Gênesis 3:15 - Vitória Assegurada
"Porei inimizade entre ti e a mulher, entre o teu descendente e o Seu descendente. Este te ferira a cabeça, e tu Lhe ferirás o calcanhar." Gênesis 3:15.
Em que consiste o evangelho da salvação? Será apenas a notícia de algo maravilhoso ainda não revelado? Qual a sua essência? Com este tema, tenho o desiderato de dividir com os leitores e amantes do estudo da Palavra de Deus, uma mensagem assaz importante para nós, pois seu foco é a nossa edificação, o enobrecimento do nosso caráter, cujo teor, embora contundente e aparentemente novo, é a verdade de Deus obscurecida pelo diabo, visto que a compreensão de suas entrelinhas, a depender de nossa fé, nos libertará. Nosso Mestre afirmou: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8:32.
Paulo, em sua carta aos hebreus, nos convida veementemente a corrermos “com perseverança A CARREIRA que nos está proposta.” Hebreus 12:1. A que carreira o apóstolo se reporta? Bem, ele mesmo nos dá a resposta. Encontramo-la em Filipenses 3:14. Lemos: “Prossigo para O ALVO pelo prêmio da soberana VOCAÇÃO de Deus em Cristo Jesus.” E que alvo é esse? Que vocação é essa? João nos responde: “Nisto é aperfeiçoado em nós o amor, para que no dia do juízo tenhamos confiança; porque, QUAL ELE É, SOMOS também nós neste mundo.” I João 4:17. Qual Ele é – esse é o objetivo do evangelho, tornar-nos semelhantes a Cristo, aqui mesmo, antes de Sua volta. Ele em breve virá buscar aqueles cujo caráter seja semelhante ao Seu. O plano original deve ser restabelecido – a habitação deste planeta pelos santos do Altíssimo. Gênesis 3:15 aponta para isso.
O versículo temático é uma sentença proferida por Deus na presença do casal transgressor [Adão e Eva] e de Satanás. Já lemos tanto esse versículo, mas não paramos para escrutiná-lo com agudeza de espírito. Ele nos reserva uma mensagem preciosíssima. Na verdade, trata-se da primeira profecia bíblica. Convém estudá-la, portanto.
“Porei.” Essa profecia tem início com um veredicto divino: POREI. Tendo Adão transgredido a ordem expressa de Deus – “de toda árvore do jardim COMERÁS LIVREMENTE, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, DELA NÃO COMERÁS; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” Gênesis 2:16 e 17, ele se tornou escravo de Satanás. Assim está escrito: “Replicou-lhes Jesus: em verdade, em verdade vos digo que TODO AQUELE que comete pecado É ESCRAVO DO PECADO.” João 8:34. E tal miserável condição passou para os seus descendentes. Nenhum esforço humano livraria o homem dessa situação. Nesse desastroso cenário, Deus se faz conhecer.
Satanás julgou a Deus pela deturpada visão que possuía do Criador, produzida por sua degradação moral. Se ele não mais pertencia ao coral angélico, entendia ele, Deus não pouparia o casal transgressor. Entrementes, seu coração orgulhoso o impediu de ver a profundidade do caráter de Deus. Tivesse ele se arrependido do seu malévolo intento, e teria experimentado em sua essência o incomensurável amor do Seu Criador. Contudo, ao contrário do que ele esperava, Deus manifestou o emergente socorro para resguardar o Seu eterno plano: colocaria o homem no seu estado anterior à queda – inimigo de Satanás. Paulo nos diz: “fazendo-nos conhecer O MISTÉRIO DA SUA VONTADE, segundo o seu beneplácito, que nele propôs para a dispensação da plenitude dos tempos, DE FAZER CONVERGIR EM CRISTO TODAS AS COISAS, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra.” Efésios 1:9 e 10. O propósito de Deus fora anunciado tacitamente aos três ouvintes.
“Inimizade.” O vocábulo inimizade é o antônimo de afeição e cogita divisão, jamais união. Dois inimigos em guerra buscam a destruição do oponente. Isso é fato. E não poderia ser diferente na guerra cósmica que envolve a luz e as trevas. Paulo novamente assere: “Não vos prendais a um jugo desigual com os incrédulos; pois, que sociedade teria a justiça com a injustiça? Ou que comunhão tem a luz com as trevas? QUE HARMONIA HÁ ENTRE CRISTO E BELIAL? Ou que parte tem o crente com o incrédulo?” II Coríntios 6:14 e 15. É peremptoriamente inconcebível. Assim, com esse pronunciamento, Deus estabelece dois campos eternamente insociáveis. Eles não se juntam, não se comungam. Isso está implicado nas palavras de Cristo: “NINGUÉM PODE servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de dedicar-se a um e desprezar o outro.” Mateus 6:24. Os anjos de Deus, empós a cruz, não mais nutriram simpatia pelo anjo caído. Seu caráter foi plenamente revelado ao tirar a vida do próprio Filho de Deus. Isso foi suficiente para bani-lo do Céu e do coração dos seus ex-amigos.
“Entre ti e a mulher.” O pronome oblíquo “ti” indica a segunda pessoa do singular “TU”, demonstrando indubitavelmente que a mensagem fora direcionada para o arquiinimigo e não para o casal; e o termo “mulher” não está aludindo a Eva ou Maria, como alguns têm cogitado, posto que se fosse Eva, o termo que se refere ao personagem profético, não seria empregado em Apocalipse 12:13; outrossim, se fosse Maria, ficariam sem explicação as existências de Enoque e de Caim. Se a profecia se reportasse a Maria, todos os seres humanos, antes dela, teriam aliança com o diabo, pois não haveria inimizade entre eles, correto? As Escrituras dizem que Enoque andou com Deus, e Deus o tomou para Si. Bem, se Enoque andou com Deus, como poderia ser aliado do diabo? Ele seria uma regra diante de uma sentença divina. Sem fundamento. Similarmente, levando em conta a existência de Caim, que viveu milhares de anos antes de Maria, o ter assassinado o irmão evidenciou que seu caráter era semelhante ao de Satanás, que é homicida desde o princípio (João 8:44). Ademais, a semente da mulher é citada em Apocalipse 12:17, e se lermos os quatro versículos anteriores dessa passagem bíblica (13 a 16), concluiremos que a mulher não é Maria, porque ela, se muito viveu, não alcançou a idade de 1260 anos, muito menos Eva.
“Entre o teu descendente e o Seu descendente.” Aqui Deus referencia os descendentes do diabo e da mulher. Em face do versículo seguinte, inferimos facilmente que o descendente da mulher é Cristo, visto que ao morrer na cruz, Ele sentenciou o inimigo das almas, por assim dizer, ferindo-o mortalmente na cabeça. Mas o ponto culminante que precisamos destacar não é só isso. Perceba o leitor que Deus não só põe um muro de inimizade entre Cristo e Satanás. A grande nova para nós é que a mesma barreira que impõe a desunião entre ambos os campos antagônicos – Cristo e o diabo, é extensiva à mulher também. Quando estudamos Daniel e Apocalipse, lado a lado, nalguns assuntos proféticos, não demoramos a crer que mulher em profecia significa igreja ou povo. Dessarte, mulher, em Gênesis 3:15, por se tratar de uma profecia, significa povo de Deus ou a igreja de Deus. Isso quer dizer que o povo de Deus, e aqui não se prende a uma nação, mas àqueles que gozarem da mesma fé, não da nossa desestruturada pelo diabo, e, sim, a do Salvador, uma vez que Ele a criou e a estabeleceu para nós vencermos como Ele venceu. A mulher ou o povo de Deus, pela profecia em comento, não seria escrava de Satanás, mas livre, livre de mácula, livre do domínio do pecado, livre para Deus.
Abraão foi chamado de pai da fé. Porquê? Porque foi nele, o primeiro ser humano em quem Deus fez brotar a fé que no futuro seria criada e consumada por Seu Filho. Tendo Abraão crido nas promessas de Deus, recebeu um novo nome, como sinal de ter sido recriado a semelhança do Seu Criador, sendo sinalizado em seu corpo, como símbolo da sua fé, com a marca da circuncisão. Daí, todos os que descendessem dele, deveriam ser circuncidados a sua semelhança, não como uma marca no corpo apenas, todavia circuncidando também e mormente o coração. “CIRCUNCIDAI, pois, O PREPÚCIO DO VOSSO CORAÇÃO, e não mais endureçais a vossa cerviz.” Deuteronômio 10:16. E assim Abraão foi chamado por Deus de amigo. “E se cumpriu a escritura que diz: E CREU Abraão a Deus, E ISSO LHE FOI IMPUTADO COMO JUSTIÇA, e foi chamado AMIGO DE DEUS.” Tiago 2:22. Nascido de novo, Abraão recebeu de nosso Pai uma ordem que antes lhe seria impossível cumprir, mas não agora transformado noutro ser, não agora recriado segundo Deus. Seu viver se harmonizaria com o Todo-Poderoso, pois sempre foi esse o objetivo do evangelho: destruir o abismo suscitado pelo pecado e propiciar ao homem andar novamente na presença do Seu Criador. Nascido de Deus todo homem é perfeito. Portanto, a ordem foi: “Quando Abrão tinha noventa e nove anos, apareceu-lhe o Senhor e lhe disse: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; ANDA EM MINHA PRESENÇA, E SÊ PERFEITO.” Gênesis 17:1.
Não poucos “cristãos” pregam e com altissonante voz que é impossível ao homem viver uma vida sem pecado, ou mesmo ser perfeito. Se isso for verdade, qual o propósito de Deus exigir de nós santidade e perfeição, se não podemos atender a essas exigências, digamos, impossíveis? Ou Ele estaria brincando conosco, ou por outro lado não estamos alcançando o teor de Sua mensagem. Prefiro, em minha sã consciência, assinalar a segunda alternativa. Deus não brinca com ninguém, e se isso fosse uma brincadeira, que gosto teria o sangue de Cristo derramado na cruz do Calvário? E aí está a maior prova de que o evangelho abrange muito mais além do que um simples “Estás perdoado, meu filho! Vá em paz!” A cura que Cristo realizou no leproso não foi apenas de um membro só, mas do corpo inteiro. Se somos perdoados para daqui a pouco voltarmos com mais um pedido de perdão, e tornar a voltar e voltar, na verdade, e digo isso com os pés no chão, não nos arrependemos genuinamente, porque o perdão de Deus cura, transforma, e transforma de verdade, sem um faz de contas.
A perfeição é paulatina, entretanto, não deixa de ser perfeito algo que cresce em direção ao que é plenamente perfeito, simplesmente por não ter alcançado ainda o seu ápice. Por exemplo, uma criança normal, aos sete anos de idade, ela é perfeita quando o parâmetro de comparação é o perfil de uma criança aos sete anos de idade; a de nove é perfeita se o perfil a ser comparado for o de uma criança aos nove, e assim por diante. Contudo, quando comparamos tal criança, que é perfeita, com um adulto, percebemos que lhe falta muito para crescer, a fim de alcançar a plena perfeição. Assim se dá com o recém-nascido no Reino de Deus. Quando nascemos de novo, passamos a ser perfeitos em todas as nossas fases de crescimento, embora ainda não tenhamos alcançado a perfeição de Cristo, que é a estatura ideal. Paulo aparenta contradizer-se quando, em Filipenses 3:12 e 15, fala da perfeição plena e parcial, respectivamente. Confira o leitor. E é dessa maneira que o apóstolo entendia também. Aliás, não podemos interpretar de outro modo. Deus assim determinou, como promessa: “PERFEITO serás, COMO o Senhor teu Deus.” Deuteronômio 18:13. E Seu Filho, nosso Salvador asselou: “Sede vós, pois, PERFEITOS, COMO é perfeito o vosso Pai celestial.” Mateus 5:48.
Se não conseguimos desfrutar de um viver que seja o reflexo do de Cristo, não fomos salvos do pecado, ainda. Não passamos da morte para a vida. Ainda dormimos e precisamos ser despertados do sono pelo mesmo poder que disse “Haja luz!” e houve luz. Se não conseguimos viver sem pecado, mesmo em pensamento, é um sinal de que ainda não fomos recriados por Deus, e continuamos escravos de Satanás, a satisfazer a sua vontade, mesmo contra o nosso querer. E se somos escravos de Satanás, não estamos do lado de cá do muro da inimizade, estamos do lado de lá, do lado onde está o inimigo de Cristo. E como posso afirmar isso? Se não fomos regenerados à imagem de Deus, não conseguimos obedecer aos Seus mandamentos. Estaremos lutando e debatendo contra Satanás sem conseguirmos êxito, feito Saulo de Tarso, cuja experiência pode ser encontrada em Romanos 7:15 a 23.
Enquanto não encararmos essa triste realidade, jamais receberemos de Deus o dom da justiça, que Ele tanto nos quer dar. Não somos justos, a não ser que o sejamos pelo poder de Deus, que se manifesta quando somos perdoados, pois perdão é justificação. Quando Deus nos perdoa, Ele nos torna justos, prontos para vivermos sem pecar, como Seu Filho viveu, uma vez que Cristo é a nossa justiça, que nos é imputada quando nEle cremos, e nos é comunicada dia-a-dia, em nossa santificação, pelo Espírito Santo, com o objetivo de que sejamos mais e mais parecidos com Ele, mostrando ao mundo que é possível viver diante de Deus, como requer a Sua santa lei, como se viveria lá no Céu na companhia dos santos anjos.
A inclinação de um homem natural não regenerado e não renovado pelo lavar do Espírito Santo, por mais que se esforce é desagradável a Deus, pois não tem forças para resistir às tentações impostas pelo inimigo, e mais e mais afunda num processo que o torna ainda mais escravo e mais semelhante ao príncipe das trevas. Por isso Paulo asseverou: “Porquanto A INCLINAÇÃO DA CARNE É INIMIZADE CONTRA DEUS, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade o pode ser. Portanto, OS QUE ESTÃO NA CARNE [os que ainda não nasceram de novo] não podem agradar a Deus.” Romanos 8:7 e 8.
Nosso viver deve ser sem mácula. Todavia o que quer dizer mácula? O servo do Senhor, de paciência exemplar, responde: “Se tu preparares o teu coração, e estenderes as mãos para Ele; SE HÁ INIQÜIDADE NA TUA MÃO, LANÇA-A PARA LONGE DE TI, e não deixes a perversidade habitar nas tuas tendas; ENTÃO LEVANTARÁS O TEU ROSTO SEM MÁCULA, E ESTARÁS FIRME, e não temerás. Pois tu te esquecerás da tua miséria; apenas te lembrarás dela como das águas que já passaram. E A TUA VIDA SERÁ MAIS CLARA DO QUE O MEIO-DIA; A ESCURIDÃO DELA SERÁ COMO A ALVA. E terás confiança, porque haverá esperança; olharás ao redor de ti e repousarás seguro. Deitar-te-ás, e ninguém te amedrontará; muitos procurarão obter o teu favor.” Jó 11:13-19.
Deus restabelecerá o Seu plano original, caro leitor. Ele deseja repovoar a Terra com os Seus santos, e cumprirá Seu desígnio. Eles [os seus santos] estão sendo preparados aqui mesmo, e tu podes ser um deles, porquanto esse é o objetivo do anúncio do evangelho a todos os homens. Muitos serão chamados e poucos escolhidos, Cristo disse. A escolha é nossa. Se atendermos ao Seu chamado, Ele não só nos perdoará, mas cuidará em nos refazer, recriar a Sua própria imagem, através da obra miraculosa do Seu Espírito. Sim, Ele nos apanha onde nós estamos, com nossas fraquezas, defeitos e tamanhos pecados, e nos gera novamente. Não precisamos voltar ao ventre de nossa mãe, porque não é Seu interesse que nasçamos de pais terrestres como se deu nosso primeiro nascimento. Devemos nascer dEle mesmo, por intermédio do Espírito Santo. Desse nascer, somos transformados passo a passo na mesma imagem de Cristo, vivendo uma vida isenta de pecado. Somos santificados, através da obediência a Sua palavra, ensinados pelo Seu Espírito a andar como Cristo andou.
O nosso Salvador deu a Sua vida para que o Seu povo, aqueles que dEle nascerem, possa ser santificado até a Sua volta, quando o tomará para Si e o levará para que esteja sempre com Ele. Ele se entregou a fim de santificar a Sua igreja, “tendo-a purificado com a lavagem da água, pela palavra, para apresentá-la a si mesmo IGREJA GLORIOSA, SEM MÁCULA, NEM RUGA, nem qualquer coisa semelhante, MAS SANTA E IRREPREENSÍVEL.” Efésios 5:26 e 27.
Estás convidado a estar do lado de cá, onde Cristo está, nobre leitor, nascendo dEle, a fim de viver uma vida santa e aguardá-Lo com alegria no coração, fazendo parte de Sua igreja gloriosa, sem mácula, sem ruga, mas santo e irrepreensível. Isso é totalmente possível. Cristo disse: “Tudo é possível ao que crê.” Marcos 9:23.
Que Deus nos abençoe!
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