eminente fracasso

Crônica

EMINENTE FRACASSO

Ela sempre encontrava mágoas no seu coração amargo e desiludido. Espelhou-se outra vez em seu amado, o homem já se sentia amargurado pelas dores e desenganos da vida. Seu péssimo senso de humor contagiava a esposa, e só assim a mulher descobriu que tudo era culpa dele, da mesma rotina, da mesma arrogância, da hostilidade perante os filhos, talvez por isso, eles teriam casado tão cedo, teriam abandonando-os por sentirem-se magoados e atropelados pela vontade dominadora dos pais. Filhos esses que não tiveram a opção de escolha, tudo havia sido planejado por eles, suas diretrizes conturbadas os fizeram esquecer dos seus próprios sonhos. Felizmente agora a filha estava formada e bem casada, enquanto que os dois filhos, nada a mãe sabia deles. Mas a vida seguia seu curso e nem mesmo no natal aquele casal recebia a visita dos filhos. A mulher sentia na pele as dores do fracasso onde não houve apaziguamento, nem parceria de ambos, muitas vezes ela se questionava tentando ver aonde erraram e qual seria a causa de tanta amargura. A mulher meditava na possibilidade de pelo menos a filha justificasse sua ausência com um simples telefonema, um recado, uma inquestionável explicação. Mas não, seu silencio doía naquela mãe abatida, enquanto ele, um pai amargurado e sem pretensões de questionamentos, se guardava naquela cadeira o dia todo, pois para ele nada mais importava. Talvez a doença já tivesse o expelido da realidade e ele não tivesse mais a mesma preocupação de outrora. Porém a mãe ainda lúcida, sempre impaciente passava horas a reclamar, revivendo as lembranças como forma de amenizar o sofrimento e buscar fundamentos para suas conclusões precipitadas. Lembrava ela dos seus três filhos ainda pequenos e com a boneca nas mãos a filha corria nos quatro cantos da sala. Recordava ainda dos poucos momentos que iam para a igreja, os dois pequenos ficavam maior parte do tempo brincando com os coleguinhas na rua. O pai jamais dava atenção aos filhos, e quando pressentia que estava perdendo o controle da situação, demonstrava sua toda autonomia com chicotes ou palmatórias muitas vezes a ponto dos vizinhos intervirem. As lágrimas desciam no rosto da idosa, e pra ela a vida já não mais tinha sentido. Maldizente, ela se contraiu num cantinho da casa e minutos depois o casal de velhinhos foram encontrados mortos, ela tinha dado algo para o marido também beber. Em seguida, desesperados, chegam os filhos e sem sequer cair uma lágrima do rosto um deles questiona: Por que meu Deus?

Essa crônica deixa um recado aos pais, e questiona se estamos sendo prudentes na criação de nossos filhos. Que tipo de alimento estamos os alimentando? Precisamos ensinar aos nossos filhos as verdades que os levarão ao caminho certo.

ARTESGS
Enviado por ARTESGS em 15/02/2012
Reeditado em 15/02/2012
Código do texto: T3500402