A armadilha do casamento
O casamento pode ser uma armadilha. Não foi difícil chegar a essa conclusão, mesmo estando cônscia do valor do matrimônio e acreditando que é possível sim, permanecer casados e felizes, mesmo após anos de relacionamento. Tenho exemplos vívidos disso.
Compreendi, no entanto, que o casamento passa a ser uma armadilha para algumas pessoas. Aquelas que acreditam, ainda que de modo inconsciente, que o matrimônio é uma espécie de conto de fadas, ou ainda a solução para problemas de vazios existenciais.
Está mais do que provado que nenhum relacionamento, por mais completo que pareça ser, traz completa felicidade. Com toda certeza, somente Deus em sua plenitude pode preencher qualquer vácuo que exista no interior do homem.
Infelizmente, muitos que até afirmam essa realidade não creêm de fato e findam por fazer do casamento a tábua de salvação de suas vidas.
Cito dois exemplos reais. Conheci duas mulheres, ambas extremamente desejosas de casar e de encontrar o seu "príncipe encantado". Pareciam quase sempre desanimadas, tristes, apesar de professarem a fé cristã. Suas vidas eram uma espécie de gangorra, cheia de altos e baixos. Estavam quase sempre com um semblante carregado de uma estranha tristeza.
Até que, finalmente casaram e perceberam que o príncipe, não era tão príncipe quanto parecia, e o conto de fadas, transformou-se num verdadeiro drama. Na verdade, tornaram-se reféns de suas próprias ilusões.
A tristeza continua lá, exatamente como antes. Nada parece ter mudado... Nenhum novo sorriso, nenhuma alegria contagiante. Nenhuma aparente felicidade. Nada! A sensação que tenho é que a tristeza parece ser ainda maior. Até mais visível, mais aparente.
Entendi pela experiência das duas, e de tantas outras, que o casamento não deve ter apenas o efeito complementar. Não casamos somente para preencher alguma necessidade, algum vazio, mas também para fazer o outro feliz. Somos sim, criaturas frágeis, carentes. No entanto, vale lembrar que ter alguém ao lado pode até amenizar essa carência, mas jamais supri-la.
É uma relação de cumplicidade, de doação, de entrega. Não uma atitude egoísta de apenas querer algo.
Por fim, o casamento deve ser fruto de uma decisão consciente dos riscos que há em conviver, em estar junto. É querer o outro, apesar de saber que não se trata de um personagem imaginário, mas de alguém real, comum e cheio de fraquezas e diferenças.
É compreender que casamento não é a emoção que acontece no altar, nem alegria passageira da festa, e sim as lutas que se travam no dia a dia, por se tratar de duas pessoas diferentes compartilhando as mesmas coisas.
Se não for assim, o casamento será sempre uma perigosa armadilha, que continuará fazendo desses sonhadores, suas legítimas presas.
Sil Sales.