Reflexões sobre o Evangelho Segundo São João (1a semana)
A partir desta semana, apresentaremos algumas reflexões sobre o Evangelho de Jesus Cristo segundo São João.
Semanalmente, tomando por base capítulos específicos deste maravilhoso Evangelho, serão destacados alguns aspectos singulares que São João lança a respeito da humanidade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Não pretendemos desenvolver profundos estudos teológicos a respeito, mas sim, trazer à tona as principais questões apontadas por São João sobre a vida de Cristo Jesus e sua missão na terra.
João, discípulo amado de Jesus, sendo o segundo mais mencionado em todo o Novo Testamento (46 vezes), haja vista que o nome de Apóstolo mais citado é o de Pedro (171 vezes), apresenta uma perspectiva especial da vida de Jesus Cristo. Seu Evangelho difere dos outros três (Mateus, Marcos e Lucas), também conhecidos como Evangelhos sinóticos, por se ater, mais fortemente, aos temas espirituais, ao invés dos eventos históricos. Mesmo quando se refere aos acontecimentos igualmente narrados pelos demais evagelhistas, João sempre os apresenta com perspectivas e pormenores diferentes.
O Evangelho Segundo São João vem sendo destacado por sua característica mais cosmológica em escala e mística em natureza, ao ser comparado com os demais Evangelhos canônicos. A espiritualidade e o exoterismo que o caracteriza, de tal forma vem sendo ponto de reflexão, levando Clemente de Alexandria (cerca 215) a seguinte reflexão: “Por último, João, percebeu que os fatos externos tinham sido explicado nos Evangelhos, estimulado pelos amigos e inspirado pelo Espírito, compôs um Evangelho Espiritual”.
O quarto Evangelho tem como tema chave a apresentação de Jesus como o Filho de Deus. João declara, de forma inequívoca, a finalidade do livro:
“Fez Jesus, na presença dos seus discípulos, ainda muitos outros milagres que não estão escritos neste livro. Mas estes foram escritos, para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.” (Jo 20, 30-31).
Nos Evangelhos Sinópticos, toda a vida pública de Jesus limita-se, basicamete, a Galiléia, numa única viagem a Jerusalém, e na breve presença nesta cidade pela Páscoa da Paixão e Morte. No Evangelho de João, Jesus realiza seu ministério, sobretudo, na Judeia e em Jerusalém, por onde passa, pelo menos, em três anos seguidos, identificados pelas três Páscoas diferentemente citadas no Livro de João (Jo 2,13; 6,4; 11,55). Percebe-se que, nos demais Evangelhos, toda a aparição de Jeus reduz-se a, somente, um ano.
O vocabulário do quarto Evangelho é reduzido, porém basteante expressivo, de forte poder evocativo. Nele, a doutrina de Jesus é exposta em longos e misteriosos discursos, através de uma linguagem própria e extremamente simbólica.
O simbolismo empregado por São João, pertencente à própria estrutura de seu Evangelho, é organizado para revelar tudo o que nele se relata: discursos, diálogos e milagres. A apresentação dos milagres não busca destacar a importância do fato em si, mas sim, apontar para a revelação da identidade, do poder e da glória de Cristo Jesus, e é por isso que os milagres são chamados “sinais”. Até porque, ao se buscar a origem da palavra milagre (no latim = miraculum) evidencia-se “o que provoca admiração”, justificando, assim, o termo utilizado por São João (seméion = sinal). Tal fato, faz-nos lembrar S. Agostinho ao dizer que aqueles que não conseguem “ler” o significado transcendental dos milagres realizados por Jesus, assemelham-se ao analfabeto diante da letra escrita, admirando-a, mas, por não as compreender, perde seu verdadeiro sentido.
O Evangelho segundo João, propoe-se a ajudar-nos a compreender o mistério da pessoa e da obra salvadora de Jesus, e destinou-se, inicialmente, tanto aos cristãos advindos do paganismo, assim como àqueles de origem judaica, que apresentavam extrema dificuldade em aceitar a natureza divina de Jesus, e possuiam destacado vínculo às instituições religiosas judaicas. Com isso, além de sublinhar o realismo da humanidade de Jesus, João não deixa de destacar sua natureza divina e messiânica.
Além dos temas fundamentais da fé e do amor, João apresenta a revelação mais completa dos mistérios da Santíssima Trindade e da Encarnação do Verbo, do Filho Unigénito que nos torna filhos adoptivos de Deus, bem como as questões basais da Igreja e dos Sacramentos.
Enfim, alguns capítulos do Evangelho de São João estarão sendo abordados, a cada semana, para nossa reflexão e contextualização diária, com vistas a revermos nossa postura cotidiana, frente à revelação de Cristo Jesus redentor e salvador, narrada por tão especial visão evangélica.
Até a próxima semana!