APELO AOS NOSSOS ANJOS DA GUARDA

Temo pelo meu destino, mas, não temo apenas pelo meu destino, que esta escuridão sem respostas e para a qual não se veem saídas, não me pertence, apenas.

Temo pela nossa vida e também pela nossa sanidade mental. Creio que haja uma agravante para a minha dor pessoal: enquanto os outros personagens desta história gótica,surrealista, de teatro do absurdo, para dizer o mínimo, para dizer o possível de dizer, se creem perfeitamente inocentes de tudo e se julgam minhas vítimas, não me atribuindo qualquer atenuante, logo, preocupados, em essência, com seus próprios destinos e com sua própria sanidade mental, eu, que sei das minhas culpas, não consigo sofrer só por mim nem consigo me preocupar apenas comigo mesma.

Certamente, não me julgo inocente, embora saiba que todo esse horror que nos coube e nos cabe, horror só agora, décadas depois, revelado em sua verdadeira dimensão e real plenitude é fruto, tal horror, da cumplicidade nos erros, da cumplicidade nas ações, da cumplicidade nas omissões e, acima de tudo, é fruto de Silêncios que, crendo-se necessários, acabaram por revelar-se, sem que o pretendessem, Silêncios assassinos.

Sei que não me cabe tentar defender-me diante de tais parceiros, condenada que fui por eles, de modo implacável, inapelável. A vida selou nossas bocas para um confronto que, se pudesse ter sido a tempo, talvez nos pudesse ter revelado verdadeiramente uns aos outros, também nos nossos enganos, e nos tivesse permitido o saneamento de, ao menos, algum dos caminhos. Talvez tal confronto nos tivesse matado, de chofre, de imediato. Agora, é tarde demais para tudo, a não ser para essa morte contínua, terrível, sem remédio, sem antídoto.

Rogo aos Anjos da Nossa Guarda, guardiães dos nossos segredos, que se mantenham em vigília por nós, neste tempo de Dor Indizível, em que tudo em nós está em Risco. Intercedei por nós diante do Plano Maior, Anjos da Nossa Guarda. Intercedei por nós, por cada um de nós. Intercedei, para que ainda nos possamos salvar de nós, em nós. Sozinhos, não nos sabemos mais nem nos estamos conseguindo valer, nem a nós próprios, nem uns aos outros. Intercedei por nós, Anjos da Nossa Guarda. Que assim seja!

Na tarde de 10 de fevereiro de 2011, por Zuleika dos Reis.