Coisas novas e velhas
“Ele disse-lhes: Por isso, todo escriba instruído acerca do Reino dos Céus é semelhante a um pai de família, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas. “Mat 13; 52
Está impregnada no inconsciente coletivo a ideia que novidade seja necessariamente algo bom.
Tanto que, quando os políticos pleiteiam uma eleição, se estão de fora acenam: É hora de mudar; é hora do novo; e os que estão querendo ser reeleitos bradam: Para continuar mudando. Ou seja: Mesmo a permanência deles nos cargos é “mudança”, novidade.
O pior é que essa balela funciona. O Senhor disse que o conhecimento do Reino dos Céus se faz de uma mescla de coisas velhas, e novas.
Sendo assim, não se pode apregoar a mudança de tudo, sob pena de perdermos “coisas velhas” essenciais. Na verdade, sua doutrina é toda baseada no Antigo Testamento, revestida de uma interpretação melhor, espiritual, não apenas na frieza da letra, e coroada com o cumprimento prático dos vaticínios de então.
O Salvador disse que a suma de tudo, cabe em dois mandamentos sucintos; “Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e todo teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” Mat 22; 36-39
Então, em se tratando de doutrina, não há espaço para novidade alguma, como já dissera Jeremias: “Assim diz o Senhor: Ponde-vos nos caminhos, e vede; perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; achareis descanso para vossas almas; mas eles dizem: Não andaremos nele.” Jr 6; 16
No que se refere aos meios, toda novidade é bem-vinda. Usemos pois, a tecnologia para difusão do Evangelho; mas, sejamos prudentes com a imitação das novidades góspeis que pipocam todo dia.
Nada mais que a Palavra e o Espírito Santo são necessários, para a “aspersão do sangue de Cristo” como disse Pedro. Esse fetichismo com os seus talismãs ungidos, que enchem nossa paciência, a simonia que “abençoa” mediante carnês, e o ufanismo arrogante que ora com um palavreado atrevido, como se estivesse sendo grosso com um subordinado, não falando com Deus, são “novidades” nefastas, que desafiam a voltarmos às coisas velhas e boas, legadas por Deus.
As novidades sadias se dão nas vidas que ousam crer, como ensinou Paulo; “De sorte que fomos sepultados com Ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.” Rom 6; 4
Quem faz, pensa, ou deseja as mesma coisas de antes da conversão, deve se questionar se, de fato, se converteu; não deveria ter deixado sua maneira natural de pensar e se ocupado dos “pensamentos” de Deus?
Afinal, o mesmo Paulo sentencia: “Assim, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” II Cor 5; 17
Temos visto muitos ditaduras do oriente médio caírem diante de manifestações populares, fruto de revoltas. Coisas ainda em curso na Líbia e Síria, por exemplo.
Não devemos pensar que o Reino de Deus seja assim; uma “ditadura” opressora, que pode ser destituída na base do grito dos “excluídos”. Da guerrilha sediciosa revolucionária. Mas, vendo o levante de algumas correntes ditas evangélicas, bem como os que querem redefinir a Palavra de Deus, a impressão que dá, é essa; Deus precisa ser destronado.
Na verdade, nem o diabo tentou isso, apenas queria ser Deus também, até mais exaltado, mas, não ousou fazer como se faz agora... “Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.” Is 14;13 e 14
Salomão desaconselhou os levantes contra o status quo, advertindo que caminhavam à perdição: “Teme ao Senhor filho meu, e ao rei; não te ponhas com os que buscam mudanças, Porque de repente se levantará a sua destruição, e a ruína de ambos, quem o sabe?” Pv 24; 21 e 22
Portanto, há espaço para coisas novas e velhas, cada uma no devido lugar. Se, do ponto-de-vista do nosso pretérito devemos nos “alimpar do fermento velho”, no prisma da doutrina da salvação não cabem novidades como se, A Palavra fosse biodegradável. O Salvador garantiu: “O céu e a terra passarão, mas as Minhas palavras não hão de passar.” Mat 24;35
"Os desatinos da juventude são conspirações contra a velhice; pagam-se caro, ao anoitecer, as loucuras da manhã." (Francis Bacon)