GUARDAR O SÁBADO NÃO É OBRA, É GRAÇA, É DESCANSO
Guardar o sábado não é tentar substituir o sacrifício de Jesus em nosso favor, é desfrutar do benefício resultante desse sacrifício. O descansar no sábado não substitui o sacrifício e este não extingue o descanso, pois nosso corpo e mente sempre precisarão descansar e se refazer. Deus já dera o sábado no Éden (Gênesis 1:1-3) e sua guarda não era um meio para alcançar salvação, haja vista que Adão e Eva já desfrutavam do benéfico de descansar no sétimo dia da semana bem antes de existir o pecado e a necessidade de sacrifício. Ao contrário de o sábado substituir o sacrifício de Jesus, ele é justamente Deus nos livrando de nosso próprio sacrifício, assim como Jesus nos livrou na cruz. E, justamente o sacrifício de Cristo na cruz por nós produz descanso eterno para nós – o descanso da culpa (da consciência) e das obras. E o descanso, a paz, o paraíso da tranqüilidade é experimentado em pequenas porções já antes que Cristo volte através do descanso e comunhão sabáticos, que revigoram nossas forças e fé, estendendo o efeito do sábado e a proximidade com Deus até o próximo dia em que estaremos exclusivamente com Ele em outro sábado.
Porque todo o tempo está dentro do período de tempo que compõe a eternidade, os que vivem salvos – os salvos vivos, já experimentam a eternidade desde já através do sábado que é a presença mais intensa e mais vivificante de Deus semanalmente, visto que alguns não experimentarão mesmo a morte. Em Isaías 66:22-23, a Bíblia diz que para os salvos a eternidade será um sábado permanente. Embora que nos paradisíacos dias semanais da eternidade haverá trabalho gratificante, um dia a cada sete será dedicado ao descanso, prazer requintado absoluto e permanência exclusiva e intensa com Deus, com os salvos e os anjos, sendo sábado plenamente. Logo, se não gostamos do descanso pleno do sábado, se não dedicamos um dia a experimentar como será a paz e a despreocupação na presença de Deus no Paraíso, naturalmente “não amamos a Deus acima de todas as coisas”, “não amamos nosso próximo como a nós mesmos” (Lucas 10:27 e João 13:34), e não gostaremos da eternidade.
O sacrifício de Jesus é o meio de Deus para restabelecer nosso relacionamento com Ele. Perdoar e pagar por nossos pecados é a forma como Ele rompe o muro de vergonha e ressentimento que nos impede de chegar perto dEle. Aproximarmo-nos do Criador, ao desfrutar o descanso do sábado, é efetuar mais plena e efetivamente essa reaproximação e desfrutar da paz e refrigério resultantes do sacrifício de Cristo, estendendo esse efeito através dos dias da semana seguinte, quando nos dedicamos mais a nossos interesses, até a próxima aproximação mais íntima e intensa no próximo sábado. Muito mais que uma exigência divina, o sábado é uma dádiva, assim como o é a morte de Jesus, que também é uma exigência para o perdão de nossos pecados. O sábado dependeu do sacrifício para continuar sendo um paraíso apesar do pecado. Ambos, porém, o sacrifício e o sábado, dependem um do outro para surtir efeito, sendo que um é a tipificação do outro e a prática de ambos é a consumação da graça. O sábado tipifica o sacrifício de Cristo e o efeito libertador e salvívico desse sacrifício, enquanto o sacrifício de Cristo representa o descanso e refrigério da presença de Deus que são os sábados e o sábado eterno, pois aí a presença de Deus é intensa.
O sacrifico de Cristo, portanto, não foi feito para abolir a Lei (Mateus 5:17), mas para extinguir o pecado, pois a Lei não produz pecado, mas o transgredir a Lei produz. O sacrifício de Cristo foi para nos livrar do efeito do pecado, que é obstruir nossa comunhão mais íntima com Deus, que é sábado, pois sábado é o dia da presença mais plena e intensa de Deus desde a Criação, quando Deus passava o sétimo dia todo com Adão e Eva no Paraíso e não somente vinha à tardinha, como nos demais dias semanais. E, por não estarmos mais intimamente na presença intensa de Deus no sábado, nos afastamos dele também nos momentos em que Sua presença não é tão sentida por nós e por nos afastarmos dEle é que pecamos.
Quando estavam no Paraíso, nossos primeiros pais não precisavam do sacrifício de Cristo, pois os pecados que não praticavam não os afastavam dEle. Eles viviam num eterno sábado, pois sábado é a presença de Cristo e Ele vinha todas as tardes para conversar com eles e por isto suas vidas e morada eram paradisíacas – paraíso em todos os aspectos. Ainda assim, guardavam o sábado do sétimo dia, pois nesse dia desfrutavam por todo o dia da presença do Criador e essa presença mais longa e intensa fazia esse dia ainda mais prazeroso que os outros, sendo ele um paraíso pleno e desejável, tornando a presença de Deus cada dia mais desejável. Depois que pecaram (e então todos pecamos), seu pecado afastou-os de Deus e os pecados contínuos passaram a afastá-los todos os dias e cada vez mais de Jesus por causa da vergonha e ressentimento resultantes da culpa. E isso se tornou um fardo para eles, afastando-os cada vez mais do paraíso que antes eram suas vidas. E por isto foram se fatigando cada fez mais e tornando-se sempre mais escravos de seus pensamentos, ressentimentos e cuidados para com a vida e sua manutenção, pois esse afastamento fazia que se sentissem cada vez mais sozinhos e contando somente consigo mesmos. Mas, para que não abrissem mão da presença do Criador durante os dias da semana, apostatando de vez por afastarem-se da presença mais intensa de Deus e o efeito mais restaurador e revigorante dessa presença no sétimo dia da semana, Jesus logo lhes indicou o perdão e remissão de seus pecados através Seu sacrifício vindouro na cruz, pagando por suas culpas imediatamente através dos sacrifícios d cordeiros e tirando-lhes o medo de aproximar-se dEle. Isso os libertou de sua culpa e pararam de fatigarem-se com tantos cuidados com a manutenção da vida. Assim, quando faziam sacrifícios de cordeiros, eles reviviam o sábado da presença de Deus e, ao meditar durante o dia inteiro de sábado em todas as Suas obras, adorando-O em oração e através da comunhão com os semelhantes, Eles reviviam o prazer de Sua presença e isto fazia que mais a desejassem até o próximo sábado mesmo através dos dias semanais, cujas atividades, cuidados e preocupações mais afastam o ser humano de Deus.
Se guardar o sábado fosse o meio para esse perdão e remissão de seus pecados (como muitos dizem que guardar a Lei era a forma de alcançar perdão e salvação na “Velha Aliança”), Deus não teria mandado que sacrificassem cordeirinhos tipificando dia-a-dia a morte de Cristo até que ela se consumasse. Ele teria dito apenas que continuassem santificando e guardando o sábado, o que eles já faziam, e esse ato comum a eles não indicaria quão grave é o pecado ao ponto de requerer a ação emergencial e extrema do sacrifício de Cristo. Mas Deus não o fez, pois somente com o sacrifício de Jesus através dos cordeiros eles poderiam retornar a presença de Deus diariamente e estar mais intimamente com Ele durante um dia na semana, revivendo aquele tempo paradisíaco quando Deus vinha todas as tardes e passava o sétimo dia todinho com eles. Sem esses sacrifícios, eles nunca mais teriam isso, pois seus pecados faziam separação entre eles e Deus, impedindo de se encontrarem e estiarem juntos. Ou seja, somente através do sacrifício de Jesus eles (e nós, por conseguinte) poderiam desfrutar novamente da presença de Deus e, “até que venha a plenitude do tempo”, desfrutaremos dessa presença “como que por espelho”, em pequenas porções na paz do descanso e refrigério dos sábados, recarregando nossa fé e forças com essa exclusiva e intensa presença de Deus e assim podendo estender o efeito paradisíaco da presença do Criador pela próxima semana até que, ao findar da sexta-feira, quando já estaremos exauridos por causa do distanciamento de Deus causado por nossos pecados rotineiros e nossa ansiedade em cuidados para com nossos interesses, sermos socorridos novamente com a contínua e intensa presença de Deus na adoração mais ampla, contínua e intensa do sábado seguinte.
Shabat Shalom! (a paz do Sábado – a paz de Deus!)
Wilson do Amaral