Deus não é grego

“Mas não entres em questões loucas, genealogias e contendas, e nos debates acerca da lei; porque são coisas inúteis e vãs.” Tito 3; 9

Paulo desaconselhou debates infrutíferos, uma vez que desviariam do alvo que é a salvação das almas. Ainda assim, por causa do assédio de algumas proposições, descumprirei por um pouco o sábio conselho apostólico. Um debate que se arrasta há uns cinco séculos sem achar termo, é a questão da predestinação versus livre arbítrio. O problema básico que perpetua a discussão, são as concepções “a priori”, que forçam interpretações, e conclusões. Não se entra na peleja em busca da verdade, mas, com a pretensão de provar que se está certo e os oponentes errados. Muitos textos que os calvinistas usam, podem servir também a arminianos, e vice versa, dependendo de como se queira interpretar. Por exemplo, a questão da soberania de Deus. Os predestinacionistas advogam que Deus pode escolher livremente quais quer salvar, sem nenhuma explicação ou dívida com os demais, uma vez que é soberano, e que todos somos culpados de morte. Já os arminianos defendem que em nada afeta a soberania de Deus se Ele decidir salvar aqueles que aceitam o apelo de Jesus. Outro ponto, “ninguém vem a mim se o Pai não trouxer”, isso provaria que Ele escolhe; por outro lado, a ação do Espírito Santo enviado pelo Pai que convence do pecado da justiça e do juízo, seria esse trazer de Deus, ainda facultando a rejeição. Mais um ponto, a questão da palavra predestinação, para uns provaria a pré-escolha, para outros, significa apenas que o Criador preparou de antemão o destino dos salvos, que foram predestinados em Cristo, os que se submeterem a ele, não pré-escolhidos. Esses e muitos outros argumentos podem ser alistados dando azo a debates infindos, “provando” ambas as pretensões. Pessoalmente não creio que entender dessa ou daquela maneira a questão, seja indispensável para a salvação, de modo que, a linha de raciocínio que estiver errada, ainda pode ser de salvos, se, eles forem fiéis nas coisas básicas referentes à justificação. É certo que éramos escravos do pecado, também correto que é Deus que opera em nós tanto o querer quanto o efetuar, de modo que não temos mérito algum por sermos salvos, é pura graça de Deus. Até agora procurei fazer uma leitura imparcial, para mostrar a natureza do conflito, não por não ter uma posição. Se às vezes silencio é por achar contraproducente e interminável a questão. Dia desses lí um artigo pró predestinação, onde os rivais são chamados de falsos pastores, por pensarem diferente; ora, isso não é argumento, mas, falta de respeito. Se pensar diverso em temas polêmicos faz alguém falso, nós, poderíamos dizer deles, o mesmo, qual o fim disso? Entendo que o amor é a essência de Deus, e é da natureza do amor, a opção voluntária, senão deixa de ser, podendo ser coação, ou outra coisa qualquer. Por isso, aliás, a árvore da ciência foi posta no paraíso, para que o homem tivesse a possiblidade de desobedecer, sendo, uma eventual fidelidade, voluntária, não robótica. Quando Cristo é pregado, o Espírito Santo coopera, para persuadir ao escravo sobre suas algemas, e a convençê-lo da libertação Nele. Isso possibilita a escolha, sem forçar, uma vez que pode ser resistido. “Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim vós sois como vossos pais. “ Atos 7; 51

Assim, não somos salvos por obras, antes, por crermos na Obra Perfeita de Jesus, que nos liberta e possibilita entrar no Reino. As obras posteriores, sem as quais a Fé seria morta, não são para sermos salvos, antes, um testemunho visível que o somos. A posição da pré-escolha dos salvos por parte de Deus seria a validação do fatalismo grego, e tornaria absurdos muitos preceitos bíblicos. A pretexto de salvaguardarmos a soberania de Deus feriríamos a liberalidade de Seu amor, a fidelidade de Suas promessas e a equidade de Sua justiça. Não quero “honrá-lO” assim. Que significariam então, textos como esses? “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.” II Ped 3; 9 Mais, “...para que todo aquele que nele crê não pereça...” Jo 3; 16 Se varios textos que vimos ao princípio servem a ambas as posições, esses, combinam com a do arbítrio, da possibilidade de escolha oferecida gratuitamente por Deus. Os salvos perseveram é o postulado daqueles; “os que perseverarem serão salvos.” Mc 13; 13 É o texto bíblico. No primeiro caso, a consequência força a causa, invertendo uma lei universal. Perseverou porque era salvo. No segundo, o preceito bíblico se cumpre: “...porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” Gál 6; 7 Não o que Deus escolher fará a coisa certa. Não postulo, reitero, que possamos escolher sozinhos a salvação, em certo sentido não temos livre arbítrio. O que penso é que Deus visa facultar a todos, mediante ação do Espírito Santo a possibilidade de escolha, o que não força ninguém a aceitá-lo, antes, pode ser rejeitado. Não acho que os predestinacionistas são falsos, ou que não sejam salvos, apenas, penso pelas razões expostas e outras mais, que estão equivocados nesse aspecto, que não é relevante para a salvação, a qual consiste em ser nova criatura em Cristo, e andar em espírito. O que acho, finalizando, é que, com tanta coisa mais perigosa e urgente no seio do cristianismo, não é útil perder tempo e esforços com isso, a menos que, pensemos ser isso o “sine qua non” da salvação, o que me faria temer pelo nosso cristianismo, e cogitar que tenhamos passado as fronteiras do fanatismo. Como alguém já disse:

“ O fanatismo consiste em redobrar esforços, quando já se esqueceu os objetivos.”

Leonel Santos
Enviado por Leonel Santos em 01/07/2011
Reeditado em 01/07/2011
Código do texto: T3068542