A Lei Não É o Pensamento Original de Deus
A primeira coisa que devemos ver é que a lei não foi de modo nenhum a intenção original de Deus. A lei foi acrescentada posteriormente; ela foi introduzida para satisfazer certas necessidades urgentes. Ela foi produzida para cuidar de coisas que foram introduzidas ao longo do percurso. A lei não estava na intenção original de Deus; a graça estava. Em 2 Timóteo 1:9-10 é dito: “Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho”. Aqui o apóstolo Paulo diz-nos que Deus tinha um pensamento, e que esse pensamento começou antes dos tempos eternos, antes da criação do mundo. Esse era o pensamento original de Deus. E que tipo de pensamento era? Paulo diz que essa graça foi-nos dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos. Antes dos tempos eternos, antes de o homem pecar, e até mesmo antes da criação do mundo, Deus já havia tomado a decisão de dar-nos Sua graça por meio de Cristo Jesus. Portanto, a graça era o pensamento original de Deus. Era algo que Deus planejou desde o início de tudo.
Por que Deus quis dar-nos a graça? Paulo diz que Deus “nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça”.
A vontade de Deus é dispensar Sua graça, e essa graça nos salva. Ele nos salvou e nos chamou com santo chamamento para que desfrutemos Sua glória. É isso que a graça de Deus está fazendo. Ele desejou salvar-nos e chamar-nos com santo chamamento segundo o Seu propósito, segundo o que Ele planeja fazer. Aqui Paulo foi muito cuidadoso; ele acrescentou uma frase para mostrar-nos se a lei está ou não de acordo com o propósito de Deus. Ele diz: “Não segundo as nossas obras”. A salvação de Deus não é de acordo com o quanto podemos fazer por Deus; não é segundo o quanto de responsabilidade podemos assumir diante Dele. Pelo contrário, é Deus vindo cumprir algo por nós, e é Deus dando-nos Sua graça. Essa graça sempre esteve relacionada com o Seu plano. Assim, lembremo-nos de que antes dos tempos eternos, o pensamento de Deus era a graça, não as obras nem a lei.
Paulo continua: “Que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus”. Essa graça não havia sido manifestada até agora. Portanto, vejam que, embora essa graça estivesse planejada há muito tempo, foi somente quando o Senhor Jesus veio que conhecemos o que realmente a graça era.
Que faz essa graça por nós? Prossigamos lendo: “O qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho”. Quando o Senhor Jesus foi manifestado, Ele aboliu as obras bem como o resultado das obras. O resultado de obras más é a morte. Mesmo que você tenha feito as piores obras, o máximo que a lei pode fazer é exigir a sua morte. Após sua morte, a lei nada mais pode fazer.
Você poderia perguntar: “Que acontece se minhas obras não violaram a lei? Ainda assim preciso morrer?” Sim, você precisa. Mas o Senhor também anulou a morte. O Senhor aboliu as obras e também a morte. Esse é nosso evangelho, o qual foi planejado antes dos tempos eternos, embora não tenha sido manifestado até o aparecimento do Senhor Jesus. Assim, o pensamento fundamental de Deus era a graça.
Após o homem ter sido criado, tanto Adão como Eva pecaram e se rebelaram. O pecado entrou no mundo por meio de um homem. Mas Deus não deu a lei ao homem naquele tempo.
Mesmo por um período de aproximadamente mil e seiscentos anos após o homem ter pecado, Deus não deu a lei ao homem. Deus não teve exigências com o homem naquele período. Deus permitiu à história que tomasse seu curso natural. Então um dia, quatrocentos e trinta anos antes de Moisés instituir a lei, Deus falou a Abraão, o pai da fé, e escolheu-o para ser aquele por meio de quem Cristo viria ao mundo. Deus escolheu Abraão e deu-lhe a grande promessa de que todas as nações seriam abençoadas pelo seu descendente (Gn 12:3; 22:18). Note que descendente é singular, não plural; é um descendente, não muitos descendentes. Paulo explicou no livro de Gálatas que este descendente refere-se ao Senhor Jesus (Gl 3:16). Quando falou a Abraão, foi a primeira vez que Deus revelou Seu propósito que fora planejado antes dos tempos eternos. Deus lhe contou Seu propósito de antes dos tempos eternos, de que por meio de seu descendente, Jesus Cristo, as nações seriam abençoadas. Abraão era um idólatra, contudo Deus o escolheu e deu-lhe uma promessa. Ele foi o primeiro homem a não ter obras; ele era uma pessoa de fé.
Portanto, Deus desvendou Seu propósito diante dele.
Você deve prestar atenção a algo especial aqui. A palavra de Deus a Abraão foi incondicional. Deus simplesmente disse: “Salvarei e abençoarei o mundo por meio do seu descendente”. Ele não estabeleceu condições. Deus não disse que os descendentes de Abraão tinham de ser isso ou aquilo ou que o reino a vir por meio dele no futuro tinha de ser dessa ou daquela forma antes que ele tivesse um descendente e que o mundo fosse abençoado. Não; Deus simplesmente disse que ele teria um descendente que salvaria o mundo. Não importava se Abraão fosse bom ou mau; não importava se seus descendentes fossem bons ou maus e se seu reino fosse bom ou mau. Não havia condição imposta. Essa é a maneira como Ele desejava que fosse realizado. Ele faria com que o descendente trouxesse bênção para as pessoas no mundo.
Após essa palavra ser dita, Cristo, o Filho de Deus, não veio imediatamente ao mundo.
Abraão gerou Isaque, mas Isaque não veio salvar o mundo. Isaque não era o Filho de Deus.
Quatrocentos e trinta anos mais tarde, Moisés e Arão surgiram. E, embora fossem pessoas muito boas, não eram o Cristo de Deus. Por meio da revelação de Deus, Paulo chamou-nos a atenção de que o descendente de Abraão não se refere a muitos descendentes, mas a um único, que não veio senão dois mil anos mais tarde. Há um motivo forte para que o descendente não viesse antes.
É verdade que Deus deseja fazer coisas para o homem, que Ele quer dar graça ao homem. Entretanto, estaria o homem disposto a permitir que Deus faça coisas para ele? Deus vê que não estamos indo bem, e quer ajudar-nos; mas ainda podemos achar que somos muito capazes. Somos maus, mas podemos achar que somos bons. Somos imundos, mas podemos considerarnos limpos. Somos fracos, mas ainda podemos considerar-nos fortes em tudo. Somos inúteis, mas ainda podemos considerar-nos úteis. Nós, seres humanos, somos pecaminosos e completamente incapazes, mas ainda podemos considerar-nos bons e úteis. O propósito de Deus desde antes dos tempos eternos era dar graça, e, no tempo, Ele disse a Abraão que de fato daria graça ao homem.
Mas por ser o homem ignorante, fraco, inútil, pecaminoso, e digno de morrer e perecer, Deus não teve escolha, senão dar a lei ao homem quatrocentos e trinta anos depois que Ele fez a promessa a Abraão. Após dar a lei ao homem, o homem descobriu que era pecaminoso. Deus pôs a lei ali para descobrir se o homem é correto ou não e se é capaz ou não. Deus pôs o peso da lei ali para ver se o homem poderia ou não levantá-lo. Lembremo-nos de que dar a lei não era a intenção original de Deus. Devo enfatizar que a lei foi algo acrescido para ir ao encontro de uma necessidade temporária. Não fazia parte da intenção original de Deus.
Vejamos o que diz Gálatas 3:15-22. Devemos considerar cuidadosamente estes versículos, pois são muito importantes. O versículo 15 diz: “Irmãos, falo como homem. Ainda que uma aliança seja meramente humana, uma vez ratificada, ninguém a revoga ou lhe acrescenta alguma coisa”. Deixemos momentaneamente de lado a aliança do homem com Deus, e consideremos primeiro as alianças que os homens celebram entre si. Suponhamos que alguém esteja vendendo uma casa, e um contrato tenha sido firmado e assinado. Pode o vendedor pensar melhor mais tarde e pedir mais duzentos dólares? Após assinar o contrato, pode ele considerar um pouco mais e, então, romper o contrato? Não. Mesmo em contratos entre os homens, uma vez que estejam assinados, é impossível acrescentar condições a eles ou subtrair condições deles. Se um contrato entre homens é assim, quanto mais uma aliança entre Deus e o homem!
Como Deus fez Sua aliança com o homem? O versículo seguinte diz: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente”. Deus fez aliança com Abraão por meio de promessas porque dizia respeito ao futuro. O que já está realizado é graça; o que ainda não foi cumprido somente pode ser uma promessa. Porque o Senhor Jesus ainda não tinha vindo, não podemos dizer que a aliança de Deus com Abraão era graça. Sua natureza era sem dúvida graça, mas por não ter sido manifestada, ainda era uma promessa. Essa promessa foi dada a Abraão e ao seu descendente. Paulo diz: “Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo” (v. 16). O descendente é singular, não plural; é um: Cristo. Deus prometeu a Abraão que este geraria a Cristo e que por meio de Cristo as nações seriam abençoadas. O versículo 14 diz: “Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido”. Essa é a aliança que Deus firmou com Abraão.
Você poderia perguntar: Já que Deus quer abençoar as nações por meio de Cristo Jesus, por que Ele deu a lei ao homem quatrocentos e trinta anos mais tarde? Uma vez que a aliança que Deus firmou com Abraão não podia ser anulada nem acrescentada, por que o Senhor Jesus não veio simplesmente para dar-nos graça? Por que o problema da lei interveio? Você deve ver o argumento que Paulo estava usando aqui. Paulo estava explicando aqui por que, após quatrocentos e trinta anos, a lei veio. O versículo 17 diz: “E digo isto: Uma aliança já anteriormente confirmada por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a pode ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa”. Embora Deus tenha dado a lei ao homem, a aliança que Ele fez quatrocentos e trinta anos antes não podia ser desfeita. Deus não podia cancelar a aliança anteriormente feita após uma consideração adicional quatrocentos e trinta anos mais tarde. A lei é algo absolutamente contraditório à promessa e à graça. Que é promessa? É algo dado a alguém gratuitamente. Embora ele ainda não a tenha, ele definitivamente a terá mais tarde. Porém, que é a lei? A lei implica que alguém tenha de fazer isso ou aquilo para obter algo. Você pode ver que essas duas coisas são totalmente opostas. A promessa implica que Deus fará algo para o homem; a lei implica que o homem fará algo para Deus.
O versículo 18 diz: “Porque, se a herança provém de lei, já não decorre de promessa”. Se o que era para ser dado é de acordo com o princípio da lei, não pode ser de acordo com o princípio da promessa. Essas duas coisas são completamente opostas.
O versículo 19 diz: “Qual, pois, a razão de ser da lei?” Agora surge o problema. É um problema muito difícil de resolver. A lei e a promessa são basicamente contraditórias em suas naturezas. Se você tem a lei, não pode ter a promessa; se você tem a promessa, não pode ter a lei. Essas duas questões não podem ficar juntas. Mas agora há a lei e também há a promessa.
Deus deu a promessa, e, então, quatrocentos e trinta anos mais tarde Ele deu a lei. Que faremos?
Se a aliança feita por Deus não podia ser mudada nem por subtrair algo dela, nem por adicionar algo a ela, por que então a lei foi dada? Uma vez que uma aliança não pode ser alterada, uma promessa sempre será uma promessa, e graça sempre será graça, por que, então, há necessidade da lei?
No versículo 19 Paulo dá-nos a razão: “Foi adicionada por causa das transgressões”. Que significa adicionar algo? Recentemente fui a certo lugar trabalhar. Durante minha estada ali, certa noite fui com alguns irmãos a um restaurante para jantar. Por não termos uma casa ali, fomos a um restaurante e pedimos uma refeição de cinco pratos, que foram comidos muito rapidamente; e assim pedimos ao garçom que adicionasse mais um prato. A adição de outro prato não era nossa intenção original; ele foi adicionado para suprir uma necessidade imediata. De modo semelhante, Paulo disse que a lei foi adicionada. Na verdade, Deus não tem de nos dar a lei, tampouco Ele precisava dá-la aos judeus. Deus deu a lei aos judeus porque queria mostrar ao mundo, por meio dos judeus, que Ele dera a lei por causa das transgressões.
Por que a lei foi adicionada por causa das transgressões? Vejamos agora a última parte do versículo 15 em Romanos 4: “Mas onde não há lei, também não há transgressão”. Vejamos também Romanos 5:20: “Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa”. O propósito da lei é fazer com que a ofensa abunde. Que significa isso? O pecado entrou no mundo pelo homem; portanto, o pecado está no mundo. A morte veio a partir do pecado e começou a reinar. De Adão à Moisés, o pecado estava no mundo. Mas como podemos provar isso? Isso é evidenciado pela morte estar presente no mundo. Se não houvesse pecado de Adão até Moisés, o homem não teria morrido. O fato de que a partir de Adão até Moisés todos morreram, prova que o pecado estava ali. Embora houvesse pecado naquele tempo, não havia a lei. Portanto, havia somente o pecado, mas não a transgressão. Que é transgressão? É o pecado concretizado. Ele estava aqui no mundo, mas o homem não sabia que o pecado estava aqui até que a lei de Deus viesse. Por meio da lei Deus mostrou-nos que havíamos pecado. Na verdade, já existia o pecado em nós. Já estávamos corrompidos, mas não sabíamos disso até que a lei veio, quando o pecado dentro de nós foi manifestado em transgressões.
A lei é como um termômetro. Uma pessoa pode já estar doente com febre. Mas se você diz a ela: “Amigo, sua aparência não parece muito boa; você tem febre”, ela pode não acreditar em você. Tudo o que você teria de fazer então seria pegar um termômetro e colocá-lo na boca da pessoa. Após dois minutos poderia mostrar-lhe definitivamente que ela tem febre. Nós já éramos pecaminosos; já tínhamos “febre”, mas não sabíamos disso. Assim Deus nos deu um padrão.
Embora a lei possa não ser um padrão perfeito, é um padrão suficientemente elevado. Deus utiliza a lei para medir-nos. Por meio dela vemos que transgredimos. Uma vez que vejamos que transgredimos a lei, sabemos que pecamos. O pecado já estava dentro do homem; mas sem as transgressões, ele jamais teria confessado que tinha pecado. Foi somente depois de transgredir que ele confessou que realmente tinha pecado.
Quando leio a Bíblia, maravilho-me com as palavras usadas pelo apóstolo. Nesses versículos ele não utilizou a palavra pecado; em vez disso, usou a palavra transgressão por três vezes. O pecado está sempre dentro do homem, todavia enquanto não for executado, o pecado não se torna transgressão. Deve haver algo a ser transgredido antes que haja a possibilidade de transgressão. Deixe-me ilustrar. Suponha que haja uma criança que sempre suja suas roupas. Ela sempre usa as mangas para limpar o nariz e suas roupas ficam sujas rapidamente. Em seu temperamento, hábito, pensamento e consciência, ela nunca considera que sujar suas roupas seja um pecado. Tampouco seu pai considera isso como um pecado. O fato do pecado está ali, muito embora não haja desobediência. As roupas da criança estão muito sujas, mas ela não se importa nem um pouco. Sua consciência está bem, porque seu pai jamais disse que isso está errado. Ele pode estar despreocupado quanto a isso. Mesmo quando suas roupas estão muito sujas, ela ainda pode comer com o pai, sentar-se com o pai e caminhar com o pai. Tudo está bem no que se refere a ela. Em outras palavras, ela não transgrediu. Mas um dia o pai lhe diz que não pode mais sujar a roupa, e que se o fizer novamente, irá apanhar. Se a criança habitualmente faz isso, o falar do pai manifestará seus pecados. Originalmente só havia o pecado, não a desobediência. Mas uma vez que a criança desobedeça, há transgressão. Da mesma forma, somente quando existe a lei haverá a transgressão. Quando a lei diz para fazer isso ou aquilo, a transgressão será manifestada. Antes essa criança podia vir diante do pai prontamente e sem temor. Mas agora, se ela portar-se de acordo com seu hábito e fizer isso de novo, ela não terá paz interiormente e sua consciência falará.
Todos os leitores da Bíblia e todos os que entendem a vontade de Deus sabem que Deus não nos deu a lei com o intuito de que a guardássemos. A lei não era para que a guardássemos, mas para que a quebrássemos. Deus nos deu a lei para que a transgredíssemos. Para muitos de vocês essa pode ser a primeira vez que ouvem essa palavra, e podem achá-la estranha. Deus sabia o tempo todo que você tem pecado. Deus sabe disso; mas você mesmo não sabe. Por isso Deus deu-lhe a lei para transgredir, de modo que você conheça a si mesmo. Deus sabe que você não é bom, mas você acha que é. Portanto Deus deu a lei. Após transgredi-la uma, duas, diversas vezes, você dirá que pecou. A salvação não virá a você até então. Somente quando admitir que não tem jeito, que lhe é impossível prosseguir conduzindo-se desse modo, você estará disposto a receber o Senhor Jesus como seu Salvador. Somente então você estará disposto a receber a graça de Deus.
Já vimos que para receber graça é preciso que nos humilhemos. Somos pecadores e cometemos pecados. Que nos leva a humilhar-nos? É a lei. Os seres humanos são orgulhosos.
Todos os seres humanos acham-se fortes e consideram-se bons. Todavia, Deus deu-nos a lei, e uma vez que olhemos para a lei, temos de humilhar-nos e confessar que na verdade não somos nada bons. Isso é o que Paulo queria falar quando disse que antes de ler na lei que não deveria cobiçar, ele não sabia o que era cobiçar. Entretanto, uma vez que viu a lei, ele percebeu que havia cobiça dentro de si (Rm 7:7-8). Isso não significa que antes de Paulo ver a lei não havia cobiça nele. Havia cobiça nele muito antes. Ele sempre cobiçara, mas não percebia que estava cobiçando. Foi somente quando a lei lhe disse isso que ele o percebeu. Portanto, a lei não nos leva a fazer nada que antes não tivéssemos feito; a lei apenas expõe o que já existe em nós. Essa é a razão de eu dizer que Deus deu a lei ao homem não para que este a cumprisse, mas para que a infringisse. Tampouco a lei proporciona ao homem uma oportunidade para transgredir; em vez disso, a lei mostra ao homem que ele transgredirá. A lei permite que o homem veja o que Deus já tinha visto.
Romanos 7 explica essa questão muito claramente. Vejamos este capítulo, começando com os versículos 7 e 8: “Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás. Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda sorte de concupiscência; porque, sem lei, está morto o pecado”. Sem a lei, não sinto que cobiçar seja pecado, muito embora haja cobiça dentro de mim. Portanto, a cobiça dentro em mim está morta; isto é, não tenho consciência dela. Entretanto, após vir a lei, decido não mais cobiçar. Mas eu ainda cobiço e o pecado se torna vivo. O versículo 9 diz: “Outrora, sem a lei, eu vivia; mas, sobrevindo o preceito, reviveu o pecado, e eu morri”.
Amigos, lembrem-se de que Deus lhes deu a lei por uma única razão; para mostrar-lhes que vocês mesmos sempre estiveram cheios de pecado. Por não ver seu pecado, vocês agiam orgulhosamente. A lei veio para expô-los. Você pode dizer que não cobiça. Entretanto, se simplesmente tentar não cobiçar, qual será o resultado final? Quanto mais tentar, mais fraco você ficará e mais cobiçoso será. Você se propõe a não cobiçar, mas no momento em que se propuser a isso, você se achará cobiçando tudo. Você cobiça hoje e cobiçará amanhã; cobiça em qualquer lugar que vá. Agora o pecado está vivo, a lei está viva e você está morto. Originalmente o pecado estava morto e você estava bem, mas agora que a lei veio, você não pode deixar de cobiçar.
Quanto mais tentar não cobiçar, mais cobiçoso se tornará. O problema é que o ser do homem é carnal, e por ser carnal, sua vontade é fraca, sua conduta é rebelde e seus desejos são imundos.
O versículo 10 diz: “E o mandamento que me fora para vida, verifiquei que este mesmo se me tornou para morte”. Se o homem puder verdadeiramente guardar a lei, viverá. Mas não consigoguardá-la; por isso eu morro.
O versículo 11 diz: “Porque o pecado, prevalecendo-se do mandamento, pelo mesmo mandamento, me enganou e me matou”. Se a lei não me tivesse dito que não deveria fazer isso ou aquilo, o pecado ficaria tranqüilo em mim e não seria tão ativo em mim. Todavia, uma vez que a lei veio e me disse que não deveria cobiçar, o pecado, por meio do mandamento, veio tentar-me e pôs essa questão da cobiça na minha mente. A lei me diz que eu não deveria cobiçar, e proponho-me a não cobiçar; contudo em lugar de não cobiçar, cobiço ainda mais.
Em certa época eu senti que estava mentindo. Não mentia deliberadamente, mas às vezes, sem querer, falava exageradamente sobre alguma coisa ou falava pouco demais sobre outra. Ao perceber isso, resolvi que daquele momento em diante para mim o sim seria sim e o não seria não. Não importando com quem falasse, resolvi falar precisamente. Antes de me decidir por isso, na verdade não mentia tanto, mas após tomar a decisão, tornou-se-me tão fácil mentir. Na verdade eu estava piorando. No domingo seguinte enviei uma nota dizendo que não daria a mensagem naquele dia. Quando fui questionado do motivo, disse: “Descobri que meu falar é cheio de mentiras. Isso é muito sério. Receio que até mesmo minha mensagem será repleta de mentiras”. Quando eu não dava atenção à mentira, esta parecia estar morta. Obviamente, isso não quer dizer que não mentia. Entretanto, somente quando comecei a prestar atenção à mentira, quando fui iluminado pela lei para tratar com minhas mentiras, foi que senti que todas as minhas palavras eram mentiras. Parece que as mentiras estavam ali próximas de mim. Portanto, descobri que originalmente as mentiras estavam mortas, mas agora elas tornaram-se vivas. Para onde quer que eu me voltasse, as mentiras estavam ali. O pecado matou-me por meio da lei e fiquei desamparado.
O versículo 12 continua: “Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo e justo, e bom”. Nunca devemos considerar a lei má. A lei é sempre santa, justa, e boa. “Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum!” (v. 13). Mas o pecado, sim. No princípio, o pecado estava morto e eu não estava ciente disso; mas, quando a lei veio testar-me, eu morri. “Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum! Pelo contrário, o pecado, para revelar-se como pecado, por meio de uma coisa boa causou-me a morte; a fim de que, pelo mandamento, se mostrasse sobremaneira maligno” (v. 13). Inicialmente, não sentimos que o pecado seja tão pecaminoso. Mas quando a lei veio e tentamos guardá-la, percebemos onde estão nossos pecados e quão pecaminosos e totalmente malignos eles são.
Podemos ver a função da lei de Deus aqui. A lei é como um termômetro. Um termômetro não lhe dará febre, mas se você tiver febre, o termômetro certamente a fará conhecida. A lei não levará você a pecar, mas se você tiver pecados, a lei de Deus imediatamente mostrar-lhe-á que é um pecador. Originalmente, você não sabia que era um pecador, mas agora sabe.
A lei veio julgar o pecado do homem. A lei foi estabelecida porque o homem tem o pecado.
Você jamais verá Deus guardando a lei, pois não existe a possibilidade de que Deus transgrida a lei. Por conseguinte, nenhuma lei é imposta a Ele. Deus nunca disse ao Senhor Jesus para amar o Senhor Seu Deus de todo o Seu coração, de toda a Sua alma, de toda Sua força, e de toda Sua vontade, e amar ao Seu próximo como a Si mesmo. O Senhor Jesus simplesmente não precisava disso. Ele espontaneamente ama ao Senhor Seu Deus de todo Seu coração, de toda Sua alma, de toda Sua força, e de toda Sua vontade; Ele espontaneamente ama ao Seu próximo como a Si mesmo, até mesmo mais que a Si mesmo. Portanto, a lei é inútil para Ele. E Deus não disse a Adão para não cobiçar e para não roubar. Por que Adão precisaria cobiçar? Por que Adão precisaria roubar? Deus já lhe havia dado tudo o que estava na terra. Os Dez Mandamentos não foram dados a Adão porque ele não precisava deles. Em vez disso, a lei foi dada especificamente aos israelitas, pois ela mostrava ao homem carnal sua condição interior e seu pecado interior. Se nenhum chinês jamais tivesse roubado, não haveria necessidade de um artigo na lei chinesa acerca do roubo. Porque o homem rouba, existe um artigo na lei que diz que ninguém deve roubar.
Portanto, a lei existe por causa do pecado. Quando o homem pecou, a lei veio a existir.
Agora, voltemos a Gálatas 3 e continuemos com o versículo 19: “Qual, pois, a razão de ser da lei? Foi adicionada por causa das transgressões”. Agora temos clareza. Deus propôs antes dos tempos eternos dar graça ao homem. Mais tarde Ele deu a Abraão uma promessa. Na eternidade era apenas o Seu propósito. Com Abraão, algo foi falado: Ele lidaria com o homem na graça. Por que, então, Deus deu a lei ao homem quatrocentos e trinta anos após aquilo? Ela foi adicionada por causa das transgressões. Para que os pecados do homem se tornassem transgressões, a lei foi dada ao homem. Desse modo, o homem percebeu que tinha o pecado e esperou “até que viesse o descendente a quem se fez a promessa” (v. 19). Não foi senão até que todos no mundo vissem que eram pecadores e realmente sem esperança que ficaram desejosos de receber o Senhor Jesus Cristo, a quem Deus havia prometido. Mesmo que Deus tivesse dado mais cedo a Sua salvação ao homem, o homem não a teria recebido. O homem não quer a graça de Deus, mas porque tem transgressões e é sem esperança, ele provavelmente receberá a graça de Deus.
O versículo 19 finaliza assim: “E foi promulgada por meio de anjos, pela mão de um mediador”. Aqui, promulgada está se referindo à lei mencionada acima. A lei não somente foi adicionada por causa das transgressões, mas também foi promulgada por um mediador. Há esses dois aspectos na lei: ela foi adicionada por causa das transgressões e promulgada por meio de anjos, pela mão de um mediador. Por que a lei foi promulgada pela mão de um mediador? O versículo 20 explica: “Ora, o mediador não é de um”. Você já foi um intermediário ou um interventor? Um intermediário age em favor das duas partes. Por que a lei tem um mediador? Porque com a lei há o lado de Deus e o lado do homem. O homem deve fazer certas coisas para Deus antes que Ele faça certas coisas pelo homem. Quando as partes A e B fazem um contrato, o contrato estabelece o que A deve fazer e o que B fará em contrapartida, e vice-versa. Um mediador, então, servirá como uma testemunha entre as duas partes. A lei estabelece qual é a responsabilidade de Deus para com o homem e qual é a responsabilidade do homem para com Deus. Se uma das partes falha, toda a questão fracassa.
Aleluia! O que se segue no versículo 20 é maravilhoso: “Mas Deus é um”. Mas Deus é um! A lei envolve dois lados. Se um dos lados tiver problemas, tudo fracassa. Ao dar a lei, Deus disse que devemos fazer isso e aquilo. Se falharmos em fazê-las, toda a questão fracassa. Mas ao fazer a promessa, “Deus é um”, não importa como sejamos. Na promessa e na graça, não há menção do nosso lado, somente do lado de Deus. Uma vez que não haja problema do lado de Deus, não haverá problema algum. A questão hoje é se Deus pode salvar Abraão e se Ele pode preservá-lo.
A questão não é como somos. Na promessa, não há nada que nos envolva, nada que dependa de como sejamos.
O princípio da lei pode ser comparado a comprar livros da nossa livraria. Se eu gastar $ 1,60, posso adquirir uma cópia de The Spiritual Man. Se eu der o dinheiro aos irmãos ali, eles me darão o livro. Se eles tiverem o livro, mas eu não tiver o dinheiro, a transação não será feita. Tampouco a transação será realizada se eu tiver o dinheiro e eles não tiverem o livro. Se um lado tem um problema, o negócio fracassa. Portanto, a lei é de dois lados. Se um lado falha, toda a questão fracassa. Mas que dizer acerca da promessa? A promessa é como nossa revista The Christian; ninguém precisa pagar por ela, pois é gratuita. A lei é: se você fizer algo por mim, eu farei algo por você em retribuição. Se fizer determinadas coisas, você obterá algo de volta; se não puder fazê-las, não obterá nada. Assim, a lei é de dois lados. Ao fazer a promessa, Deus nos concede a graça não importando se fazemos bem ou não. Isso nada tem a ver conosco; como somos não é problema. Agradecemos a Deus porque a promessa vem de um lado apenas. Um lado é suficiente.
O versículo 21 diz: “É, porventura, a lei contrária às promessas de Deus? De modo nenhum!”. Os de pouco conhecimento podem dizer que a lei contradiz a graça. É correto dizer que a lei e a promessa são duas coisas completamente diferentes, mas não há nenhuma contradição; a lei é meramente o servo da promessa. É algo usado por Deus e inserido por Deus. Lei e promessa podem parecer contrárias em natureza, mas nas mãos de Deus elas não são nada contraditórias. A lei foi usada por Deus para cumprir Seu propósito. Sem a lei, a promessa de Deus não teria sido cumprida. Por favor, lembrem-se de que Deus usa a lei para cumprir esse objetivo. Portanto, a lei e a promessa em nada se contradizem. Paulo conclui desta maneira: “Porque, se fosse promulgada uma lei que pudesse dar vida, a justiça, na verdade, seria procedente de lei” (v. 21). Se um homem pudesse obter justiça pela lei, ele poderia ter vida por meio da lei. Entretanto, o homem não pode fazer isso. Portanto, “a Escritura encerrou tudo sob o pecado” (v. 22a). Que foi que Deus usou para encerrar-nos a todos?
Ele utilizou a lei. Quem quer que seja encerrado pela lei tem de admitir que é um pecador. Deus encerrou tudo sob o pecado “para que, mediante a fé em Jesus Cristo, fosse a promessa concedida aos que crêem” (v. 22b). Aleluia! A lei de Deus é algo que Deus usa para salvar-nos.
Não é algo que Deus usa para condenar-nos. A lei é totalmente algo usado por Deus. Cada um de nós foi encerrado. Cada um de nós é um pecador. Deus utilizou a lei a fim de mostrar-nos que somos pecadores para que Ele possa salvar-nos!