A canonização do orgulho
“Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.” II Cr 12; 10
Embora para alguns, orgulho pareça uma virtude, é senso comum que humildade é uma postura desejável; facilmente desprezamos alguém presunçoso que se jacta de grandes coisas, as tenha feito ou não. Os grandes jogadores de futebol, quando uma pergunta parece sugerir que eles venceram sozinhos, fogem disso, dizendo que foi trabalho de equipe, evitam ostentar orgulho, ainda que possam sentir, respeitam o senso comum.
Salomão tentou nos vacinar contra isso quando disse: “Que um outro te louve, e não a tua própria boca; o estranho, e não os teus lábios.” Prov 27; 2 Jesus Cristo foi além, não apontou para a conveniência da humildade apenas, mas, para a consequência do orgulho. “Porquanto qualquer que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado.” Luc 14; 11
A tendência ao orgulho persegue aqueles detentores de grandes coisas ou feitos, como ensinou Paulo, que, uma vez arrebatado ao terceiro céu, e tendo ouvido coisas diretamente do Senhor que poderiam fazer nascer orgulho, contou da providência divina sobre isso; “E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar.” II Cor 12; 7 Digamos que o Senhor deu um carrão para Paulo, mas limitou a velocidade, para evitar acidentes.
Todavia, como desconstrução é uma palavra da moda, quem garante que esses ensinos também não foram “desconstruídos”? Maravilhosa arte, a dos eufemismos; trocar destruição por desconstrução faz a mesma coisa parecer tão diversa!
Claro que há situações em quê certo brio, indignação, são desejáveis, mas, isso se pode equacionar melhor com zêlo que com orgulho. De qualquer modo, a exaltação dos orgulhosos, dos fortes, era uma filosofia de Nietzsche, não faz parte do ensino cristão. Na verdade, Jesus chamou a sí aqueles que não tinham motivos para se orgulharem. “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” Mat 11; 28 Esses, não se orgulham, buscam socorro.
Um determinado grupo se orgulhar de seu comportanto antes tido por errado, não mostra o que o comportamento passou a ser, mas, o que aquele grupo é. Orgulhar-se de algo, não é legitimar, mas expor uma visão peculiar. Mesmo nós, evangélicos, somos em parte emulados por isso, e promovemos nossos ativismos como se devêssemos nos orgulhar de pertencer a Cristo; na verdade, embora uns irmãos respeitáveis vejam isso como meio de evangelização, na minha ótica, faz os diferentes parecerem iguais; os que são mesmo convertidos, e os que fazem disso o negócio da china, que são bem numerosos.
Na onda da “canonização” via orgulho, agora se fala em criar o dia do orgulho heterossexual em São Paulo. Finalmente, se nos orgulharmos de ter nascido assim, poderemos sê-lo sem impedimentos. Francamente, qual ameba propôs isso? A suma do que estou postulando é que, sejam cristãos, gays, heterossexuais, em qualquer caso, orgulho será um vício, não uma virtude.
No prisma cristão, aliás, um dos vícios mais deletérios que há; “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.” Fp 2; 3 – 8
“Pouco conhecimento faz com que as pessoas se sintam orgulhosas. Muito conhecimento, que se sintam humildes. É assim que as espigas sem grãos erguem desdenhosamente a cabeça para o Céu, enquanto que as cheias as baixam para a terra, sua mãe.”
Leonardo da Vinci