“É necessário que Ele cresça, e eu diminua”
 
João replicou: Ninguém pode atribuir-se a si mesmo senão o que lhe foi dado do céu. Vós mesmos me sois testemunhas de que disse: Eu não sou o Cristo, mas fui enviado diante dele. Aquele que tem a esposa é o esposo. O amigo do esposo, porém, que está presente e o ouve, regozija-se sobremodo com a voz do esposo. Nisso consiste a minha alegria, que agora se completa. Importa que ele cresça e que eu diminua.” (Jo 3,27-30)
 
Queridos irmãos:

Comemora-se, hoje, a natividade de São João Batista e, aproveitando este dia, gostaria de refletir com vocês, sucintamente, sobre a sua missão entre os homens e em que, ele, enquanto profeta e precursor de Jesus Cristo, está relacionado com a nossa vida cotidiana, além de uma possível devoção pessoal.

Como nos disse Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja: “O maior dos homens foi enviado para dar testemunho d'Aquele que era mais que um homem”. Para tal afirmativa, usou, o nosso querido e destacado santo, expoente da Patrística, a passagem narrada por Mateus e Lucas, quando Cristo Jesus afirmou: “Pois vos digo: entre os nascidos de mulher não há maior que João.” (Lc 7,28)


Entretanto, o próprio João Batista afirmara que ele não era o Messias e sempre se humilhava frente a Jesus (Jo 1,20). Ele viera para anunciar a vinda do verdadeiro salvador, daquele que estaria conosco para nossa orientação, salvação e condução à vida eterna. Ele não poderia “atribuir-se a si mesmo senão o que lhe foi dado do céu” e foi-lhe dado do céu a missão de anunciar a chegada da boa nova, da redenção da humanidade, do verdadeiro Cristo. Missão que permanece em cada um de nós!


Destacou, ainda, João Batista que “aquele que tem a esposa é o esposo. O amigo do esposo, porém, que está presente e o ouve, regozija-se sobremodo com a voz do esposo.” Tal imagem a respeito de Jesus, fora feita por João Batista na seqüência das festas da boda de Cana, narrada por João Evangelista, onde Cristo, não apenas participou de um casamento, mas, como já vimos em reflexão anterior, estabeleceu o casamento entre Ele e a Igreja, transformando a água humana em vinho santo divino.


O marido, indicado por São João, era o próprio Jesus e a esposa era a Igreja, sendo ele, humilde anunciador da chegada do Salvador, feliz servo que ouvira a voz do noivo. Feliz, assim como nós podemos e devemos ser, ao reconhecermos a presença viva de Cristo Jesus entre nós, falando-nos, orientando-nos, conduzindo-nos.


João Batista reconhecera a divindade de Jesus e Seu propósito de vincular-se plenamente e eternamente à Sua Igreja, e afirmou: “Eis aquele de quem eu disse: O que vem depois de mim é maior do que eu, porque existia antes de mim.” (Jo 1,15)


Entretanto, Jesus ao destacar a importância de João Batista entre os homens, completou dizendo que“o menor no Reino de Deus é maior do que ele.” Estaria Cristo desqualificando João, seu amado primo e profeta de Suas ações? Claro que não. Referia-se, Jesus, a condição de nascido de mulher de João Batista, ou seja, dentre os homens, dentre nós que estamos ainda ligados ao mundo e que ainda não nascemos do Espírito. Ao nascermos do Espírito, na verdade, renasceremos e, como o próprio Jesus nos indica, em Sua conversa com Nicodemos, também narrada por João Evangelista, renascer para ser salvo!


De forma alguma, Jesus teve a intenção de diminuir João Batista, mas sim, frisar a importância daqueles que aceitarem renascer pelo Espírito, passando a ser, dessa forma, partícipes do Reino de Deus. É claro que João Batista participou e, certamente, participa do Reino de Deus, mas Jesus referia-se à sua condição humana (“dentre os nascidos de mulher”) e, como tal, ainda não nascido do Espírito.


Ora, se Jesus deu-nos a possibilidade de nascermos do Espírito, para que participemos de Seu Reino, deu-nos, assim, a possibilidade de sermos “maior” que o próprio João Batista, na condição de “filho de mulher”, ou seja, não há diferenciação entre nossa natureza humana da dele. Porém, ele, igualmente a nós, temos a plena possibilidade de participarmos da morada do Pai – “Sim, todos nós participamos da Sua plenitude, recebendo graça sobre graça” (Jo 1,15).


Com efeito, devemos reconhecer, assim como João Batista o fez, que há em Cristo mais que um homem e Sua natureza divina deixou-nos não apenas a possibilidade, mas os meios, caso queiramos aceitar, de, com Ele, compartilhar da vida eterna e plena. Ele, além de ser o caminho, é, também, a fonte que nos nutre, permitindo mantermo-nos com Ele na caminhada ao Pai, basta desejarmos e acreditarmos nisso.


Ocorre que, o mais destacável em João Batista, mais do que o próprio reconhecimento da divindade de Jesus, foi o seu exemplo de humildade, frisando sempre, com palavras e ações, a sua pequenez diante do Cristo Jesus. Não apenas pela sua vida como eremita, desvinculada de bens, desligada de posses e desprovida de vaidades, mas, acima de tudo, chamando a atenção para a sua e a nossa insignificância diante de Deus. Não o fazia para humilhar-se ou humilhar seus seguidores e a todos nós homens e mulheres, mas para mostrar que sem a presença de Deus em nossas vidas, nada somos. Somos apenas uma efêmera ilusão passageira que, ao morrermos, passamos a nada ser, se estivermos centrados, apenas, em nossa carne e no mundo que nos cerca.


Por isso ele afirmou que é preciso que o homem se humilhe, para que Deus seja exaltado. Não como sinal de subserviência, o que mal nenhum teria diante de nosso Deus, mas como forma de compreendermos e evidenciarmos a Sua posição no centro de nossa vida. Da mesma forma que, a árvore da vida, indicada no Gêneses, estava no centro, pecando a humanidade ao desejar tê-la para si, ou seja, desejando ser o próprio Deus, assim ela deve estar em nossa vida, no centro. E que compreendamos a real redução que nos causa a tentativa de sermos nosso próprio Deus. Nada somos e nada continuares ser se mantivermos como centro de nossa vida nossa própria vontade ou as coisas passageiras e ilusórias que deparamos neste mundo.


Assim sendo, finalizamos com o destaque dado por São João Batista na importância de que “ele cresça e que eu diminua” e trazendo a tona, mais uma vez, Santo Agostinho ao dizer:


Nós celebramos a natividade de João como celebramos a de Cristo, porque essa natividade está cheia de mistério. De que mistério? Do mistério da nossa grandeza. Diminuamo-nos em nós próprios para podermos crescer em Deus; humilhemo-nos na nossa baixeza, para sermos exaltados na Sua grandeza.

 
Fiquem com Deus!

 
Milton Menezes
Enviado por Milton Menezes em 24/06/2011
Código do texto: T3054036
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