DEVEMOS SER PERFEITOS
Iniciemos o tema com uma pergunta intrigante: poderia o homem alcançar a perfeição antes mesmo da segunda vinda de Cristo? Inúmeros debates já foram promovidos acerca desse mote, que ainda causa discrepância entre os participantes. A maioria dos cristãos, em quase a sua totalidade, crê que ninguém é perfeito e que só alcançaremos tal proeza quando Jesus Cristo retornar. “Aí, sim”, dizem eles, “o homem poderá ser perfeito”.
Antes de efetivarmos prosseguição ao tema, convém analisarmos sob que prisma aferimos a perfeição a algo que apreciamos. Por exemplo: uma criança. Meu filho, Eduardo Kowalsky, tem seis anos de idade. Indago: é o meu filho, perfeito? Bem, se consultarmos uma pediatra e lhe pedirmos que nos forneça uma avaliação sobre o meu filho, ela nos dirá que ele atende a todos os requisitos de uma criança da sua idade, quanto aos reflexos, atitudes, tamanho, peso, etc.. Podemos asserir indubitavelmente que meu filho é perfeito. Há dois anos ele se adequava às expectativas de uma criança de quatro anos, e, assim, sucessivamente. Entretanto, se compararmos a um adulto, perceberemos que ele não é perfeito, pois, em determinadas situações somos levados a chamar a sua atenção, por conta de uma atitude que não admitimos ocorrer. Outro dia, trouxe para casa alguns documentos do trabalho, com a finalidade de averiguar melhor sua matéria, em face de sua complexidade. Meu filho, enquanto estudo as Escrituras com minha esposa, sempre nos acompanha, procurando em sua Bíblia as passagens que citamos. Ele, não poucas vezes, está a nos observar como nos comportamos nesses comenos. Temos o hábito de anotarmos no cantinho do versículo outra passagem, criando um índice remissivo a partir daquele ponto. Muitas vezes, até, sublinho o texto, como forma de destaque. Então, num determinado dia, resolvi me debruçar sobre o assunto do meu trabalho que ficara pendente. Qual não foi minha surpresa! Havia um parágrafo, quase inteiro, sublinhado. Malgrado meu garoto tenha feito aquelas alterações indevida e ilegitimamente, sua mãozinha foi guiada a fazer uma marca bem feita e no lugar certo, como se estivesse entendendo o que fazia. Mesmo assim, foi mister orientá-lo a não mais fazer aquilo, uma vez que ele correria o risco de inutilizar o expediente. Daí, eu pergunto: um adulto faria isso desenganadamente? Claro que não. Mas o que diríamos para defender o ato do meu garoto? “Ele é apenas uma criança!” Isso nos leva a concluir que o meu filho é perfeito quando o parâmetro de avaliação a ser utilizado é o seu mundo infantil, contudo, se mudarmos a referência, notamos que ele não é perfeito por que tem muito que aprender e apreender na vida.
Não será difícil entender, agora, o que parece uma contradição do apóstolo São Paulo, quando escreveu a carta aos irmãos que estavam em Filipos. Comparando os textos encontrados em Filipenses 3:12 e 15, nos deparamos com uma situação de aparente antagonismo. Vejamos.
“Não que já a tenha alcançado, OU QUE SEJA PERFEITO; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus”. Verso 12.
“Por isso todos quantos JÁ SOMOS PERFEITOS, sintamos isto mesmo; e, se sentis alguma coisa de outra maneira, também Deus vo-lo revelará”. Verso 15.
No versículo doze, Paulo nos diz que ele não alcançou a perfeição, enquanto que no verso 15, ele assegura categoricamente que é perfeito. Em que pese aparentar oposição de idéias, na verdade ele está falando de dois pontos de referência de sua santificação. Todos sabemos que o caráter de Deus é infinito, e por ser infinito jamais alcançaremos a perfeição plena. Paulo referia-se a essa plenitude no verso 12. A santificação é uma obra que dura a vida toda. E por quanto tempo viverão os santos do Senhor? Eternamente. Então, a santificação é eterna, nunca tendo um fim. Ora santificação é a lapidação progressiva e constante do nosso caráter segundo o de Deus. Entretanto, quando Paulo baixa os olhos e os nivela com seus irmãos crentes, ele se sente capaz em dizer “somos perfeitos”. Lembremo-nos do meu garoto! Enquanto o contemplo, tomando como referência uma criança de seis anos, vejo-o perfeito, mas quando o comparo a mim, percebo que tem muito caminho para ele percorrer. Não o vejo perfeito, pois não age como adulto. Assim, em cada fase de crescimento do crente, aos olhos de Deus ele é perfeito, pois atende às expectativas divinas. Quais? Ele cresce fiel à luz que recebeu do Pai, obediente a cada reclamo divino. Deus vê nossas imperfeições, as nódoas do pecado agregadas ao novo ser, mas não as considera, pois enquanto o crente prossegue em sua jornada, a cada nova porção de luz derramada, não só lhe é concedido enxergar que ainda existe uma mancha a ser tirada, como de Deus lhe é outorgado o poder para suplantar aquela mácula. Durante a santificação, todo pecado conhecido é totalmente abandonado, e a cada revelação das imperfeições do caráter, Deus lhe concede poder para mortificar, de modo que o crente alcança mais e mais semelhança com o Salvador. Seu crescimento é constante, de fé em fé.
Não fosse assim, Deus não teria dito a Abraão:
“Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e SÊ PERFEITO”. Gênesis 17:1.
Podemos dizer, sem medo de errar, que uma pessoa que nasceu de novo e conseguintemente vive uma vida de obediência aos mandamentos de Deus, ela é perfeita aos Seus olhos. E recebendo nova luz, luz que delineia e traz ao seu conhecimento sua imperfeição de caráter [pecado], ele renova seu pacto com o Criador, e em Sua presença segue crescendo na graça. Está escrito:
“PERFEITO SERÁS, como o Senhor teu Deus”. Deuteronômio 18:13.
Sim, meus amados irmãos, podemos ser perfeitos. A perfeição é o efeito da santificação. Esta ocorre no interior, aquela no exterior. Nossos atos são perfeitos por que nosso ser está sendo santificado. Somos santificados pela contemplação do caráter de Cristo e os frutos do Espírito Santo são vistos em nós: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, domínio. Como são frutos, estão presentes em cada uma de nossas ações. Como o pensamento é o pai da ação, todos os nossos pensamentos se coadunam com Filipenses 4:8 e o resultado é uma vida de perfeição, em cada passo da nossa jornada cristã. Consoante o que já vimos, a perfeição em sua plenitude jamais alcançaremos, mas enquanto vivermos em conformidade com a luz que Deus nos conceder, Ele nos vê perfeitos.
Ainda ecoam as palavras do nosso amado e terno Senhor Jesus Cristo:
“SEDE VÓS PERFEITOS, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.” Mateus 5:48.
Que Deus nos abençoe!