“Vai, teu filho vive.”
Reflexões sobre o Evangelho Segundo São João                            (14a semana)
 
Depois daqueles dois dias, Ele partiu de lá para a Galiléia. O próprio Jesus havia testemunhado que o profeta não é honrado na sua própria pátria. Quando, pois, Ele chegou à Galiléia, os galileus o receberam, tendo visto tudo o que fizera em Jerusalém, por ocasião da festa: pois também eles tinham ido à festa. Ele voltou novamente a Caná da Galiléia, onde transformara água em vinho. Havia um funcionário real, cujo filho se achava doente em Cafarnaum. Ouvindo dizer que Jesus viera da Judéia para a Galiléia, foi procurá-lo, e pedia-lhe que descesse e curasse seu filho, que estava à morte. Disse-lhe Jesus: ‘Se não virdes sinais e prodígios, não crereis.’ O funcionário real Lhe disse: ‘Senhor, desce, antes que meu filho morra!’ Disse-lhe Jesus: ‘Vai, teu filho vive.’ O homem creu na palavra que Jesus lhe havia dito e partiu. Ele já descia, quando seus servos vieram-lhe ao encontro, dizendo que seu filho vivia. Perguntou, então, a que horas ele se sentira melhor. Eles lhe disseram: ‘Ontem, à hora sétima, a febre o deixou’. Então o pai reconheceu ser precisamente aquela a hora em que Jesus lhe dissera: ‘Teu filho vive’; e creu, ele e todos os da sua casa. Foi esse o segundo sinal que Jesus fez, ao voltar da Judeía para a Galiléia.” (Jo 4,43-54)
 
Queridas irmãs, queridos irmãos, quantas vezes Deus nos diz para irmos que estamos salvos e não O ouvimos? Quantas vezes estamos a procura de sinais e revelações concretas ao nosso entendimento para que, realmente, possamos perceber a presença de Deus em nossa vida? Por que não conseguimos ver as maravilhas que Jesus processa em nossas vidas a cada momento? Rememoremos os momentos freqüentes que, assim como os pagãos e os próprios fariseus, colocamos Deus “à prova”, solicitando sinais visíveis em nossa vida.

Os fariseus e os saduceus achegaram-se a Jesus para submetê-lo à prova e pediram-lhe que lhes mostrasse um milagre do céu.” (Mt 16,1)

Ao chegar em Caná, Jesus fora bem recebido pelo fato de, anteriormente, ter transformado a água em vinho nas bodas, fato também narrado por São João. Será que o Cristo Jesus seria recebido da mesma forma sem os sinais anteriormente realizados?

De qualquer forma, não somente fora bem acolhido pelas pessoas, mas também, fora procurado por um funcionário real, pagão, certamente desconhecedor das Leis judaicas. Aquele que desconhecia Jesus nEle teve esperança a ponto de solicitar a vida para seu filho.

Não fora um judeu, tampouco um seguidor das Leis de Moises, mas sim, um pagão, assim como a samaritana. Fortaleceu-se a vinculação da vinda de Jesus Cristo a todos os homens, independente do sexo, da raça, ou do credo professado, desde que nEle creia. Todos somos dignos do toque salvífico do Senhor, termos fé.

Se Jesus, o Salvador, acolhe igualmente a todos, sem qualquer tipo de discriminação, por que não seguimos Seu exemplo e não fazemos o mesmo?

Gostaria de trazer o destaque apresentado na Bíblia de Jerusalém, referente ao questionamento feito por Jesus, ao funcionário real, quando este solicitou a cura de seu filho: “Se não virdes sinais e prodígios, não crereis”. Certamente, tal exclamação não fora destinada exclusivamente ao funcionário, ela o fora a todos aqueles que buscam os sinais visíveis como sustentação para sua fé, pessoas essas daquele e de todos os tempos, inclusive cada um de nós. Mesmo assim, felizes daqueles que, frente ao desespero, recorrem ao Senhor!

Deus, fonte de vida, vida em abundância. Não foi sem razão a vinculação seqüencial desta passagem logo após o encontro de Jesus com a samaritana, quando Ele se colocou como a fonte de água viva, a fonte da vida. O próprio evangelista João narra a fala de Jesus, em diversos momentos distintos, destacando que Ele veio como fonte de vida:

Eu vim para que todos tenham vida, e vida em plenitude” (Jo 10,10);

Eu Sou a Vida” (Jo 14,6);

Eu sou a Ressurreição e a Vida” (Jo 11,25);

Eu lhes dou a vida eterna; elas jamais hão de perecer, e ninguém as roubará de minha mão.” (Jo 10,28);

Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá.” (Jo 11,25)

Estas e diversas outras falas de Cristo salientam o milagre da vida como sendo dom de Deus. Vida que, não se limita à vida física, neste mundo, mas, acima de tudo, a vida eterna – a verdadeira vida.

O funcionário real n’Ele procurou a vida de seu filho e a encontrou. Porém, ele obteve, não apenas a vida física neste mundo, mas a verdadeira vida, aquela encontrada em Cristo Jesus: “
e creu, ele e todos os da sua casa. Jesus, de forma veemente, disse ao funcionário do rei: “Vai, teu filho vive.” De fato, ele e todos de sua casa viveram a vida plena, a vida na fé.

Ainda em João, Jesus nos fala: “O espírito é que vivifica, a carne de nada serve. As palavras que vos disse são espírito e vida.” (Jo 6,63) Fica-nos a mensagem que não existem limites, fronteiras, distâncias, distinção de pessoas ou qualquer outro impedimento para a palavra libertadora de Jesus. A única e verdadeira fronteira é a fé. Em diversas passagens Ele nos mostra isso – a fé que nos cura, a fé que nos salva. Ele explicita que a redenção é para todos que se abrem e respondem a esse dom de Deus.

São João, ao narrar a solicitação do funcionário real, para que Jesus desça, antes que seu filho morra, não expressou, somente, uma posição geográfica, mas também, para destacar o que oramos ao recitar nossa profissão de fé (Credo): “... o qual, por nós homens e para nossa salvação, desceu dos céus...”. Ele desceu, e ainda habita entre nós. Ele veio para nos ofertar Sua palavra de vida eterna, mas exige-nos a fé, e quem nela crer, não apenas vive, mas vive em abundância.

São Paulo mostrou-nos que a verdadeira coragem nada mais é que a própria fé. Quem tem fé não teme. Assim foram os mártires, assim somos nós ao nos mover em direção ao que acreditamos. Sem ela, tememos, titubeamos, amedrontamo-nos e recuamos diante de qualquer obstáculo, de qualquer dificuldade, solicitamos sinais divinos, milagres, comprovações da presença de Deus em nossa vida. A fé nos move, nos fortalece, nos vivifica. A fé, não apenas nos faz crer, ela impulsiona-nos em direção ao sagrado e, conseqüentemente, à paz e à vida plena. 

Quando existe o verdadeiro amor entre as pessoas, não há exigência de provas desse amor, pois aqueles que dele compartilham conhecem-se entre si. Reconheçamos o verdadeiro amor em Deus, amor divino, amor infinito. Roguemos a Deus que nos conceda a graça de fortalecer nossa fé, para que, ao reconhecermos Seu amor por nós, entreguemo-nos a Ele de forma incondicional, sem a necessidade de qualquer prova ou sinal, deixando-O conduzir nossa vida, pois, certamente, seremos levados por Ele à paz e a vida eterna.
Milton Menezes
Enviado por Milton Menezes em 11/04/2011
Código do texto: T2902909
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