Os anéis e os dedos

Apesar do postulado “científico”, que o homem é um mero produto da evolução natural, segue sendo, o único “animal” conhecido que vive o presente, passado e futuro, uma vez que apto a fazer escolhas abstratas. O passado toca com a experiência, o futuro com sonhos, esperança.

A opção, mais que uma preferência, traz também seu aspecto negativo; afinal, ao dizermos sim, a uma, em detrimento de outras, está implícito um não, a essas últimas.

Em muitos casos, porém, o direito de escolha nos é tolhido, onde nosso querer não conta; é a fatalidade, o acidente. Quase sempre, quando o valor maior, a vida, é preservado, aceitamos as demais perdas numa escolha “à posteriori”, e filosofamos resignados: Vão-se os anéis, ficam os dedos.

No caso do navio à deriva em que estava o apóstolo Paulo, houve possibilidade de escolha, e os “anéis” em questão, eram sacas de trigo, que foram jogadas ao mar temendo o naufrágio; estavam em jogo, pois, as vidas de 276 pessoas. Atos; 27; 37

E quando isso acontece é que mensuramos a importância dela. Até o próprio inimigo reconheceu o valor supremo da vida; “pele por pele, e tudo quanto o homem tem, dará pela sua vida”. Jó 2; 4

Contudo, esse excelso valor, é desconsiderado em tempos de calmaria, por causa da sensação, nem sempre veraz, de segurança. Tivéssemos consciência, que viver no pecado é derivar no oceano do existir, a espera do naufrágio na perdição eterna, e lançaríamos ao mar, todas as cargas que nos pesam, preservando o essencial, apenas.

Entretanto, o que se vê é um duro labor pela aquisição de mais cargas, e certo descaso para com a própria vida, e outras, que, nossa ingerência poderia influenciar para o bem, quiçá, para a salvação!

Nosso paradigma maior, o Salvador, ensinou-nos a andar na contramão do mundo; “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que permanece para a vida eterna…” Jo 6; 27 (não que não devamos trabalhar, é questão de prioridade, apenas) Pois, Ele, ao invés de dar tudo por sua vida, deu-a, em sacrifício pelo resgate de indignos, que somos nós.

Não nos redimiu com ouro, prata, ou outros bens perecíveis; contrário ao costume da época, onde reis validavam documentos firmando-os com seus anéis, fez sólida nossa remissão, selando-a com sangue, ao vencer a morte. E isso, (como disseram em certa ocasião, os magos de Faraó), é o dedo de Deus.

O hábito, enfim, de adiarmos decisões vitais confiados em aparente calmaria, é uma armadilha maligna, com a cumplicidade de nossas mentes; porque não existem escolhas “à posteriori” uma vez perdidos os dedos.

Rabelais, o poeta francês disse: “conheço muitos que não puderam quando queriam, porque não quiseram quando podiam”. E o ensino da Palavra, é categórico: “…hoje se ouvirdes sua voz, não endureçais vossos corações…eis agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação!” Heb 3; 7, 8 e II Cor 6; 2