A humildade dos pavões

Por ocasião da Semana Santa, muitos demonstrações de ”humildade” chegaram a nós mediante a TV. Em vários lugares, autoridades eclesiásticas deram-nos outra vez, o exemplo de Cristo, o Lava-pés.

Se não fosse a cegueira em que a maioria se encontra, isso soaria como um gesto obsceno. Um descarado exibicionismo. Acontece que a veraz humildade não visa chamar atenção, nem é ostensiva; apenas, quando as circunstâncias solicitam, ela comparece; alheia a admiração e aplausos. Mais ou menos como moeda de colecionador; preciosa pra se ter, mas, que não se usa pra comprar nada, tê-la já basta.

Se essas múmias coroadas que tanto gostam de holofotes fossem mesmo humildes, antes que ostentar títulos, vestes e honrarias, desceriam para a esfera comum do serviço. Desapareceriam da mídia, brilhando no céu.

Fácil é encenar a figura; difícil é ter a substância. A humildade por si só, chama atenção sem a pretensão do “humilde”. Assim como no matrimônio, o difícil não é colocar a aliança no dedo, mas, honrá-la; nesse caso, fazer um teatrinho é fácil, depois, impor-se embusteiramente às consciências que se quer manipular, é vergonhoso.

No caso do Salvador, o lava-pés, eram substância e figura juntas, afinal, Deus feito homem, já é a extrema humildade; além disso, precisava nos ensinar. Ademais, no contexto de então, que se andava em vias empoeiradas usando sandálias, lavar os pés, era uma necessidade prática, antes que uma exibição fútil.

Então, humildade hoje, seria socorrer às carências reais, de modo discreto, pragmático, atentando para o socorrido, não para a plateia.

Afinal, tanto a alegoria, quanto o significado, todos, bem conhecemos.

Porque, em tempos em que parece haver mais apóstolos& que pastores, e, antes que suplicar o favor do Senhor, determinam e ordenam a bênção; líderes eclesiásticos desfilam em blindados, e aqueles agem como se os homens pudessem mandar em Deus, humildade não é tão encontrável, infelizmente.

Precisamos lavar bem mais que os pés, e se for em público, que seja pra nossa humilhação; que, se outro bem não faz, é o antídoto mais eficaz do orgulho.

Pois, o deveras humilde sabe que ao cuidar de seu próximo, cuida de si, como ensina o Rabino Israel de Salant:”As necessidades materiais de teu próximo, são tuas necessidades espirituais.”

Quem sabe uma passada pelo tanque de Siloé, como aquele cego ao qual o Senhor misturando saliva ao pó, passou-lhe nos olhos, e ordenou que fosse se lavar… o pó poderia lembrar-nos o que somos; o que suja, e carece ser removido pela água da vida; do contrário o Senhor não teria ordenado: negue a si mesmo, tome sua cruz e siga-me (Luc 9; 23) a saliva do Salvador, figura a palavra que sai da Sua boca; Feito isso, antes de presumirmos ter sua grandeza, encenando como ELE o que deve ser, alegres contaríamos os Seus feitos; Ser e figura do que É. Imagem expressa de Deus.

Então, poderemos dizer como aquele cego: O homem chamado Jesus fez lodo, untou-me os olhos e disse-me: Vai ao tanque de siloé e lava-te. Então fui lavei-me e estou vendo”

“similar humildade é ser soberbo” Santo Agostinho