A Glória de Deus

Portanto, quer comais quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus. I Coríntios 10:31.

O que vem a ser a gloria de Deus? Far-nos-á bem buscarmos o conceito divino para o vocábulo GLÓRIA, segundo o contexto do versículo bíblico temático. Diferentemente do que muitos pensam, glória não significa apenas fama ou sucesso, como se deu com José. Quando Ele se fez reconhecer pelos seus irmãos, ele disse: “Fareis, pois, saber a meu pai toda a MINHA GLÓRIA no Egito; e tudo o que tendes visto; e apressar-vos-eis a fazer descer meu pai para cá.” Gênesis 45:13. Ele havia conquistado fama em todo o Egito, pela sabedoria que lhe fora concedida por Deus; ele se tornou a segunda pessoa no mundo, uma vez que o Egito, em sua época, era a nação que sobrepujava as demais. A glória a que José se reporta aqui não é a glória que encontramos no texto bíblico principal.

Há outra referência à palavra glória. Encontramo-la em Êxodo 16:10. Assim está escrito: “E quando Arão falou a toda a congregação dos filhos de Israel, estes olharam para o deserto, e eis que a GLÓRIA do Senhor, apareceu na nuvem.” Nessa narrativa, temos outro significado para glória – o resplendor do Senhor, Sua manifestação. Existem outras passagens bíblicas que poderíamos citar, mas irei me ater ao tema, sob o prisma do verso que lhe serve de sustentáculo.

Como ponto de partida para entendermos o que Paulo está a nos dizer em I Coríntios 10:31, precisamos trazer à baila aquele incidente onde Moisés postulou a Deus ver a Sua glória. Ele disse: “Rogo-Te que me MOSTRES A TUA GLÓRIA!” Êxodo 33:18. Glória aqui não poderia ser fama, pois não faria sentido, nem tampouco o resplendor de Deus, pois diversas vezes Moisés houvera presenciado tal manifestação, mormente quando subiu para receber as tábuas da lei. Portanto, a fim de robustecer essa narrativa, leiamos com atenção a resposta que Deus oferta a Moisés. O Senhor falou para Moisés: “Eu farei PASSAR toda a minha bondade diante de ti, e te proclamarei o Meu nome Jeová.” Verso 19. A resposta divina revela que a pretensão de Moisés não era ver outra coisa senão algo que demonstrasse o interior do Seu Criador, a natureza do Seu caráter.Até onde sabemos, bondade é um substantivo abstrato que necessita de um elemento concreto, pelo qual possa ser demonstrada.

O verbo passar, dentre outras definições, e neste caso, em específico, significa mostrar, evidenciar, exibir. Todavia, como exibir algo abstrato sem as suas ações correspondentes? Deus teria que realizar algum ato de bondade, ou numa visão mostrar a Seu servo Moisés, Suas benevolências em prol do ser humano. Mas o que tem a ver a bondade e a proclamação do no nome Jeová, com o vocábulo glória? Estaria falando Deus de assunto diverso ao do pedido de Moisés?

Chegada a hora, Deus manifestou a Sua glória perante Moisés. Mas os detalhes desse encontro são importantes para que entendamos a que Moisés estava se referindo com o seu pedido. Assim lemos: “Tendo o Senhor passado perante Moisés, proclamou: Jeová, Jeová, Deus misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em beneficência e verdade; que usa de beneficência com milhares; que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado; que de maneira alguma terá por inocente o culpado; que visita a iniqüidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até a terceira e quarta geração.” Êxodo 34:6 e 7. Não foi em relação ao resplendor de Deus, que Moisés pronunciou essas palavras. Na verdade, temos aí uma resumida descrição do caráter do Todo-Poderoso. E Moisés, movido pelo Espírito Santo, proclamou o nome Jeová, ele foi o próprio instrumento por quem Deus fez cumprir a Sua promessa. De que forma Deus fez passar a Sua bondade diante de Moisés? Ele mesmo é a fonte da bondade, pois nEle vivemos, e nos movemos, e existimos. Atos 17:28. Ao passar Deus, portanto, diante dos olhos de seu servo, o Espírito Santo revelou-lhe o caráter de Deus de maneira sintetizada. E como Deus proclamaria o Seu nome Jeová? Pelos lábios de Seu servo. O que temos aqui? Revelação e proclamação do caráter do nosso Deus.

O Livro Sagrado nos ensina que Cristo veio à Terra para desfazer as obras do diabo. Dentre tantas, a principal obra do inimigo foi destruir a imagem de Deus no homem criado. Todas as ações deste revelariam não mais semelhança com o Ser supremo, mas com o príncipe das trevas. E dia após dia, pensava o diabo apagar tudo no homem que lembrasse o Seu Criador, até que, por fim, aniquilasse de vez da raça a humana os traços dAquele que, com amor eterno, a teria criado com Suas próprias mãos. Mas graças a Deus que seu intuito foi plenamente obliterado. Entretanto, o estado do homem natural não realça os traços morais do Senhor do Universo, e eis a razão por que está escrito: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus.” Romanos 3:23. O maior dano provocado pelo pecado na alma é a dessemelhança moral com o Criador. E isso só é possível reverter mediante o lavar purificador com o sangue do Cordeiro.

A essência do capítulo 10 de I Coríntios é o testemunho do cristão perante seus irmãos cuja fé não é tão robusta quanto a sua. Ali o apóstolo Paulo recomenda que algumas atitudes sejam suprimidas quando isso tem a ver com assuntos que não tenham tanta importância para a salvação, mas que poderiam ser causa de tropeço para os mais fracos na fé. Noutro falar: a carne sacrificada aos ídolos, para aqueles que sabiam que ela nada tinha de ruim em si mesma, não os deixaria de fora do céu, caso eles decidissem comer. Isso, contudo, era uma questão teológica para os fracos na fé, aqueles que criam piamente que tal carne não deveria fazer parte do cardápio do cristão, pelo fato de ela ter sido sacrificada a um ídolo. Isso era uma abominação para eles. Então, Paulo admoesta aos que crêem não ser problema o comer daquela carne que não o façam na presença dos fracos na fé, a fim de que esse ato não ponha em risco a salvação deles, por ser tal assunto um tropeço. Aqui se pretende enaltecer o amor fraternal, o altruísmo, traço moral do Salvador.

Por este azo – a revelação do caráter de Deus – Paulo diz àqueles que são fortes na fé que tudo que vierem a fazer, além do comer e do beber, nisso Deus seja proclamado, seja revelado o Seu caráter. Porquanto a suma do evangelho é a restauração do caráter de Deus no homem recriado pelo Espírito Santo. Tal obra miraculosa arranca estupefação de Satanás. Ele não consegue entender como isso é possível. Na verdade, a guerra cósmica iniciada no Céu consiste basicamente em uma luta pelo domínio da mente do homem, com o propósito de implantar nele o caráter de quem lhe for permitido vencer. Deus ou Satanás – o vencedor somos nós quem decidimos através do nosso livre arbítrio.

Assim como por Moisés foi proclamado o caráter de Deus, tal reação deve ser vista naqueles que nos contemplam. Deles devemos ser reconhecidos, em face de nosso proceder cristão, que temos estado com Jesus, e possamos exprimir tal qual São Paulo: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim.” Gálatas 2:20.

Todas as nossas ações, todos os nossos pensamentos, todo o nosso falar, devem refletir o caráter do Deus a quem servimos. Ele quer ser visto em nós, quer ser reproduzido em nós. O processo com que concretiza tal milagre no ser humano é chamado nas Escrituras de SANTIFICAÇÃO. O agente que promove esse processo é o Santo Espírito de Deus em colaboração com o homem. Nesse processo, o homem é chamado a participar; não é uma obra unicamente divina, pois o que lhe impulsiona é o poder de escolha que foi confiado ao homem. Em cada passo da vida, empós ser revelada a vontade de Deus pelo Espírito Santo, há mister de que o homem decida se quer continuar a jornada ou se pretende abrir mão do Céu e permanecer com o objeto de sua escolha. Decidindo o homem por avançar, o Espírito Santo lhe comunica nova justiça, tornando-o mais parecido com o Seu Redentor e o processo continua. Quem nele perseverar, será salvo.

Alguns crêem que o homem nada tem a fazer depois que aceita o Salvador, que a salvação vem sem qualquer esforço do homem para alcançar semelhança com Cristo. No entanto, Paulo nos recomenda: “Efetuai a vossa salvação com temor e tremor.” Filipenses 2:12. Se ele nos diz efetuai significa que não temos que esperar tão-somente por Deus, de braços cruzados. Nessa fase da salvação – a santificação – nossa colaboração com o Espírito Santo é imprescindível. Podemos dizer sem medo de errar que a santificação é a educação do homem ministrada pelo Espírito Santo, cuja matéria é a restauração do caráter de Deus, cujo livro utilizado são as Sagradas Letras, com o objetivo de preparar aqui mesmo na Terra, antes da volta do Salvador, cidadãos que deverão entrar no Céu com Ele e que futuramente serão seus co-herdeiros quando Ele estabelecer o Seu reino.

Lembremos, entrementes, que a santificação não poderá ser desenvolvida sem que o homem seja recriado por Deus. Não havendo esse milagre, o milagre da JUSTIFICAÇÃO, onde o homem é tornado JUSTO por Deus, o processo da santificação não poderá ser desencadeado. E todo esforço humano aqui é inútil. Alguns estão a lutar contra o pecado sem ter experimentado o milagre do novo nascimento e não alcançam perfeição de caráter, não se tornam semelhantes a Cristo. A prova de que nascemos de novo, de que fomos JUSTIFICADOS é a nossa própria vida transformada. Se não vivemos como Jesus viveu, é um sinal de que ainda não nascemos do Espírito Santo e que continuamos escravos de Satanás, não importa nossa condição social, não importa quem somos na igreja. Ser justificado é ser transformado à semelhança do Salvador. É um ato instantâneo de Deus. Os passos daquele que foi justificado são a reflexão das pegadas do Filho de Deus. Isso ocorre porque o Espírito Santo, concedido ao homem no ato da justificação, é Quem faz com que Cristo seja reproduzido na vida do crente. Essa obra é gradativa. Se Cristo viveu sem pecar, a vida de quem nasce de novo e é santificado, é uma vida isenta de pecado, pois “aquele que diz que permanece nEle, esse DEVE TAMBÉM ANDAR como Ele andou.” I João 2:6. E Cristo não transgrediu a lei de Deus. Não precisamos nos enganar.

Tudo que falamos, pensamos ou dizemos tem relação direta com a nossa salvação, pois implica em glorificar ou não a Deus. E foi para esse fim que Jesus veio ao mundo – tornar possível ao homem caído, destituído do caráter divino, tornar-se novamente participante da natureza divina. Glorificamos a Deus em nosso viver, quando permitimos que Jesus seja visto em nós. Em Romanos 8:29, Paulo declara veementemente o que já dantes afirmamos. Vejamos:

“Porque os que dantes conheceu, também os predestinou PARA SEREM CONFORMES À IMAGEM DE SEU FILHO, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” Romanos 8:29.

O que nos resta fazer para que o propósito de Deus seja concretizado em nossas vidas? Precisamos urgentemente nascer dEle, mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo. Precisamos pedir essa bênção. Nossas forças de nada valerão, serão totalmente inúteis. Se não formos a Ele e Lhe pedirmos que nos torne justos, nunca seremos santificados, e, por conseguinte, não seremos glorificados na Sua vinda. Estaremos perdidos.

Insto, neste momento, para que o leitor busque a Deus, se é que a tua vida não reflete a vida do Salvador, se é que ainda não foste transformado e convertido em criança, a fim de que Ele te conceda o que está prometido em Romanos 5:17 – o dom da justiça. Deus anela dar-te, no ato do perdão, um novo viver, um viver que Ele aprova: a própria vida que Cristo viveu e que só ela te habilita ao Céu.

Que Deus nos abençoe!

Kowalsky
Enviado por Kowalsky em 05/05/2011
Código do texto: T2951922