O santo problema

“...A favor dos vivos consultar-se-á aos mortos?

À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles.” Is 8; 19 e 20

Antes de qualquer argumento, quero patentear que encetarei um pleito entre verdade e mentira, e não entre religião A x B, o que, não raro, ofusca a lupa da investigação espiritual.

A pergunta Divina, “A favor dos vivos consultar-se-á aos mortos?” Tem, antes, um caráter retórico, que inquisitivo, e pressupõe um sonoro não, como resposta, sucedido por uma sentença de os defensores disso, andarem em trevas, ou ignorância.

Na parábola do rico e lázaro, houve um pedido de um “morto” para acessar a dimensão natural e advertir dos riscos da perdição; e, qual foi a resposta de Abraão? “...se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. –disse- Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite.” Luc 16; 30 e 31

As escrituras então existentes eram o meio de escapar, não a volta de um morto à vida, com as devidas instruções. Além disso, os “mortos que voltam” em determinados credos, jamais advertem do risco de perdição; de modo que, se tal não há, - o inferno - até esse “retorno” se revela inócuo. O contraditório disso tudo, é que tomam para si o nome de Cristo, sendo que Ele, falou mais sobre o inferno, a perdição, que o Céu.

O problema desse erro grave, não se restringe ao credo espírita, como pode parecer. Hoje recebi um e-mail com votos que “Santa Catarina da Escócia rogue por mim” (?) Quem? Admitindo que essa pessoa tenha vivido um dia, estaria morta agora, e a pergunta de Deus é: “a favor dos vivos consultareis aos mortos?”

Pois é, inevitavelmente caímos no problema dos “santos”. A qualquer deles que façamos o mínimo pedido, estaremos incorrendo em afronta ao preceito divino.

Os mais perfeitos que viveram, já não têm parte nessa vida... Mas, poderia sofismar alguém, “Deus não é Deus de mortos, mas de vivos”, o Próprio Jesus que disse. Certo. Vejamos o texto : “E, acerca da ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos declarou, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó? Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos.” Mat 22; 31 e 32

O contexto se refere à ressurreição, não à ingerência dos mortos, no plano dessa vida. No caso da oração aos “santos”, duas possibilidades apenas: Ou eles podem ouvir nossos pedidos, ou não. No primeiro caso, são como Deus, onipresentes, isto é, podem estar em todo lugar ao mesmo tempo, para ouvir qualquer oração; o que é blasfêmia, pois só Deus é assim; no segundo, são uma fraude, um auto-engano que funciona como válvula de escape, para dramas pessoais, que assim, deixam de ser apresentados a quem pode resolver.

Nem blasfêmia nem engano me interessam. Quando Paulo diz: “Comunicai com os santos nas suas necessidades,...” Rom 12; 13, ele está exortando a assistir aos irmãos necessitados no seio da igreja, esses, os santos vivos, com suas carências.

A defesa evangélica da ímpar mediação de Jesus Cristo, dia desses mereceu-nos a pecha de otários nos lábios de certo padre. Segundo penso, sem consultar ao amansa-burros, tal, - o otário - é um simplório, descuidado, fácil de enganar.

Imagine que o governador me abra as portas para uma audiência que necessito mais que tudo, e eu prefira falar com assessores que nada decidem; se tal fizesse, seria um otário. Afinal Jesus Disse, vós, orareis assim: “Pai nosso...” Puxa, mandou direto ao governador, apenas ressalvou que se rogasse em Seu próprio nome.

Só um estúpido faria o mesmo trabalho duas vezes, podendo ser feito em uma; quando oram aos “santos” para que roguem por eles, as pessoas estão orando por oração (?)... Ora, como diria Geraldo Vandré: “quem sabe faz a hora, não espera acontecer.”