O Livro de Jó e a doutrina da Retribuição

Dificilmente o ser humano está preparado para as dificuldades. Isto porque todos só esperamos que nos aconteçam coisas boas. E quando somos surpreendidos por qualquer fatalidade ou adversidade, via de regra nos desesperamos. A grande verdade é que dificilmente nos preparamos para as más notícias! Como enfrentar a enfermidade ou a morte? Como superar as perdas de pessoas tão significativas e significantes? Como enfrentar as adversidades? Para estas perguntas sugiro buscarmos a instrução da Palavra de Deus, como por exemplo, no livro de Jó.

Neste livro observamos a mesma declaração afirmando que Jó era: "homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal." (Jó 1.1; 1,8). Observe-se que a primeira declaração quem faz é o autor do livro que inicia sua narrativa dizendo que "Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal". Já no oitavo versículo é Deus que está afirmando que "... Ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal".

Pois bem, surge então algumas questões: Se Jó era tão admirado pelos homens e até por Deus, além de ser um dos homens mais bem sucedidos, financeira e socialmente, e com uma família super bem estruturada, porque foi permitido pelo próprio Deus que várias tragédias recaissem sobre sua vida levando-o a perder seus bens, seus filhos e adoecer terrivelmente? Estaria Jó sobre a "maldição" do pecado cometido por algum de seus antepassados? Algum de seus contemporâneos teria lançado sobre a vida de Jó alguma "palavra de maldição"? A resposta de Jó aos anunciantes de sua falência é: "Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor" (21).

Ao passearmos pela narrativa em Jó observaremos que a sua mulher sugerindo-lhe que amaldiçoasse a Deus e se entregasse à morte, recebeu como resposta “... Receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal?” (2.10). Seus próprios amigos atribuem ao "pecado" o seu estado calamitoso; mas, consciente de sua fidelidade ao Senhor Jó responde-lhes assim: “Ao que está aflito devia o amigo mostrar compaixão, ainda ao que deixasse o temor do Todo-Poderoso; Há porventura iniqüidade na minha língua?; Vós, porém, sois inventores de mentiras, e vós todos médicos que não valem nada; Porque há esperança para a árvore que, se for cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus renovos. Se envelhecer na terra a sua raiz, e o seu tronco morrer no pó, Ao cheiro das águas brotará, e dará ramos como uma planta” (6.14,30; 13.4,14-16; 14.7-9).

Somente a partir do capítulo 38 iremos ouvir Deus se dirigindo a Jó. Deus começa a mostrar-se como o Criador de todas as coisas, aquele que tem controle sobre todas as coisas, aquele que tem poder para fazer e desfazer quaisquer que sejam as coisas; enfim, Deus mostra-se a Jó fazendo-o compreender que nada acontece que não seja sem propósito e por sua soberana vontade. Já no capítulo 40 observamos que Jó compreende, de fato e de verdade, que Deus é e está acima de todas as coisas, além de deter todo o poder sobre tudo e todos (“Após si deixa uma vereda luminosa; parece o abismo tornado em brancura de cãs. Na terra não há coisa que se lhe possa comparar, pois foi feito para estar sem pavor. Ele vê tudo que é alto; é rei sobre todos os filhos da soberba; Então respondeu Jó ao Senhor, dizendo: Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido. Quem é este, que sem conhecimento encobre o conselho? Por isso relatei o que não entendia; coisas que para mim eram inescrutáveis, e que eu não entendia. Escuta-me, pois, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos. Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (41.32-34; 42.1-6). A partir do capítulo 42.10-17 vemos a restauração de todos os bens de Jó. Nasceram-lhe outros dez filhos e foi mais próspero do que era antes.

O tema central do livro de Jó não é o problema do mal, nem o sofrimento do justo e inocente, mas a natureza da relação entre o homem e Deus, em oposição à teologia da retribuição, que era a crença generalizada entre o povo antigo, onde as boas ações que alguém faz atraem a benção de Deus, e as más ações atraem o castigo. Um determinado ato, bom ou mau, acarretava uma conseqüência que estava baseada em Deus. Uns pensam que Deus é injusto porque põe nos ombros de uns, as culpas de outros; outros acham que Deus não faz nada e que os abandonou. A confissão final de Jó - "Eu te conhecia só de ouvir. Agora, porém, meus olhos te vêem" (42.5), é o ponto de chegada de todo o livro, opondo-se à doutrina da retribuição. A história mostra Jó como exemplo de fé e paciência. Deus conversa com ele, mostra-lhe alguns detalhes de sua criação e também como tudo é controlado por ele. Mas a tão esperada resposta que Jó queria já havia sido dada a satanás; que desafiou Deus a “desproteger” tirando tudo, inclusive sua saúde, e assim Jó blasfemaria, o que não aconteceu. Tudo está nas mãos de Deus! Nada escapa ao seu controle! A transformação interior de Jó acontece sem que nenhuma modificação exterior tenha ocorrido. No sofrimento, ele se transforma. Só então, segundo a história, Deus dá em dobro o que Jó tinha antes. Quebra-se então, o dogma da retribuição, essa teologia se mostra ineficaz. Jó precisava de uma experiência relacional com Deus! Por isso afirma que “agora os meus olhos te vêem” (42.5).

Aprendamos, então, com a lição de Jó! Busquemos uma relação com o Senhor, independente de nossas lutas e adversidades! Mesmo parecendo estar desprotegidos, Deus controla tudo e todos para que suas bênçãos recaiam sobre nossas vidas. Nada acontecerá que não esteja nos planos e nos desígnios divinos. Nada que façamos, ou quem quer que seja faça, vai alterar o que Deus reservou para nós. É pois, mentirosa a doutrina da retribuição!

Graça e Paz da parte de Cristo Jesus, o Senhor da Igreja!

PaPeL
Enviado por PaPeL em 23/02/2011
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