É tempo de colheita!
   3o domingo depois da Páscoa do Calendário Litúrgico Ortodoxo
   Reflexões sobre o Evangelho Segundo São João (17a semana)

 
Entretanto, os discípulos lhe pediam: Mestre, come. Mas ele lhes disse: Tenho um alimento para comer que vós não conheceis. Os discípulos perguntavam uns aos outros: Alguém lhe teria trazido de comer? Disse-lhes Jesus: Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e cumprir a sua obra. Não dizeis vós que ainda há quatro meses e vem a colheita? Eis que vos digo: levantai os vossos olhos e vede os campos, porque já estão brancos para a ceifa. O que ceifa recebe o salário e ajunta fruto para a vida eterna; assim o semeador e o ceifador juntamente se regozijarão. Porque eis que se pode dizer com toda verdade: Um é o que semeia outro é o que ceifa. Enviei-vos a ceifar onde não tendes trabalhado; outros trabalharam, e vós entrastes nos seus trabalhos.” (Jo 4,31-8)
 
Minhas queridas irmãs, meus queridos irmãos:

Alimento é o produto utilizado na alimentação, cuja ato de alimentar tem sua origem latina (alere) referindo-se a “fazer crescer”.

Alimentamo-nos para crescer, para sobreviver, para que os nutrientes necessários sejam absorvidos com vistas à manutenção da vida de nosso organismo, de cada tecido, de cada célula que o compõe.

Jesus, quando afirmou que o seu alimento era fazer a vontade daquele que O enviou e, assim, cumprir a Sua obra, apresentava uma rica comparação, não, apenas, com o que concerne ao produto do alimento, mas, também, com o que ele mantinha – a vida eterna, a vida plena e abundante, a vida com o Pai.

Ao nos preocuparmos, apenas, com o alimento de nosso corpo, limitamo-nos, somente, à vida material, à manutenção da matéria que sustenta nosso corpo físico. E a nossa vida espiritual, aquela que dá razão à existência de nossa matéria humana? Ela também precisa ser alimentada, nutrida, para se manter viva e estar sempre “crescendo” e “florescendo”.

Fazer a vontade do Pai, para Jesus Cristo, era a “manutenção” de Sua natureza divina, razão para a existência de Sua natureza humana. Ele não destacou tal tarefa aos Apóstolos somente para descrever Seu “alimento”, mas, acima de tudo, para lembrar a todos, os presentes e a todos nós, que o alimento espiritual deve ser buscado, para que nos mantenhamos vinculados a Ele e ao Pai e, assim, espiritualmente vivos.

Cristo Jesus, para melhor esclarecer Seu ensinamento, traz à tona a imagem do semear e colher, até porque, na época de tal narrativa, encontravam-se no período que antecedia a colheita, tempo adequado após a semeadura e para tal reflexão comparativa.

Para se obter o produto do trabalho de semear, faz-se necessário colher, mas não há colheita alguma, sem que o semear seja feito de forma correta e a manutenção do plantio ocorra adequadamente.

Jesus planta Suas palavras, seu ensinamento, na “terra” de nossos corações, para que tais sementes sejam, regadas, cuidadas, com vistas a colheita de seu “produto”, no tempo certo e da forma correta.

Lembram-se da imagem de Santa Tereza que já mencionamos, ao construir, mentalmente, um horto em seu coração, por onde Jesus passeava, vendo-se incumbida de cultivá-lo, para que o Mestre pudesse nele passear e se regozijar com a beleza de suas flores?

Na verdade, servimos de terra de plantio, bem como de agentes de semeadura e, ao mesmo tempo, de colheita.

Em nós, é plantada a Palavra, a qual precisa ser acolhida e cuidada, com todos os ingredientes para que ela cresça e se multiplique. Para que dela brotem ações que correspondam aos ensinamentos divinos, que tragam ao mundo a beleza do amor infinito de Deus por cada um de nós. Não podemos nos esquecer que, toda a maravilha divina, relacionada à humanidade, precisa ser concretizada em nossos atos, em nosso cotidiano. Devemos ser o verdadeiro “mostruário” do amor de Deus, expondo, pelas nossas ações, a Sua presença viva. Esse é o verdadeiro produto a ser colhido. Tal produto, assim como os frutos da natureza, geram novas sementes, as quais deverão ser plantadas em novas terras, em novos corações.

Assim, não apenas nos limitamos a “emprestar” nosso ser ao Senhor, para que nele seja plantada a Sua Palavra. Precisamos nos dispor a ser, também, semeadores dela, plantando-a no coração de nossos irmãos, disseminando a semente do amor de Deus, da qual poderão ser colhidos os frutos da caridade, da compaixão, da bondade, da humildade, da servidão, da compreensão, da mansidão e da justiça. Precisamos dispor dessa semente ao nosso próximo, o qual não é apenas aquele de quem gostamos. O próximo é todo o irmão em Cristo que conosco venha a ter algum contato, mesmo que distante fisicamente, o desconhecido e, até mesmo, o desafeto. A ele devemos disponibilizar a semente de Deus e ajudá-lo a cultivá-la até que dela nasçam os frutos divinos a serem colhidos.

O alimento colhido é razão de felicidade para quem o planta e, igualmente, para quem o colhe. É por isso que Jesus destacou a alegria de ambos: “assim o semeador e o ceifador juntamente se regozijarão”. Ao disponibilizarmos o campo fértil em nosso ser à plantação divina, bem como o seu cuidado e a colheita adequada, estaremos propiciando o regozijo do Pai e, conseqüentemente, o nosso. Estaremos, com isso, obtendo o alimento da salvação, aquele alimento que Jesus mencionou que possuía e que era o verdadeiro alimento para a manutenção da verdadeira vida.  

Todos sabemos que o tempo de colheita é tempo de festa, de prosperidade e de unidade. Todos têm seus cestos fartos e a alimentação disponibilizada, e, com isso, retornam a suas casas, mesmo após um árduo trabalho, cheios de alegria. Resultado de um plantio em terra arada, preparada para receber a semente e seguida de todos os cuidados necessários, com a plantação devidamente regado, protegida contra as pestes, as aves e de tudo aquilo que poderia atrapalhar seu crescimento ou destruir sua existência.

Nenhuma semente brota imediatamente após seu plantio. É necessário que seja acompanhada e cuidada, exigindo-se trabalho árduo, ações apropriadas e paciência para o tempo correto da colheita.

O mundo está cheio de agentes destruidores de nossa plantação – a aridez do orgulho, a agressão da ira, a hidratação excessiva das riquezas aparentes e o apego às coisas mundanas, as “aves” devoradoras da cobiça, a praga da vaidade e muitos outros. Em fim, são tantos os possíveis responsáveis pela destruição de nossa plantação que devemos nos manter vigilantes, e manter nosso campo protegido. Somente a vigilância da oração e a proteção da Graça de Deus serão capazes de nos ajudar a cuidarmos de nosso plantio em condições de, no tempo certo, podermos colher os frutos para a vida plena.
 
Fiquem com Deus!  

Milton Menezes
Enviado por Milton Menezes em 09/05/2011
Código do texto: T2958624
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