O Cordeiro de Deus
Reflexões sobre o Evangelho Segundo São João (7a semana)
“No dia seguinte, João viu Jesus que vinha a ele e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. (...) No dia seguinte, estava lá João outra vez com dois dos seus discípulos. E, avistando Jesus que ia passando, disse: Eis o Cordeiro de Deus.” (Jo 1,29;35-36)
Como vimos na semana passada, João exortava, principalmente, os judeus em sua peregrinação, para a necessidade da mudança que deveria ocorrer na vida das pessoas, abandonando o mal e enaltecendo a honestidade, a não-violência e o desapego às coisas do mundo, pois deveriam contentar-se com o que tivessem. Dessa forma, João apontava aos judeus o caminho para a santidade e para o reino vindouro. Porém, além de orientar as pessoas para a necessária mudança, evitando as más condutas, João buscava, também, identificar o Rei que estava por vir, sobre quem profetizava. Por isso que, ao encontrar Jesus, imediatamente disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29).
Porém, o que significa, de fato, ser o “Cordeiro de Deus” (Agnus Dei, em latim)?
O sacrifício de cordeiros teve um importante papel na vida religiosa dos judeus, pois a morte de um animal, preferencialmente de um cordeiro, em oferecimento a Deus, visava à remissão de seus pecados.
Podemos encontrar, na Sagrada Escritura, diversos relatos de imolações de animais, especialmente de cordeiros, de preferência sem manchas, como sacrifícios expiatórios, cuja finalidade era a de reparar os pecados do povo. Tal prática manteve-se presente por toda a caminhada dos hebreus até a sua chegada à terra prometida, e depois, enquanto tribos, ao se tornarem em um reinado, e mesmo ao serem conquistados por outros povos (babilônicos, assírios, persas, gregos e romanos). Depois de seu retorno a Judá e da reconstrução do templo de Jerusalém, após o exílio, ainda enquanto conquistados pelos persas, o sacrifício diário se manteve presente, pela manhã e à noite, com a morte de um cordeiro no Templo, pela expiação de seus pecados (Êxodo 29:38-42).
Destacava-se, também, como uma das principais festas do povo de Israel a celebração da páscoa judaica, pois, com ela, traziam à memória de quando Deus livrou-os da escravidão no Egito. Relembravam, com o sacrifício de cordeiros, o cordeiro pascal imolado pelos hebreus no Egito e seu sangue derramado sobre as portas, ato que possibilitou o reconhecimento do povo de Deus pelos anjos, livrando-os da morte (Ex 12,13).
Tal prática sacrificial manteve-se presente, mesmo com os questionamentos do profeta Isaías que apontava ser muito mais importante as ações do cotidiano, do que o próprio holocausto, com a morte de animais no templo:
“De que me serve a mim a multidão das vossas vítimas?, diz o Senhor. Já estou farto de holocaustos de cordeiros e da gordura de novilhos cevados. Eu não quero sangue de touros e de bodes. De nada serve trazer oferendas; tenho horror da fumaça dos sacrifícios. (...) Tirai vossas más ações de diante de meus olhos. Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido; fazei justiça ao órfão, defendei a viúva.” (Is 1,11-17)
Entretanto, como a prática era rotineira, o próprio profeta Isaías, um dos profetas messiânicos, utilizava a imagem de cordeiro para antever a chegada do Messias, trazendo-nos a destacável imagem de entrega humilde e silenciosa do futuro salvador: “Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador.” (Is 53,7) Tal trecho também pode ser encontrado, como citação, em Atos dos Apóstolos, ao ser lembrado, Jesus, na sua silenciosa entrega (At 8,32).
João Batista, então, identificara Jesus como o cordeiro pascal, a ser “levado ao matadouro” pelo pecado da humanidade. Dessa forma, após o Batismo, Jesus Cristo passou a ser o Cordeiro de Deus, não aquele cordeiro imolado na celebração da Páscoa judaica, ligado à libertação física do povo de Israel do cativeiro, mas sim, o Cordeiro que se doou para a libertação espiritual do pecado.
Porém, Cristo Jesus, além de vir ao mundo como o “Cordeiro de Deus”, imolado para a nossa salvação, explicou e demonstrou a forma de vida que seus seguidores deveriam ter.
Ele não solicita aos cristãos a violência das conquistas, tampouco o espírito agressivo e guerreiro, característica que o povo de Israel esperava de seu salvador, mas o exercício da bondade, cujas raízes alimentam-se da humildade e expressa-se na mansidão.
Pelo exposto, “Cordeiro de Deus” passou a ser utilizada, no cristianismo, para se referir a Jesus Cristo, tomando a extraordinária imagem do trabalho expiatório de Cristo na cruz, identificando-O como o salvador da humanidade. Jesus foi exaltado, quando humilhado, e glorificado, quando imolado. Sua morte expiatória, seu sacrifício supremo, sem sombra de dúvida, foi o maior ato de amor de Deus para com a humanidade.
Assim sendo, quando Jesus foi chamado de Cordeiro de Deus por João Batista, foi uma referência ao fato de que Ele é o sacrifício perfeito e definitivo pela salvação da humanidade.
São Paulo, em sua epístola aos romanos, traz-nos, de forma retumbante, a silenciosa, mas glorificante, ação de Cristo como cordeiro imolado na Cruz. Destaca a vitória sobre a morte e a remissão dos pecados. Vejamos o texto:
“De agora em diante, pois, já não há nenhuma condenação para aqueles que estão em Jesus Cristo. A lei do Espírito de Vida me libertou, em Jesus Cristo, da lei do pecado e da morte. O que era impossível à lei, visto que a carne a tornava impotente, Deus o fez. Enviando, por causa do pecado, o seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado, condenou o pecado na carne, a fim de que a justiça, prescrita pela lei, fosse realizada em nós, que vivemos não segundo a carne, mas segundo o espírito.” (Rm 8,1-5)
São Pedro, em sua primeira carta, exorta que não foi por bens perecíveis que fomos resgatados, mas sim, “pelo precioso sangue de Cristo, o Cordeiro imaculado e sem defeito algum, aquele que foi predestinado antes da criação do mundo e que foi manifestado por amor à humanidade". (I Pd 1,18-20)
Até o final da Sagrada Escritura, Jesus Cristo é destacado como o Cordeiro de Deus, sendo frisada, no Apocalipse, entre outras formas, a vitória pelo “sangue do Cordeiro e de seu eloqüente testemunho” (Ap 12,11).
O Cordeiro de Deus, ao abraçar calado seu sacrifício expiatório, envia-nos, também, como cordeiros entre lobos (Lc 10,3). Não para sofrermos a morte dolorosa na cruz em benefício da salvação da humanidade, mas para, com ele, mantermos presentes e vivos os seus ensinamentos, cuja defesa e propagação deverá ser, jamais, pela violência ou soberba, mas sim, pelo eloqüente exemplo da mansidão e da humildade.
Que sejamos como Simão Cireneu, ao ajudar a Jesus a carregar sua cruz. Que o façamos, hoje, como cordeiros, na luta árdua, entre lobos, para mantermos viva a presença de Cristo no mundo, e que disseminemos seus ensinamentos, não apenas com palavras, mas com efetivas ações.
Fiquem com Deus!
Reflexões sobre o Evangelho Segundo São João (7a semana)
“No dia seguinte, João viu Jesus que vinha a ele e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. (...) No dia seguinte, estava lá João outra vez com dois dos seus discípulos. E, avistando Jesus que ia passando, disse: Eis o Cordeiro de Deus.” (Jo 1,29;35-36)
Como vimos na semana passada, João exortava, principalmente, os judeus em sua peregrinação, para a necessidade da mudança que deveria ocorrer na vida das pessoas, abandonando o mal e enaltecendo a honestidade, a não-violência e o desapego às coisas do mundo, pois deveriam contentar-se com o que tivessem. Dessa forma, João apontava aos judeus o caminho para a santidade e para o reino vindouro. Porém, além de orientar as pessoas para a necessária mudança, evitando as más condutas, João buscava, também, identificar o Rei que estava por vir, sobre quem profetizava. Por isso que, ao encontrar Jesus, imediatamente disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29).
Porém, o que significa, de fato, ser o “Cordeiro de Deus” (Agnus Dei, em latim)?
O sacrifício de cordeiros teve um importante papel na vida religiosa dos judeus, pois a morte de um animal, preferencialmente de um cordeiro, em oferecimento a Deus, visava à remissão de seus pecados.
Podemos encontrar, na Sagrada Escritura, diversos relatos de imolações de animais, especialmente de cordeiros, de preferência sem manchas, como sacrifícios expiatórios, cuja finalidade era a de reparar os pecados do povo. Tal prática manteve-se presente por toda a caminhada dos hebreus até a sua chegada à terra prometida, e depois, enquanto tribos, ao se tornarem em um reinado, e mesmo ao serem conquistados por outros povos (babilônicos, assírios, persas, gregos e romanos). Depois de seu retorno a Judá e da reconstrução do templo de Jerusalém, após o exílio, ainda enquanto conquistados pelos persas, o sacrifício diário se manteve presente, pela manhã e à noite, com a morte de um cordeiro no Templo, pela expiação de seus pecados (Êxodo 29:38-42).
Destacava-se, também, como uma das principais festas do povo de Israel a celebração da páscoa judaica, pois, com ela, traziam à memória de quando Deus livrou-os da escravidão no Egito. Relembravam, com o sacrifício de cordeiros, o cordeiro pascal imolado pelos hebreus no Egito e seu sangue derramado sobre as portas, ato que possibilitou o reconhecimento do povo de Deus pelos anjos, livrando-os da morte (Ex 12,13).
Tal prática sacrificial manteve-se presente, mesmo com os questionamentos do profeta Isaías que apontava ser muito mais importante as ações do cotidiano, do que o próprio holocausto, com a morte de animais no templo:
“De que me serve a mim a multidão das vossas vítimas?, diz o Senhor. Já estou farto de holocaustos de cordeiros e da gordura de novilhos cevados. Eu não quero sangue de touros e de bodes. De nada serve trazer oferendas; tenho horror da fumaça dos sacrifícios. (...) Tirai vossas más ações de diante de meus olhos. Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido; fazei justiça ao órfão, defendei a viúva.” (Is 1,11-17)
Entretanto, como a prática era rotineira, o próprio profeta Isaías, um dos profetas messiânicos, utilizava a imagem de cordeiro para antever a chegada do Messias, trazendo-nos a destacável imagem de entrega humilde e silenciosa do futuro salvador: “Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador.” (Is 53,7) Tal trecho também pode ser encontrado, como citação, em Atos dos Apóstolos, ao ser lembrado, Jesus, na sua silenciosa entrega (At 8,32).
João Batista, então, identificara Jesus como o cordeiro pascal, a ser “levado ao matadouro” pelo pecado da humanidade. Dessa forma, após o Batismo, Jesus Cristo passou a ser o Cordeiro de Deus, não aquele cordeiro imolado na celebração da Páscoa judaica, ligado à libertação física do povo de Israel do cativeiro, mas sim, o Cordeiro que se doou para a libertação espiritual do pecado.
Porém, Cristo Jesus, além de vir ao mundo como o “Cordeiro de Deus”, imolado para a nossa salvação, explicou e demonstrou a forma de vida que seus seguidores deveriam ter.
Ele não solicita aos cristãos a violência das conquistas, tampouco o espírito agressivo e guerreiro, característica que o povo de Israel esperava de seu salvador, mas o exercício da bondade, cujas raízes alimentam-se da humildade e expressa-se na mansidão.
Pelo exposto, “Cordeiro de Deus” passou a ser utilizada, no cristianismo, para se referir a Jesus Cristo, tomando a extraordinária imagem do trabalho expiatório de Cristo na cruz, identificando-O como o salvador da humanidade. Jesus foi exaltado, quando humilhado, e glorificado, quando imolado. Sua morte expiatória, seu sacrifício supremo, sem sombra de dúvida, foi o maior ato de amor de Deus para com a humanidade.
Assim sendo, quando Jesus foi chamado de Cordeiro de Deus por João Batista, foi uma referência ao fato de que Ele é o sacrifício perfeito e definitivo pela salvação da humanidade.
São Paulo, em sua epístola aos romanos, traz-nos, de forma retumbante, a silenciosa, mas glorificante, ação de Cristo como cordeiro imolado na Cruz. Destaca a vitória sobre a morte e a remissão dos pecados. Vejamos o texto:
“De agora em diante, pois, já não há nenhuma condenação para aqueles que estão em Jesus Cristo. A lei do Espírito de Vida me libertou, em Jesus Cristo, da lei do pecado e da morte. O que era impossível à lei, visto que a carne a tornava impotente, Deus o fez. Enviando, por causa do pecado, o seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado, condenou o pecado na carne, a fim de que a justiça, prescrita pela lei, fosse realizada em nós, que vivemos não segundo a carne, mas segundo o espírito.” (Rm 8,1-5)
São Pedro, em sua primeira carta, exorta que não foi por bens perecíveis que fomos resgatados, mas sim, “pelo precioso sangue de Cristo, o Cordeiro imaculado e sem defeito algum, aquele que foi predestinado antes da criação do mundo e que foi manifestado por amor à humanidade". (I Pd 1,18-20)
Até o final da Sagrada Escritura, Jesus Cristo é destacado como o Cordeiro de Deus, sendo frisada, no Apocalipse, entre outras formas, a vitória pelo “sangue do Cordeiro e de seu eloqüente testemunho” (Ap 12,11).
O Cordeiro de Deus, ao abraçar calado seu sacrifício expiatório, envia-nos, também, como cordeiros entre lobos (Lc 10,3). Não para sofrermos a morte dolorosa na cruz em benefício da salvação da humanidade, mas para, com ele, mantermos presentes e vivos os seus ensinamentos, cuja defesa e propagação deverá ser, jamais, pela violência ou soberba, mas sim, pelo eloqüente exemplo da mansidão e da humildade.
Que sejamos como Simão Cireneu, ao ajudar a Jesus a carregar sua cruz. Que o façamos, hoje, como cordeiros, na luta árdua, entre lobos, para mantermos viva a presença de Cristo no mundo, e que disseminemos seus ensinamentos, não apenas com palavras, mas com efetivas ações.
Fiquem com Deus!