AS ESTRELAS NA MINHA COROA
No texto chamado O Dinheiro que o Arrombador não Quis, publicado no Recanto das Letras, conto do arrombamento à casa que eu morava enquanto eu aguardava em uma madeireira a hora da entrega de meu primeiro computador, com o qual haveria de sustentar-me a partir de então após ter feito acordo na empresa em que trabalhava. Corria o ano de 1998. Era o dia 17 de dezembro, meu aniversário, do qual eu nem lembrava. Justamente naquele dia eu deixara em casa um pequeno maço de dinheiros e com ele pagaria a vista pelo computador e mais a impressora. Era dia de semana, uma quarta-feira. Por justa razão não era dia de se estar em casa no horário de expediente. Portanto, se não estivesse nessa madeireira a conversar com a proprietária, em casa também não estaria. Sendo assim, não teria como por minhas forças proteger o dinheiro do computador.
Fora na madeireira com vistas em vender meu primeiro trabalho para aquela empresa. De fato, vendi um trabalho para eles e muitos outros depois daquele. Entretanto, naquele dia fiquei desde as quatorze até as dezessete horas falando de Deus e de seu Plano da Salvação para a proprietária, a senhora Sônia Maria Dutra Costa. E o assunto surgiu como que do nada, por causa de um comentário dela sobre o temporal que se dera naquela semana, pouquíssimos dias antes, porém não me recordo quanto tempo. Todavia, recordo que o momento era imediato ao temporal.
Ela perguntou se temporais como aquele eram sinais do fim dos tempos, pelo que entendi que já possuía conhecimento religioso, então me pareceu fácil entrar no assunto e explanar-lhe por completo o plano de Jesus para a Sua vinda nos dias atuais e como podemos saber que será já, se tantas pessoas da mesma fé morreram há décadas crendo que Jesus voltaria em seu tempo. Além do mais, temporais, cataclismos, fome, miséria, pestes e conflitos sociais, etc., sempre existiram.
E a conversa não terminou naquele dia. Desencadeou uma série de conversas em torno do assunto e logo lhe dei um exemplar antigo que eu tinha do Grande Conflito. Muitas vezes depois fui à sua madeireira para aprovar algum projeto gráfico e gastei algum tempo explicando-lhe sobre os sinais da volta de Cristo conforme a Bíblia, de maneira que ninguém possa ser enganado com doutrinas fantasiosas de falsos cristos, presenças e arrebatamentos secretos. Certa vez ela me disse que seu irmão se esforçava na tentativa de convencê-la a entrar para a Igreja Assembléia de Deus, mas que ela não estava bem segura de que nessa igreja conheceria a verdade por completo, haja vista os pontos contraditórios como alguns que relacionou. Entretanto, esclareceu que estava bem propensa a seguir a Igreja Adventista do Sétimo Dia, pois lhe parecia que as doutrinas dessa igreja estavam bem mais em acordo com a Bíblia.
Quanto a mim, porém, jamais me esforcei para convencê-la a não seguir aquela e seguir esta. Na verdade, meu pensar imediatista e pessimista até achava que a indecisão que se mostrou ao alongo do tempo era indício de que ela demoraria muito ainda para entregar a vida a Deus. Ainda assim, sempre que tinha oportunidade falava-lhe um pouco mais deste ou daquele ponto. Até porque mesmo quando eu ligava para cobrar um dinheiro o marcar uma reunião ela sempre tocava no assunto por um motivo ou outro. Por conta disso, algumas vezes gastei tempo também ao telefone falando-lhe do amor de Deus e de Seu Plano da Salvação.
Em 2001 eu já me afastara quase que por completo do bairro Feitoria, estabelecendo o escritório no bairro Rio Branco e logo depois no Centro de São Leopoldo. Por aquele mesmo tempo, porém, aconteceu um Revive em Porto Alegre, no Gigantinho, cujo pregador seria o pastor Bullon, a quem ela me dizia que gostava de ouvir na rádio Novo tempo e gostaria de assistir ao vivo tão logo tivesse oportunidade. Aproveitando então que as igrejas Adventistas de São Leopoldo dispuseram ônibus para quem desejasse ir, e, querendo eliminar empecilhos, como a dificuldade de dirigir até Porto Alegre, liguei para ela e convidei-a, esclarecendo sobre o ônibus e até marcando a hora em que passaria pela madeireira. Entretanto, apesar de que prometeu que iria, ela não foi. Todavia, antes ainda do ano de 2003 tive a grata satisfação de saber que a irmã Sônia fora batizada na igreja do bairro São Geraldo, conhecida como igreja da Madezatti.
A estudar a Bíblia com afinco para conhecer a vontade de Deus para ela e sua família, a irmã Sônia se desenvolveu bastante no entendimento da Palavra do Senhor, indo mudando sua vida para muito melhor, assumindo já desde cedo também o desafio de levar os filhos para o caminho de Cristo e também o marido. Por conta desse tanto conhecimento e de sua forma animada e lúcida de expor o Evangelho, ela tem ministrado a Palavra em muitas igrejas. Numa dessas, na igreja do bairro Vicentina, a oeste do centro de São Leopoldo, no ano passado assisti a um de seus sermões, onde ela contou a história de sua conversão, quando disse, entre outras coisas, que aquele velho Grande Conflito ela pôs fora sem nem mesmo ter lido uma linha.
Apesar disso, a Palavra de Deus se cumpriu em sua vida onde o Senhor diz: “A minha Palavra jamais voltará vazia, mas fará o que me apraz” – Isa. 55:11. Fato é que no último sábado, 25 de dezembro de 2010, ela e o filho pregaram na igreja do bairro Feitoria Seller. O Luiz Vicente, que naquele tempo era apenas um menino, agora é um belo jovem estudante e pregador da Palavra do Senhor. A menina mais nova está estudando no Unasp, em São Paulo, colportando nas férias para levar o conhecimento de Deus à pessoas desconhecidas.
Além do mais, certamente a irmã Vera Lúcia, irmã da Sônia, sofreu algum contágio da irmã pelo que compreendeu a doutrina pura da Bíblia e passou a seguir a Jesus juntamente com a Igreja Adventista do Sétimo Dia, levando consigo também o marido, o irmão Renato. Até por aí já são cinco ou seis pessoas envolvidas naquela conversa do dia em que minha casa foi arrobada em 1998, sendo que já lucrei pelo menos essas estrelas em minha coroa no Céu. Só falta agora o marido da Sônia, o irmão Marcos, aceitar a Jesus e conhecer uma vida mais feliz e perfeita do que já conhece, conhecendo também a bendita esperança da vida eterna, o que nos faz amar e querer a mensagem de Cristo.
Quanto ao pequeno maço de dinheiros que deixei em casa para pagar pelo computador, apesar de ter esfregado o nariz nele, Deus não permitiu que o arrombador o levasse e foi muito bom lembrar disso nesta sema entre o Natal e o Ano Novo, pois tudo está parado e a perspectiva de ganhar algum dinheiro antes do final do ano é péssima. Todavia, sei que Deus não permitirá que nada nos falte, pois o “Senhor é o nosso Pastor”.
Wilson do Amaral
Autor de Os Meninos da Guerra, 2003, e Os Sonhos não Conhecem Obstáculos, 2004.