Como lidar com os talentos

“Também vi eu que todo o trabalho e toda a destreza em obras, traz ao homem a inveja do seu próximo. Também isto é vaidade e aflição de espírito.” Ecl 4; 4

Duas situações podem ocorrer em relação ao talento; ser ele nosso ou, de nosso semelhante. No primeiro caso, o risco é a soberba, derivada da presunção, do orgulho; no segundo, como vaticinou Salomão, a inveja.

Certamente, todos nós possuímos algum talento, por menor que seja; ninguém é tão inútil que não sirva pra nada. “Não condeno os invejosos, no lugar deles, também iria querer ser eu.” Ândria Bonfim Tirando o bom humor contudo, a coisa é mui séria.

E, ninguém é tão talentoso que não tenha carências. Sobre os dons dos quais dispomos, não convém esquecer que são dons; ou seja: foram-nos dados. “Porque, quem te faz diferente? E o que tens tu que não tenhas recebido? Se, o recebeste por que te glorias como se, não o houveras recebido?” I Cor 4; 7

Paulo, que a isso escreveu tinha lá seus talentos; mas, ante a Majestade de Cristo não os considerou assim. “E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo,” Fp 3; 8

Então, uma breve descida na escada da humildade não nos fará dano algum. Paulo, aliás, disse que nem era digno de ser chamado apóstolo. Bons tempos!

Porém, quando o talento é de nosso semelhante, o caso, geralmente é mais difícil ainda. A inveja. A sua origem “invídia” sugere não querer ver ou, como acostumamos, não admitir os dons alheios, sofrer com isso. Duas possibilidades temos, ante o talento alheio; nos matricularmos na escola de Saul, ou, de seu filho Jônatas. Davi era o “talentoso” da vez.

Saul, Jônatas e todo o exército de Israel tiveram que suportar à provocação do gigante Golias, durante quarenta dias, apavorados, pois, ninguém ousava tal enfrentamento. Davi, na autoridade do Senhor o fez; história que todos conhecem.

Quando as mulheres louvaram publicamente o feito de Davi Saul o invejou, e teve por adversário. “E, desde aquele dia em diante, Saul tinha Davi em suspeita.” I Sam 18; 9

Várias vezes o rei tentou matar Davi movido por inveja. Jônatas, porém, reagiu de outro modo. “E Jônatas e Davi fizeram aliança; porque Jônatas o amava como à sua própria alma. Jônatas se despojou da capa que trazia sobre si e deu a Davi, como também suas vestes, até sua espada, seu arco, e seu cinto.” I Sam 18; 3 e 4

Que cena! Um príncipe despojando-se em favor de um mero pastor... será que Jônatas entendia o que isso significava; o que estava em jogo então? Ele era o primogênito de Saul, herdeiro natural do trono; estaria reconhecendo Davi como mais merecedor que ele?

Sim, Jônatas sabia o que estava fazendo e isso não lhe incomodava. “E disse-lhe: Não temas, que não te achará a mão de Saul, meu pai; porém, tu reinarás sobre Israel, e eu serei contigo o segundo;” I Sam 23; 17

Colocar-se como segundo no caso dele, não era uma petição, mas, uma concessão, uma vez que era candidato natural ao trono.

A escola de Jônatas nos ensina, pois, a convivermos pacificamente com o talento alheio. Não dói nada se tivermos que dizer: “esse cara faz isso melhor que eu”, o lugar pertence a ele, pois.

Muitos, entretanto, tremem ante a idéia de uma “ameaça” mesmo que distante; caso de Herodes. Informado que havia nascido Um que seria Rei dos judeus mandou que fosse buscado com diligência, “para que eu também vá e o adore” disse. Mas, frustrada sua espera mandou um pelotão de soldados a Belém para matar toda “concorrência”.

Em nossos dias, a maior dificuldade com o talento alheio, chama-se, control c, control v. É imensa a quantidade de textos copiados e publicados sem o devido crédito.

Basta conhecer o estilo de alguém escrever para identificar o que o tal, não produziu. Dia desses tropecei por acaso, com uma poesia de minha autoria, publicada em um site de um “evangélico” assinando ele, como autor; ainda registrando "seus direitos”.

Denunciei seu roubo com um comentário, e claro, foi removido. Parece que é da escola primária de Saul, pós-graduado na herodiana. Então, se pertencemos ao Senhor, precisamos encarar seriamente o fato que ao fazermos isso, estaremos sendo ladrões e mentirosos; dois tipos, aliás, que ficarão fora do Reino dos céus.

“Ousa dizer a verdade: nunca vale a pena mentir. / Um erro que precise de uma mentira, acaba por precisar de duas.”