A CRISE DE FÉ EM CADES BARNÉIA

O Egito tipifica o mundo com a sua escravidão, mas Canaã tipifica a vida cristã abundante.

Entre o Egito e Canaã existe o deserto. O deserto tipifica a vida cristã vivida na carne, segundo o esforço próprio.

Todos nós passamos pelo deserto e chegamos no dia em que temos de nos deparar com uma crise para podermos entrar em Canaã; é a crise da fé e dependência, a crise de Cades-Barnéia.

Em Cades Barnéia, Moisés enviou doze espias para observarem a terra e trazerem o seu relatório. Todos eles testificaram que de fato a terra era boa, de onde manava leite e mel.

Havia porém alguns problemas: o povo que habitava na terra era poderoso e as cidades eram fortificadas. Os espias, em vez de olharem para a herança que Deus estava lhes concedendo, olharam para o inimigo e para si próprio.

Nós somo aquilo que falamos e aquilo que vemos em nós. Se nos vemos fracos, somos fracos; se nos vemos como gafanhotos, eis no que nos tornamos.

Os espias olharam para si mesmos e não para aquilo que Deus é, e o que eram em Deus. O seu relatório desonrou a Deus.

Em 14:36, lemos que os dez espias que não acreditaram na palavra de Deus foram feridos com praga diante do Senhor. Eles morreram porque levaram o povo para a incredulidade.

Nós, os líderes, devemos ter muito cuidado para não levarmos o povo ao desânimo por meio das nossas palavras. Devemos ser como Josué e Calebe que tiveram palavra de Fé, conclamando o povo para que subisse e conquistasse a terra.

Se lermos toda a história, veremos que Calebe entrou em Canaã, derrotou os enaquins e tomou posse da terra. Em Josué 15:14, lemos que Calebe viu os gigantes, mas não os temeu. Os outros, porém morreram no deserto se vendo com gafanhotos.

1. O COMPLEXO DE GAFANHOTO

Por que o povo não pôde entrar na terra? Simplesmente porque tinham o que chamo de complexo de gafanhoto.

a. A incredulidade

Porém os homens que com ele tinham subido disseram: Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós. Nm. 13:31

O grande problema daqueles que permanecem no deserto é que eles duvidam da palavra de Deus.

Deus diz que eles são fortes, mas eles insistem em olhar para a sua fraqueza. Deus diz que Cristo já levou as suas enfermidades, mas eles insistem em olhar para a doença. Deus diz que eles já foram libertos do pecado, mas ele insistem em tentar vencer o pecado pela força própria.

Não crêem nas promessas de Deus e por isso vivem como derrotados.

Pessoas assim são vencidas não pelo gigante das circunstância, mas pelo gigante da incredulidade.

Aqueles espias conseguiram contaminar todo o povo com a incredulidade, de forma que todos foram envenenados pela rebeldia contra o Senhor. Perambularam quarenta anos no deserto porque deram ouvidos às pessoas erradas.

b. Olharam para si mesmos

O segundo problema foi que eles olharam para o problema e não para Deus. Todos aqueles que andam na carne são introspectivos, olham demais para si mesmos.

Porém os homens que com ele tinham subido disseram: Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós. Nm, 13:31

Esses homens duvidaram da palavra de Deus, duvidaram do poder de Deus e só enxergaram obstáculos. Tiraram os olhos do Senhor e olharam para si mesmos e para as circunstâncias. Fizeram como Pedro que em vez de olhar para o Senhor começou a reparar na força do vento (Mt. 14:30).

Diante dos problemas, não olhe para si mesmo e nem para o problema, olhe para Deus. Devemos olhar para o que Deus é, o que Deus tem e o que ele pode fazer.

Eles perceberam que as cidades eram grandes e fortificadas e aquele povo era mais forte que eles, mas não eram maior que o Senhor. O Senhor é quem pelejaria por eles e lhes daria a vitória.

c. Infamaram a terra

E, diante dos filhos de Israel, infamaram a terra que haviam espiado, dizendo: A terra pelo meio da qual passamos a espiar é terra que devora os seus moradores; e todo o povo que vimos nela são homens de grande estatura. Nm. 13:32

Coisa séria é quando diminuimos ou desprezamos o nosso direito de primogenitura com fez Esaú. É terrível quando concluímos que a nossa herança no Senhor é nada. Foi isso que fizeram os dez espias: desprezaram a herança do Senhor.

Quando as pessoas estão contaminadas com o vírus da incredulidade elas difamam as promessas de Deus. Escarnecem as bênçãos e começam a declarar a derrota.

d. Não sabiam de sua identidade

Também vimos ali gigantes (os filhos de Anaque são descendentes de gigantes), e éramos, aos nossos próprios olhos, como gafanhotos e assim também o éramos aos seus olhos. Nm. 13:33

Todos nós conhecemos a história do povo de Israel. Como foram escravizados no Egito e de como o Senhor os livrou e os conduziu pelo deserto.

O Senhor queria que eles tivessem a sua identidade mudada. Deus não queria egípcios lavados nem ex-escravos libertos, Ele queria que eles fossem o seu povo santo cheio da natureza celestial.

Mas em vez disso eles se declararam como gafanhotos diante de gigantes e por isso não entraram na terra porque gafanhoto não podem entrar na herança.

Não puderam entrar na herança porque falharam em reconhecer quem eram. Ainda tinham a mentalidade de escravos e por isso se viam como gafanhotos. Aqueles espias eram príncipes, mas se viam como insetos debaixo das botas de gigantes.

Viram-se a si mesmo como desprezíveis diante dos gigantes, que eles, na sua incredulidade, viram na terra.

Quem disse que os inimigos os via como gafanhotos? Na sua incredulidade, deram lugar às mentiras do Diabo.

O grande problema do povo de Deus é não saber quem ele é. Se eu não sei quem sou eu, facilmente vou ceder às ameaças do inimigo, mas se eu conheço a minha força, as minhas armas, o poder que está em mim, eu me encho de coragem e destruo meus inimigos.

Muitos não desfrutam do melhor de Deus porque não sabem quem são e o que podem em Cristo.

Os espias eram ainda escravos, tinham mentalidade de escravo e auto-estima de escravo.

Diante dos problemas, não olhe para si mesmo e nem para o problema, olhe para Deus.

Olhe para o que Deus é;

Para o que Deus tem;

Para o que Deus faz.

e. Confessaram derrota

Na nossa língua, está o poder da vida e o poder da morte. O que falamos é o que possuímos. Palavras são sementes. Palavras faladas são semente plantadas, e palavra repetidas são sementes regadas.

Eles confessaram que o povo da terra era mais forte que eles, disseram que era impossível conquistar a terra. Disseram também que eram como gafanhotos.

Devemos aprender a confessar somente aquilo que Deus diz que somos. O que Deus diz que eu posso e o que Ele diz que eu sou.

A verdade não é o que vejo, a verdade não o que sinto e nem o que dizem de mim. A verdade é aquilo que Deus diz.

É triste ser salvo no Egito e viver uma vida miserável no deserto. Muitos há, ainda hoje, que de fato saíram do Egito, mas nunca provaram da abundância de Deus que está em Canaã.

2. AS CONSEQUÊNCIAS DO COMPLEXO DE GAFANHOTO

Deus repudia a incredulidade. O povo não deixou de entrar na terra por causa de sua murmuração, mas por causa da incredulidade. Se o Senhor falou, creiamos.

A atitude daqueles espias teve uma influência profunda sobre o povo. A mesma coisa ocorre hoje quando há líderes incrédulos no meio da congregação. Lembre-se que por causa do pecado dos líderes todo o povo sofreu.

a. O desespero

A incredulidade sempre tira toda a esperança. Em Números 14:1 lemos que “o povo chorou aquela noite” (Nm 14.1).

Aquele não era um choro de quebrantamento, mas o choro dos incrédulos e dos desesperados. O choro daqueles que não conseguem enxergar nenhuma saída.

b. Ingratidão e murmuração

Toda murmuração está relacionada com a ingratidão. começamos a reclamar quando nos esquecemos de tudo o que temos recebido. Em 14:2 lemos que “todos os filhos de Israel murmuraram ...” (Nm 14.2).

Naquele momento se esqueceram da vida terrível que tinham no Egito como escravos e até disseram: “ antes tivéssemos morrido no Egito” (Nm 14.2).

É impressionante que dentro de quinze dias eles estariam em Canaã, mas em vez disso peregrinaram no deserto quarenta anos.

c. Desejo de voltar ao Egito

O povo disse: “Não nos seria melhor voltarmos para o Egito?” (Nm 14.3). Aquele povo se esqueceu dos benefícios de Deus e dos açoites dos carrascos egípcios.

O resultado natural da incredulidade é a volta para o mundo. Se desconfiamos da fidelidade de Deus então só nos resta voltar para o Egito.

d. Rebelião

“Levantemos a um para nosso capitão, e voltemos para o Egito” (Nm 14.4). O povo, contaminado pelos espias, queria agora outros líderes que o guiassem de volta ao Egito. Toda rebelião contra Deus se revela na rebelião contra a liderança.

A incredulidade está na base de todo pecado, principalmente da rebeldia. Se duvidamos da palavra de Deus não há porque nos submetermos a Ele.

A obediência é resultado da fé.

Quando as pessoas não querem mudar de vida normalmente mudam de líderes ou de igreja.

e. A disciplina de Deus

Eles não obedeceram à voz de Deus (Nm 14.22) e acabaram por desprezar o seu propósito (Nm 14.23). Então, Deus mudou o rumo da viagem deles (Nm 14.25). Tiveram de vagar pelo deserto um ano por cada dia que espiaram a terra prometida (Nm 14.34).

Aquela geração não entraria na terra de Canaã (Nm 14.29­31). A sentença de Deus contra eles foi a de não terem aquilo que desprezaram (Nm 14.31). Vocês terão o que desejaram: morrer no deserto (Nm 14.31).

3. O QUE FAZER PARA SE LIVRAR DO COMPLEXO DE GAFANHOTO

Josué e Calebe entraram na terra prometida (Nm 14.24 e 25). Eles confiaram em Deus, e Deus os honrou. A terra prometida e não o deserto é onde devemos viver. Somos príncipes e não gafanhotos.

Evidentemente temos de seguir pelo caminho de Josué e Calebe. Eles ousaram crer nas promessas de Deus, viram os gigantes não como inimigos imbatíveis, mas como pão que seria triturado.

Os dez espias sentiram-se diminuídos e viram-se como gafanhotos. Josué e Calebe viram-se como um povo imbatível.

Além disso vemos algo a mais na atitude deles.

a. Quebrantar-se diante de Deus

“Então Moisés e Arão caíram sobre os seus rostos ... e Josué e Calebe rasgaram as suas vestes...” (Nm 14.5 e 6).

Cair sobre o rosto e rasgar as vestes são os sinais bíblicos de quebrantamento e humilhação diante de Deus.

b. Firmar-se na promessa de Deus

“A terra pelo meio da qual passamos a espiar é terra muitíssimo boa” (Nm 14.7). Não devemos ser influenciados pelos comentários, pelas críticas e pela epidemia de incredulidade. Pelo contrário, devemos arraigar-nos na Palavra de Deus e colocar nela toda a nossa confiança.

c. Seguir a vontade do Senhor

“Se o Senhor se agradar de nós ...” (Nm 14.8). Deus se agrada daqueles que crêem e fazem a sua vontade. Quando Deus se agrada do Seu povo, ele se torna imbatível.

“ ... O Senhor é conosco; não os temais” (Nm 14.9). A nossa vitória não procede da nossa força, mas do poder de Deus conosco. “Tão-somente não sejais rebeldes contra o Senhor... “ (Nm 14.9).