Dois Senhores

Dois Senhores
Jorge Linhaça

Em meio à nossa jornada mortal deparamo-nos diaraiamente com escolhas a serem feitas, das mais contundentes às mais simples.
Cada escolha que fazemos determina o caminho a seguir doravante, por mais ínfima que nos possa parecer a escolha da vez ela passa a fazer parte de nossa história e de nossa personalidade.
Para exemplificar o que digo, pensemos em uma pessoa que sai de sua casa, logo que atravessa o portão ela pode escolher entre ir para a direita ou para a esquerda, ou até mesmo atravessar a rua.
Seja qual for a escolha, poucos passos adiante outra escolha deverá ser feita sobre o caminho a seguir e assim sucessivamente.
Podemos escolher se vamos trabalhar ou não, se vamos a pé, de transporte público, de bicicleta, de carro, de moto...se vamos sozinhos ou acompanhados, se vamos meditando, lendo, conversando ou até mesmo dormindo. Escolhemos se subimos no primeiro ônibus que aparece ou se esperamos um menos cheio...
O Livre arbítrio, embora nos forneça o direito de escolher o que desejamos fazer, ao contrário do que pensam alguns, não nos permite escolher as consequências de nossas escolhas.
Se escolhemos não comparecer a uma valição escolar, por exemplo, não podemos escolher se o professor nos dará uma boa nota, pelo contrário, devemos arcar com as consequências dessa escolha e tomar consciência de que nossa nota será um redondo e sonoro zero.
Ao longo da vida, levados pelo desejo de "fazer parte" de um ou outro grupo social, muitas vezes abrimos mão de nossos valores e crenças, achando que isso não nos afetará mais adiante.
Ledo engano!
Afstar-se de Deus ou de nossos princípios não é algo que acontece da noite para o dia, a não ser em algum caso extremo, mas sim resulta da soma de pequenas ações ou inações que sózinhas nos parecem por demais insignificantes.
Acompanhar a maré , sabendo que a mesma não é nosso caminho, apenas porque outros o fazem, distancia-nos de nossa praia e pode nos levar a um naufrágio ou afogamento.
Podemos nos sentir plenamente seguros ao adentrar um mar desconhecido, confiando na nossa capacidade de nadar, no entanto não podemos prever se teremos cãimbras mais adiante..
Se a escuridão nos surpreende em meio ao mar da vida, perdemos a referência e, não podendo avistar a praia, podemos acabar por nadar para o mar aberto achando que estamos indo para um porto seguro.
No caso da vida espiritual, não é diferente, podemos perder-mo-nos entre as ondas dos modismos e dos aplausos dos desnorteados e nos afogarmos entre as tentações do cotidiano.
Resta-nos, no entanto, a possibilidade de buscarmos ver aquele farol que nunca se apaga, de procurar lá ao longe a luz que pode nos guiar para fora dessas trevas em que nossa alma possa estar envolta.
A Luz divina jamais se extingue totalmente no peito dos homens e ainda que, por vezes, apenas bruxuleie é nela que reside a oportunidade de retomar o caminho esquecido.
Uma luz bruxuleante é aquela que a vela faz quando está para se apagar enquanto o pavio é praticamente consumido.
Diferente da luz da vela a centelha divina jamais se apaga, por mais que a sepultemos sob os escombros de nossa inconsciência e inconsistência.
Cabe ao homem escolher caminhar na luz ou cambalear nas trevas, no entanto, ao contrário do que o mundo parece nos dizer no dia-a-dia , é impossível andare com um pé em cada caminho, é impossível servir a dois senhores...principalmente quando seus valores são tão distintos quanto a água do óleo.
Não há como ser honesto pela metade, não há como ser verdadeiro pela metade ( uma meia verdade é uma mentira inteira) não há como ser mais ou menos correto.Ou somos ou não somos.Se pensamos o contrário enganamos a nós mesmos e combatemos contra nós mesmos sem nos darmos conta.
Parar, refletir, ponderar e analizar com cuidado nossas ações pode nos dar a verdadeira dimensão de nosso comprometimento ou da falta do mesmo.
A falta de valores e de comprometimento real é que gera uma série de distorções sociais que consideramos absurdas quando tomamos conhecimento mas para as quais contribuimos diariamente.
Alguém pode negar que a licenciosidade sexual gera miséria, famílias desfeitas, proliferação de doenças, violência e outras mazelas?
A Gravidez na infância e na adolescência gera que tipo de filhos?
Qual será o futuro de uma criança , nascida do roubo de uma infância ou adolescência, do roubo do futuro de sua mãe?
Nossas escolhas não afetam apenas a nós mesmos, nossas escolhas se perpetuam nas vidas daqueles afetados por elas.
Quem usa drogas não agride apenas a si mesmo, atinge em cheio a integridade da família e daqueles que se importam com ele. Não existe essa de " se uso drogas o problema é meu"...não é...o problema é dele mas de todos ao seu redor que podem ser afetados por isso a qualquer momento.
Tudo está intrinsecamente ligado, nossas vidas estão emaranhadas em outras vidas em maior ou menor amplitude, sem que ao menos nos demos conta disso.
Devemos portanto escolher...podemos ser farol ou escuridão para nós mesmos e para os que nos cercam.
Que cada qual examine a si mesmo e decida hoje o caminho que pretende seguir.