Sabor de "profeta velho"
“E ele lhe disse: Também eu sou profeta como tu, e um anjo me falou por ordem do SENHOR, dizendo: Faze-o voltar contigo à tua casa, para que coma pão e beba água (porém mentiu-lhe).” 1 Reis 13:18
O anônimo profeta vindo de Judá cumprira com perfeição a ordem do Senhor. Entregara a dura sentença ao apóstata rei Jeroboão, e assentara-se sob uma árvore para repousar. Mas, o novo “ungido” trouxe uma “circular” Divina onde se anunciava mudança de planos; o que fora vetado ao profeta, agora era franco. Poderia comer e beber que não ia dar mais nada.
Os caçadores de “contradições” bíblicas dizem que, por um lado, Deus afirma que não muda, por outro, mudou, no que se refere ao juízo de Nínive, por exemplo. Ora, quando o homem muda sua postura, necessariamente Deus muda o juízo, uma vez que não abdica de seu amor pela justiça, bem como seu ódio pela iniqüidade. Ele mesmo deixa claro isso; “No momento em que falar contra uma nação, e contra um reino para arrancar, e para derrubar, e para destruir, se a tal nação, porém, contra a qual falar se converter da sua maldade, também eu me arrependerei do mal que pensava fazer-lhe.” Jer; 18:7-8
Agora, no exemplo supra, Deus, depois de ordenar expressamente que o profeta entregasse seu juízo e fosse por outro caminho, diverso do que viera, sequer deveria comer ou beber naquele lugar, para patentear a aversão do Senhor de modo simbólico; nesse caso, o “anjo do senhor” teria alterado a ordem mediante outro profeta? Ora, quando o rei reagiu com soberba mandando prender o homem, Deus fez secar sua mão e paralisar seu braço, de modo a assinar o que mandara dizer no tocante ao rei, agora estaria tendo novas idéias? Admirável ingenuidade do profeta novo!
Uma tendência humana é a auto-indulgência de modo a pensar que Deus seria severo com outros, e tolerante conosco; Jesus ensinou diferente: “Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós.” Mat; 7:2
Fora a higiene espiritual da nação que movera a mão de Deus, então, estaria tão interessado no bem estar do enviado a ponto de se contradizer. O irônico foi que o profeta velho foi o “novo”, o portador da nova opinião “de Deus”; o que fez o incauto mensageiro descumprir o que recebera e cuidar de seu ventre em prejuízo de seu espírito. Consumada a desobediência, o mesmo mentiroso foi convocado pelo Espírito de Deus, a dizer a verdade e anunciar o juízo de morte ao imprudente.
Ele poderia usar essa credencial como “testemunho” para arrecadar ofertas para seu ministério, afinal, falou e Deus cumpriu; mas, permanece o fato que era um mentiroso, e traiu seu irmão a ponto de lhe causar a morte. Claro que essa parte ele não mostraria no seu programa de TV, só a profecia e o funeral do infeliz traído por ele.
A Palavra jamais menciona recompensa ou julgamento a partir dos dons, antes, sempre refere-se aos frutos. Diariamente milhares de incautos desfilam na telinha falando dos dons dos “profetas velhos”, enquanto em paralelo, suas indisfarçáveis motivações mercantis mostram descarada ausência de caráter em suas fuças, e verdade em seus ensinos.
Aliás, isso de trocar a mensagem da cruz pela satisfação pessoal foi vaticinada por Paulo, na verdade, identificada, já em seus dias. “Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas.” Fil; 3:18-19 Os “anjos” que instigam aos “profetas velhos” de hoje, provêem de caminhos diferentes que os servos do Senhor.
Já é uma falta de identidade espiritual o crasso culto às personalidades góspeis de hoje, mas, mesmo que tivessem ante O Senhor a estatura que figuram aos cegos que os paparicam, não estariam autorizados a cambiar uma vírgula do que foi dado, o que o mesmo Paulo advertiu: “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema.”Gál. 1:8 Jesus tratou dos pecados de um paralítico antes de pensar em sua saúde, para evidenciar que para Deus, nossa pureza importa mais que nosso prazer e bem estar. Qualquer ensino que inverta isso, é fraude com sabor de “profeta velho”.
"É sem dúvida mais fácil enganar uma multidão do que um só homem." (Heródoto)