PECADO CONTRA NÓS MESMOS
Somos máquinas, embora muitas vezes digamos que não, e, como tal, devemos seguir as regras de uso, do contrário nos causamos danos debilitantes, ao que chamamos doença, requerendo reparos e culminando na inatividade, ao que chamamos morte. Aí é quando a máquina de ferro é depositada na sucata, onde o tempo e a natureza, ao custo de muitos anos, encarregam-se de decompor-lhe os elementos, transformando em elementos primários. De igual modo, nosso corpo falido é posto na terra, que o transforma em elementos primários, fazendo voltar à forma de terra.
Viver é precisamente usar a máquina de produzir vida – o corpo. Vida é unicamente a atividade de funcionar do corpo (que funcionando produz funcionamento), que é produzir a força que faz funcionar cada componente (órgão) em particular e todos em conjunto, fazendo funcionar o sistema, incluindo o cérebro, que gerência o funcionar do sistema e produz o saber de que se está existindo. O mau uso da máquina do corpo em funcionamento, ou de algum de seus componentes em particular, debilita o sistema, que é obrigado a concentrar maior operação na região debilitada e dedicar-lhe mais energia para restabelecer-lhe as funções, sofrendo pela carência do trabalho daquele órgão e pelo maior dispêndio de força no restaurá-lo.
A máquina de ferro inativa que vai para a sucata é substituída por outra produzida numa fábrica organizada, suprida e operada por forças alheias às máquinas que lá são produzidas. Sendo que a debilidade da máquina falida não será transmitida a sua réplica pelo trabalho débil da primeira em mal produzir a nova, deixando-a com defeitos que lhe acarretarão mal funcionamento. Mas, ao contrário das máquinas de ferro, os seres vivos (as máquinas animais, que somos) são a própria indústria em que se produzem novos exemplares, produzidas pelo próprio organismo da máquina matriz, que é organizada, suprida e operada por sua própria força, copiando ao máximo a forma da matriz, formando a réplica com a estrutura básica original da matriz, alterada, porém, pelas alterações estruturais sofridas pela mesma durante a vida.
Por exemplo: Fazendo-se uma cavidade na matriz de injeção de uma garrafa plástica se produzirão garrafas com uma protuberância. A alteração será transmitida para todas as réplicas. Da mesma forma são os humanos, bem como os animais. As agressões acumuladas no organismo provocam alteração no código genético e os filhos nascem com tendências e potencialidades para desenvolver doenças e hábitos relacionados com os costumes e atitudes dos pais, avós e antepassados distantes. A tais coisas chamamos doenças hereditárias. Nisso tudo falamos apenas de transmissão física, sem contar a transmissão cultural.
Quando pecaram, como é dito que fizeram, Adão e Eva não bateram, não quebraram, não rasgaram, não espetaram, não praticaram fisicamente qualquer coisa incorreta em si, ou em alguém. Apenas agiram de forma independente das orientações de Deus, ignorando o modelo de ação, que é Deus, que toda ação leva em conta o interesse e equilíbrio coletivo, não apenas o seu próprio. Ao lançar mão da fruta e comê-la, Eva satisfez sua curiosidade feminina natural, aguçada pela propaganda mirabolante do inimigo encarnado na serpente. Quis adquirir conhecimento que, julgou, pela propaganda, lhe daria posição e autoridade, provendo meios para ir mais longe, podendo ser como Deus, provendo a si mesma tudo o que desejasse, sem a menor restrição.
De fato, o grande pecado humano tem sido trabalhar ao máximo por benefícios pessoais, ignorando e superando tudo e todos que lhe restrinjam as ações, ignorando todo limite (Deus e Sua Lei têm sido os limites mais constrangedores), mesmo os que garantem aos outros usufruir dos benefícios a todos outorgados pela simples existência e estadia no mundo, seja o espaço (distribuição de terras), o ar, a água (ecologia), o mantimento, a vestimenta, o abrigo (justiça social), a felicidade, a liberdade, a segurança e a existência (igualdade). Todo limite transposto produz prejuízos para o indivíduo, para terceiros e para o mundo.
Adão, por sua vez, pecou movido por uma aparente boa intenção – remediar a situação que Eva se colocara. Pensou que assumindo com ela a culpa a protegeria de Deus, a quem julgou um tirano de plantão, pronto para extrapolar as intenções sanguinárias na derradeira chance. Agiu sem considerar o padrão acertivo de Deus, pois julgou-O, pisando seus próprios princípios, pois conhecia a quem julgava, mas o fez com base na opinião da mulher, que a ouvira da serpente, uma desconhecida. Quis resolver a situação por seus meios, sem saber que somente inocente poderia interceder por quem tem culpa. Tendo então pecando também carecia de quem por ele intercedesse. Mas, em última análise, sua atitude em pecar com Eva mostrou verdadeiro egoísmo, pois amou a si mesmo acima de Deus, querendo garantir para si a mulher e amando-a também acima de Deus. Em geral os homens rompem com Deus quando não podem conciliar a mulher com o Criador.
Ao amar alguém acima de Deus não se ama esse alguém nem mesmo como a si mesmo, pois atitudes fora do padrão acertivo de Deus produzem efeitos negativos, que produzem sofrer. Também não é amor produzir a alguém um benefício cuja ação cause prejuízo a outro.
Todavia, se Deus ama a todos e Suas ações sempre levam em conta os interesses de todos, mesmo tendo pecado Eva estava sob o amor de Deus e Ele tinha um recurso para anular o continuo efeito negativo da atitude independente por ela tomada. A Adão bastava esperar e seguir as orientações de Deus.
Mas até aí parece que em efeitos práticos e físicos a ação independente de comer a fruta não causara efeitos negativos contra Adão e Eva, o que chamaríamos de pecado contra nós mesmos. Todavia, abriram precedente em independer-se das normas acertivas de Deus e daí para a frente seria sempre mais fácil romper o limite para satisfazer os interesses pessoais, como o empresário viciado em explorar seus cooperadores, retendo para si lucros e benefícios exorbitantes. De qualquer forma, causaram efeito negativo contra si próprios sim, pois já não se sentiam bem na presença de Deus, ressentindo-se que viesse a puni-los, por isto afastavam-se, privando-se de Suas orientações, com que evitariam atitudes agressivas contra seus corpos e mentes e contra a natureza, vivendo muito mais do que viveram. Sem contar que o ressentimento produz células cancerígenas, agregando morte a morte natural das células, que eram repostas uma a uma, mas então as células debilitadas pela agressão do estresses já não conseguiriam repor o número de células mortas, que então era maior. No ciclo da vida a reposição começava a perder para a perda. Tinha início o declínio, que culminaria na morte.
Porém, contudo que aparentemente não sofreram efeitos negativos dessas primeiras ações independentes das normas de Deus, o ambiente sofreu, pois para que não fossem mortos imediatamente, como requeria a lei universal a fim de prevenir o declínio em cascata, um cordeiro morreu, sofrendo o efeito negativo da ação inadequada. E, tendo aberto precedente, por mais que o primeiro casal não mais repetisse a transgressão, seus descendentes a praticariam cada geração mais que a antecessora, vivendo conforme melhor lhes parecesse, buscando benefícios que lhes produzissem prazeres imediatos, mais intensos e contínuos, como:
* SABORES NOVOS, AGUÇADOS E EXCESSIVOS. Experimentação de inúmeras substâncias como alimento, consumindo em maior quantidade principalmente os mais contaminados e prejudiciais a saúde por apresentarem melhores sabores. Muitos prejuízos à saúde resultariam do consumo de alimentos impróprios, produzindo a morte de indivíduos e causando defeitos nos genes transmitidos para as gerações futuras;
* SENSAÇÕES ALUCINANTES. Seriam produzidas bebidas além da água e sucos das frutas, acrescentando-lhes sabores novos e fermentação, resultante da putrefação, tornando-as alcoólicas, prejudiciais a moral, produzindo insanidade e morte. O uso dessas substâncias também causaria deformações nos genes, lançadas para as gerações futuras, somando-se com outras deformações ao longo do processo reprodutivo, reduzindo a estatura das pessoas bem como a longevidade da vida;
* PRAZERES SEXUAIS EXTREMOS. Variação de parceiros sexuais e praticas excessivas em busca de maior libido e sensações excedentes ao normal, não encontrando limite para a busca de prazer, resultando em degradação da família e da sociedade por conseguinte, doenças, filhos órfãos de pais vivos, abandono, miséria e morte, sem contar a deturpação da cultura familiar, extinguindo o conceito por completo;
* DOMÍNIO SOBRE OS HOMENS. Pelo desejo de acumular mais bens para que alguns se sentissem mais seguros, muitas pessoas seriam escravizadas e a mão-de-obra livre explorada de forma predatória, retribuindo ao trabalhador muito menos do que precisa, menos ainda do que merece, quando muito uma ração básica. Assim se formariam fortunas fabulosas para poucos enquanto a maioria da população estaria sujeita a miséria, a vergonha e a fome, ressentindo-se, produzindo revolta e indignação, promovendo guerras, revoluções, assaltos, seqüestros, mortes, terrorismo e uma série de atitudes com que demonstram seu repúdio.
* MAIOR DOMÍNIO DOS RECURSOS NATURAIS. Pelo desejo de domínio econômico muitos exploraria de forma sega a natureza em busca de riquezas. Sem contar quantas mortes de seres humanos ocorreriam pelo bem dessa exploração predatória, a natureza seria degradada, não conseguindo recompor-se, perdendo a capacidade de produzir e manter sua diversidade curativa e mantenedora da humanidade, equilibrar os fenômenos naturais, como o clima, e restaurar o ar, resultando em super aquecimento, falta de água potável, desertificação, derretimentos das geleiras, produzindo tornados, tufões, tempestades de granizo, terremotos, vagalhões, etc, tudo isso reduzindo drasticamente a produção de alimentos;
* CONFORTO. Para que se pudesse ficar mais tempo sem trabalhar se romperiam com muitos limites, produzindo efeitos negativos contra os indivíduos, contra os outros e contra a natureza. Seria praticamente impossível encontrar um item de conforto não prejudicial ao indivíduo e à natureza. Por eles, em primeiro lugar os seres humanos se tornariam sedentários, convivendo com o colesterol, com a pressão alta e baixa, com o derrame cerebral, o infarto, o câncer, o diabetes, sem contar a poluição do ar produzida por carros e indústrias, pelo que os seres humanos sofreriam com infecções respiratórias e otites; a poluição sonora, reduzindo a audição, e a poluição visual, que nos agrava o estresse. As ondas de rádios das torres e dos celulares causariam câncer, os tubos de imagem dos computadores e televisões prejudicariam a visão, os refrigerantes produziriam males ao fígado, produzindo também celulite; os pneus se tornariam uma poluição da qual não haveriam como se livrar. Sem contar que com aparelhos domésticos aumentariam o aquecimento global, além de uma infinidade de causas e efeitos negativos que precisariam de um livro para serem enumerados, como os acidentes de trânsito e aéreos, naufrágios e efeitos catastróficos dos remédios químicos, que por todas assas coisas os seres humanos seriam obrigados a usar em excesso.
Tudo isto iria desencadear reações em cadeia, tornando a Natureza e as pessoas agressivas em extremos, chegando ao perigo de extermínio eminente que preocupa a humanidade. Passado algum tempo, não mais seria possível saber a origem desses males, então cada vez mais se tentaria remediar os efeitos com pesquisas científicas e remédios mais avançados, agravando ainda mais os efeitos negativos a acelerando a degradação. Para solucionar a criminalidade se usariam novas repressões sempre mais nocivas, mas a seu tempo essas novas repressões produziriam seus efeitos ainda mais destrutivos, bem como as catástrofes da natureza e da sociedade se tornariam sempre mais destrutivas, pondo o sistema em colapso irreversivel, como as pesquisas anunciam. Todavia, a sociedade apenas pretenderia remediar os efeitos, mas sem jamais deixar de produzir as causas, que é romper com os limites que garantem benefício a todos.
Na forma de bumerangue, todas essas ações independentes da vontade de Deus produzem efeitos negativos que retornam produzindo efeitos negativos nos próprios causadores, em seus filhos, netos e descendentes, sendo assim pecado contra só mesmos.
Wilson Amaral
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