Somos de cristãos de palavras ou de coração?
«Os fariseus e alguns mestres da Lei vieram de Jerusalém e se reuniram em torno de Jesus. Eles viam que alguns dos seus discípulos comiam o pão com as mãos impuras, isto é, sem as terem lavado. Com efeito, os fariseus e todos os judeus só comem depois de lavar bem as mãos, seguindo a tradição recebida dos antigos. Ao voltar da praça, eles não comem sem tomar banho. E seguem muitos outros costumes que receberam por tradição: a maneira certa de lavar copos, jarras e vasilhas de cobre. Os fariseus e os mestres da Lei perguntaram então a Jesus: “Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?” Jesus respondeu: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos’. Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens.” E dizia-lhes: “Vós sabeis muito bem como anular o mandamento de Deus, a fim de guardar as vossas tradições.”» (Mc 7,1-9)
Caros amigos, gostaria de compartilhar com vocês algumas reflexões sobre a passagem assim transcrita.
Ao deparar-me com ele, mais uma vez, pensei muito, e, sofregamente, fui buscar, em minha vida cotidiana, tanto religiosa, como médica, momentos que contrapusessem a postura dos fariseus e mestres da Lei críticos dos discípulos de Jesus.
Entristeci-me! O que de muito encontrei, foram pensamentos e atitudes muito mais próximas dos deles. Imediatamente, lembrei-me do Evangelho de São Mateus, ao nos trazer a seguinte fala de Cristo: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros caiados: por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão.” (Mt 23,27)
De fato, apesar de nossa essência pura, “a imagem e semelhança do Criador”, apesar da morte redentora de Cristo Jesus, visando a nossa libertação do pecado e da morte, salvando-nos das garras deste mundo e tornando-nos, verdadeiramente, filhos do Pai, o mal ainda nos atrai! As virtudes infusas, ou seja, as faculdades ou potencialidades que inseridas por Deus em nossos corações para que possamos viver, dignamente, a “nova vida”, sempre encontram a nossa razão como obstáculo, assim como as nossas fraquezas e as tentações advindas do mundo, as quais são freqüentemente acolhidas pela nossa concupiscência, antepondo-se à graça recebida.
Queridos e queridas irmãs, a força moral e mental que precisamos ter para nos contrapor às forças que nos afastam de Deus somente serão eficazes se a ela associarmos a força de Deus. Pobres de nós, fracos e indefesos, e que acreditamos ser capazes de construir nosso próprio caminho do bem, e de nos afastar dos objetos de desejo que nos prende a este mundo, a velha vida!
Não podemos nos esquecer que, os objetos de desejo existem, estão a nossa volta e a maioria é bastante atraente. O grande problema não está na sua existência, mas sim, no apego que construímos por eles, em nossa alma. A presença do mal é inevitável, apesar do mal ter sua origem na inexistência do bem e, na sua ausência, construímos e damos “vida” ao mal, a nossa primeira luta não deve ser contra o mal que nos cerca, mas sim, contra o nosso apego a ele, contra o desejo que temos, consciente ou inconscientemente, de nos “aprisionarmos” ao objeto de nosso desejo, ao mal que nos atrai, com a bela e encantadora imagem do prazer, prazer não apenas do corpo, mas também do intelecto e da alma.
A vaidade não seria um perigoso e atraente prazer da alma, principalmente a vaidade das idéias, o apego as próprias verdades que tanto lutamos por elas? A soberba, também não o seria? Podemos não ser vaidosos com o nosso corpo, por exemplo, mas quantos de nós não acolhemos e acalentamos a vaidade intelectual, a vaidade de termos a verdade e estarmos sempre com ela?
Enfim, não precisamos gastar muito tempo para nos vermos bastante próximos dos fariseus e mestres da Lei, do que dos discípulos de Cristo.
Quando Jesus cita, na passagem apresentada a inicial, o profeta Isaías, dizendo: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim” (Is 29,13), Ele chama a nossa atenção para a seguinte pergunta: Somos cristãos de palavras ou de coração?
Se vivemos uma religiosidade “de fachada”, cumprindo, apenas, preceitos, normas e rituais, em nada diferindo dos diversos rituais existentes por aí, somente, pela fala mais bonita ou cheia de frases com efeitos especiais, estamos sendo meros cristãos de palavras. Entretanto, se amamos a Deus, aos nossos irmãos, templos vivos do Senhor, independentemente de como eles são, e procuramos servir a Deus em nosso cotidiano, na valorização da pessoa humana e na promoção da sua dignidade, estamos, de fato, aproximando-nos da desejada postura do cristão de coração. Até porque, o cristão de coração tende a pouca fala, nem sempre com palavras bonitas, mas nutre um intenso amor pelas pessoas, pois vê nelas o próprio Cristo, sendo, com isso, solidário, generoso e fraterno.
Vigilância, caríssimas irmãs e caríssimos irmãos, atenção e prudência são ações que devem fazer parte de nosso cotidiano, na certeza de que, somente atados a Cristo, deixando-nos ser içados por Ele, permitindo que o Espírito Santo viva por nós e não apenas conosco, é que conseguiremos sair dessa armadilha – visualizarmo-nos como bons filhos, mas, sorrateiramente, trilharmos por caminhos opostos.
Fiquem com Deus!
«Os fariseus e alguns mestres da Lei vieram de Jerusalém e se reuniram em torno de Jesus. Eles viam que alguns dos seus discípulos comiam o pão com as mãos impuras, isto é, sem as terem lavado. Com efeito, os fariseus e todos os judeus só comem depois de lavar bem as mãos, seguindo a tradição recebida dos antigos. Ao voltar da praça, eles não comem sem tomar banho. E seguem muitos outros costumes que receberam por tradição: a maneira certa de lavar copos, jarras e vasilhas de cobre. Os fariseus e os mestres da Lei perguntaram então a Jesus: “Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?” Jesus respondeu: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos’. Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens.” E dizia-lhes: “Vós sabeis muito bem como anular o mandamento de Deus, a fim de guardar as vossas tradições.”» (Mc 7,1-9)
Caros amigos, gostaria de compartilhar com vocês algumas reflexões sobre a passagem assim transcrita.
Ao deparar-me com ele, mais uma vez, pensei muito, e, sofregamente, fui buscar, em minha vida cotidiana, tanto religiosa, como médica, momentos que contrapusessem a postura dos fariseus e mestres da Lei críticos dos discípulos de Jesus.
Entristeci-me! O que de muito encontrei, foram pensamentos e atitudes muito mais próximas dos deles. Imediatamente, lembrei-me do Evangelho de São Mateus, ao nos trazer a seguinte fala de Cristo: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros caiados: por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão.” (Mt 23,27)
De fato, apesar de nossa essência pura, “a imagem e semelhança do Criador”, apesar da morte redentora de Cristo Jesus, visando a nossa libertação do pecado e da morte, salvando-nos das garras deste mundo e tornando-nos, verdadeiramente, filhos do Pai, o mal ainda nos atrai! As virtudes infusas, ou seja, as faculdades ou potencialidades que inseridas por Deus em nossos corações para que possamos viver, dignamente, a “nova vida”, sempre encontram a nossa razão como obstáculo, assim como as nossas fraquezas e as tentações advindas do mundo, as quais são freqüentemente acolhidas pela nossa concupiscência, antepondo-se à graça recebida.
Queridos e queridas irmãs, a força moral e mental que precisamos ter para nos contrapor às forças que nos afastam de Deus somente serão eficazes se a ela associarmos a força de Deus. Pobres de nós, fracos e indefesos, e que acreditamos ser capazes de construir nosso próprio caminho do bem, e de nos afastar dos objetos de desejo que nos prende a este mundo, a velha vida!
Não podemos nos esquecer que, os objetos de desejo existem, estão a nossa volta e a maioria é bastante atraente. O grande problema não está na sua existência, mas sim, no apego que construímos por eles, em nossa alma. A presença do mal é inevitável, apesar do mal ter sua origem na inexistência do bem e, na sua ausência, construímos e damos “vida” ao mal, a nossa primeira luta não deve ser contra o mal que nos cerca, mas sim, contra o nosso apego a ele, contra o desejo que temos, consciente ou inconscientemente, de nos “aprisionarmos” ao objeto de nosso desejo, ao mal que nos atrai, com a bela e encantadora imagem do prazer, prazer não apenas do corpo, mas também do intelecto e da alma.
A vaidade não seria um perigoso e atraente prazer da alma, principalmente a vaidade das idéias, o apego as próprias verdades que tanto lutamos por elas? A soberba, também não o seria? Podemos não ser vaidosos com o nosso corpo, por exemplo, mas quantos de nós não acolhemos e acalentamos a vaidade intelectual, a vaidade de termos a verdade e estarmos sempre com ela?
Enfim, não precisamos gastar muito tempo para nos vermos bastante próximos dos fariseus e mestres da Lei, do que dos discípulos de Cristo.
Quando Jesus cita, na passagem apresentada a inicial, o profeta Isaías, dizendo: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim” (Is 29,13), Ele chama a nossa atenção para a seguinte pergunta: Somos cristãos de palavras ou de coração?
Se vivemos uma religiosidade “de fachada”, cumprindo, apenas, preceitos, normas e rituais, em nada diferindo dos diversos rituais existentes por aí, somente, pela fala mais bonita ou cheia de frases com efeitos especiais, estamos sendo meros cristãos de palavras. Entretanto, se amamos a Deus, aos nossos irmãos, templos vivos do Senhor, independentemente de como eles são, e procuramos servir a Deus em nosso cotidiano, na valorização da pessoa humana e na promoção da sua dignidade, estamos, de fato, aproximando-nos da desejada postura do cristão de coração. Até porque, o cristão de coração tende a pouca fala, nem sempre com palavras bonitas, mas nutre um intenso amor pelas pessoas, pois vê nelas o próprio Cristo, sendo, com isso, solidário, generoso e fraterno.
Vigilância, caríssimas irmãs e caríssimos irmãos, atenção e prudência são ações que devem fazer parte de nosso cotidiano, na certeza de que, somente atados a Cristo, deixando-nos ser içados por Ele, permitindo que o Espírito Santo viva por nós e não apenas conosco, é que conseguiremos sair dessa armadilha – visualizarmo-nos como bons filhos, mas, sorrateiramente, trilharmos por caminhos opostos.
Fiquem com Deus!