, que precisa ser substituída. “Porque do coração procedem os maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituições, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.” Tal descrição se coaduna perfeitamente com as obras da carne, ou seja, as obras daqueles que ainda não nasceram de novo, declinadas em Gálatas 5:19 a 21. “Ora, as obras DA CARNE são manifestas, as quais são: a prostituição, a impureza, a lascívia, a idolatria, a feitiçaria, as inimizades, as contendas, os ciúmes, as iras, as facções, as dissensões, os partidos, as invejas, as bebedices, as orgias, e coisas semelhantes a estas, contra as quais vos previno, como já antes vos preveni, que os que tais coisas praticam não herdarão o reino de Deus.” E, devidamente inspirado, Salomão escreve: “DÁ-ME, filho Meu, O TEU CORAÇÃO.” Provérbios 23:26. Deus não pede o coração para refazê-lo, mas permutá-lo por outro que leve o homem a amá-Lo, a guardar os Seus mandamentos. A substituição é instantânea.

Ao que recorre a Deus em busca de cura, de uma nova vida, eis a promessa: “Este é o pacto que farei com eles depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei as minhas leis em seus corações, e as escreverei em seu entendimento”. Hebreus 10:16. Este é o novo ser, gerado de novo, que recebe um coração novo com a lei dentro do seu coração e inscrita em sua mente. Poderão dizer como Cristo: “Deleito-me em fazer a Tua vontade, ó Deus meu; sim, a Tua lei está dentro do meu coração.” Salmo 40:8. TAL É A JUSTIFICAÇÃO. É um novo começo para o que, arrependido, recebe um novo viver – o viver de Cristo, na pessoa do Espírito Santo. O Espírito Santo é dado ao novo crente, como garantia da salvação. Assim está escrito: “No qual (Cristo) também vós, TENDO OUVIDO a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, e TENDO NELE TAMBÉM CRIDO, FOSTES SELADOS COM O ESPÍRITO SANTO DA PROMESSA, O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus, para o louvor da sua glória.” Efésios 1:13 e 14.

Indago: qual o propósito, então, da teoria das duas naturezas do homem? Satanás sabe que se nossa vida se identifica com a narrativa de Romanos 7:14 a 23 e nela cremos como sendo a experiência de Paulo e não de Saulo, seremos facilmente influenciados a nos conformarmos com as mesmas dificuldades espirituais, vividas por nós em nossa experiência cristã. E aí está o perigo: se aquele quadro espiritual for de Saulo, todos os que estiverem enquadrados ali, estarão perdidos, se morrerem naquela condição espiritual. Paulo em Romanos 7:14 declara que ele É (presente do indicativo) carnal; já em Romanos 7:5, ele relata alguns incidentes dos idos de quando ERA (pretérito imperfeito) carnal. Se era carnal, então ele é espiritual, no presente. E aí: Paulo era carnal ou espiritual? Parece confuso, não? E ele é bem enfático quando diz “eu sou carnal, VENDIDO SOB O PECADO”. Nesse verso ele afirma ser escravo do pecado, porém em Romanos 6:18 e 22 nos assevera o oposto, que ele é escravo de Deus, LIBERTO DO PECADO; em Romanos 7:18 ele diz QUE NÃO CONSEGUE REALIZAR O BEM, mas nos assegura em Filipenses 4:13 QUE PODE TODAS AS COISAS em Cristo; finalmente, em Romanos 7:20 ele assere que o pecado HABITA nele, no entanto, em Romanos 8:9 ele diz que aquele em quem o Espírito Santo não habitar, ESSE TAL NÃO É DE CRISTO, ou seja, ele está afirmando veementemente que ele mesmo não pertence a Cristo. Inferência: ou Paulo está se contradizendo (e isto é plenamente impossível) ou estamos interpretando suas palavras erroneamente, e nos deparamos com um seríssimo problema. Nós não precisamos errar – Romanos 7:14 a 23 é a narrativa em que São Paulo expõe o seu problema espiritual ANTES de se entregar ao Salvador. Aquela desastrosa experiência pertence a Saulo de Tarso e não ao apóstolo São Paulo. Os demônios não lhe obedeceriam, não teriam dito acerca dele “e sei quem é Paulo” (Atos 19:15), se ele fosse seu escravo, como afirma em Romanos 7:17.

Esse mesmo versículo (Romanos 7:17) é uma gritante contradição se comparado com Gálatas 2:20. Veja abaixo:

“De maneira que, agora, já NÃO SOU EU QUE FAÇO ISTO, mas o pecado que habita em mim.” Romanos 7:17. Paulo atribui responsabilidade ao pecado por seu viver desobediente.

“... E vivo, NÃO MAIS EU, mas Cristo vive em mim.” Gálatas 2:20. Paulo, nesse verso, exprime a sua felicidade de não estar mais na degradada condição espiritual que vivenciava antes de sua conversão. Ele agora irroga sua nova vida à presença de Cristo no seu coração, através do Espírito Santo que nele habita, não mais o pecado.

Se somarmos essas duas passagens, como ficará nossa cabeça, se dissermos que é o mesmo homem? Complicada, no mínimo. Como ele, precisamos ser curados, para que assim possamos oferecer a Deus um sacrifício VIVO, SANTO e AGRADÁVEL, que é o nosso culto racional. Romanos 12:1.

Possamos dizer como São João em sua primeira epístola, no capítulo 4, versículo 17: “Nisto é aperfeiçoado em nós o amor, para que NO DIA DO JUÍZO (HOJE) tenhamos confiança; PORQUE, QUAL ELE É, SOMOS (agora) TAMBÉM NÓS NESTE MUNDO.”

Que Deus nos abençoe!

Edson Gonçalves da Silva

www.gotasdeconhecimento.com

Kowalsky
Enviado por Kowalsky em 23/06/2012
Código do texto: T3740209