COMPOR OU ESCREVER
COMPOR PARA DEUS
É dom divino.
Uma das coisas mais belas e agradáveis é, sem dúvida, o ato de compor. Creio tratar-se de um dom divino que nem sempre aquele que o utiliza tem como alvo o seu doador.
A composição tem multiformes apresentações: aforismos, frases de efeito, curta, mas de profunda sabedoria, poesias em seus diferentes estilos como trovas, cordéis, emboladas, sonetos, rondéis, poetrix, indrisos, duetos, quadras, motes, galopes. Enfim, sãos tantos os estilos literários pelos quais podemos louvar ao Senhor limitados apenas pela criatividade de cada indivíduo.. Aliás motivos não nos faltam para tecermos apologias a nosso Criador. Só o fato de estarmos vivos justifica essa atitude de gratidão e louvor.
No campo da música as opções são quase infinitas. Somos a cada dia surpreendidos por novos estilos que surgem desde a fusão de ritmos existentes a algo plenamente original. Apesar de apenas 12 notas cromáticas na escala pitagórica, variando em oitavas, timbres, dependendo do instrumento em uso, uma combinação de som e silêncio, nota, pausa, duração de nota, andamento, expressões, acordes, harmonia, ritmo, cadência, instrumentos cromáticos ou não, temperados ou comáticos, percussões, todos avulsos ou em execução polifônica e polirrítmica oferecem um universo de sons coloridos, traduzidos nas mais belas peças musicais. A música é inerente ao ser vivo. Todos os sotaques dos povos, para o isofalante são imperceptíveis, porém absolutamente gritantes ao ouvido do forasteiro. “Arre égua! Eita como o baiano fala cantando!”, diria o cearense. O baiano lhe rebateria: “Colé! Ó p'a isso, esse menino! Cearense é que canta que desafina!”. O certo é que só ouvimos a cantilação dialética do outro, menos a nossa. Acho, além de divertido, uma riqueza de sons sem tamanho. Aliás, para mim tudo resulta em música. Até o silêncio é música. Uma música especialmente silente. Somente aqueles que sabem ouvir o silêncio pode tirar as mais belas melodias dele. Creio que todos os ritmos pertencem a Deus, pois Ele é o autor e criador de todas as coisas. Nada do que foi feito se fez sem o Seu aval (Jo 1:2). Então, todos os ritmos se prestam para o Seu louvor. Satanás nada criou, mas é um imitador e usurpador das coisas de Deus. Formos invadidos por culturas alheias e se nos impuseram ritmos e costumes estranhos aos nossos. Hoje até defendemos isso como se fosse o padrão. Não podemos louvar a Deus com apenas os costumes americanos e britânicos. Nossa cultura é tão rica que o mundo inteiro a valoriza, menos nós. Só não podemos louvar sem a inspiração divina.. Precisamos ter nossas mentes renovadas, transformadas pela Palavra de Deus e pela ação santificadora do Espírito de divino. Não podemos copiar o formato secular, mas transformados, podemos experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12:2). Assim, o que fizermos, o que produzirmos certamente será bom, perfeito e agradável para ele, pois tudo vem dele, é por ele e torna para ele.
Assumimos o dom que Deus nos deu, pois fomos feitos à Sua imagem e semelhança quando criamos algo que nunca existiu, de um nada, imaginamos, projetamos, trabalhamos duro até trazermos à realidade aquilo que antes era apena um espectro intuitivo. Deus nos fez criativos porque quis que sejamos, nesse ponto criativos como Ele. Criamos tanto por inspiração do meio, da da natureza, quanto intuitivamente. Precisamos ser autênticos. De repente bate-nos aquele 'insight', uma inspiração tão forte. E quando apreciamos a obra já pronta, pensamos: “Mas como eu fiz tudo isso?”. De vez em quando fico assim, tal pai que observa o seu filho: “Meu Deus! Que maravilha esse bebê!”. E fica ali babando e projetando como será o futuro do seu filhinho. Trato cada poesia, cada texto, cada melodia como se fosse um filho único. Como um pai, mesmo que não gostem do trabalho, eu o amo, pois foi Deus quem me inspirou e mo deu.
Como você compõe? Como vem a sua inspiração?
É fascinante! É como um rio que nasce de uma fonte, e segue o seu curso até desaguar no mar. Assim é a vida de um compositor inspirado por Deus.
Comigo ocorre enquanto leio a Bíblia, oro ou estou estudando alguma harmonia. Então surgem as primeiras notas. Daí sigo-as, feito os carros de um trem seguindo a sua locomotiva. Não sei aonde vai dar até terminar, mas vou seguindo-a até sentir que terminou. Às vezes termina em minutos, horas ou dias. Há casos que fica toda pronta, mas falta algo que não conseguimos entender o que falta. Só sentimos isso e pronto. Em março de 1980, compus minha música TUDO MUDOU em apenas 50 minutos no percurso de casa para o trabalho. Mas senti que faltava algo, embora tivesse a certeza que já a havia terminado. E havia mesmo. O estilo da composição era interessante. Cada estrofe seguinte começa com a última frase da anterior. E a última, termina exatamente como começa a primeira. A ideia era que cada estrofe fosse chamado a outra, como um lembrete. Interessante é que a gente nunca terminava, pois o último verso, chamava com o um ímã para reiniciar a melodia. Somente, no momento da gravação no estúdio, em 2000, foi que fizemos um final para ela.
Compor para o Senhor é como um rio:
"Sua fonte é o Senhor.
“O rio é a mensagem que deve ser transmitida (letra e/ou melodia).
“O leito é o meio pelo qual a palavra é transmitida, ou seja, você mais o intérprete.
“O mar é o mundo, onde estão as pessoas necessitadas da verdadeira mensagem de salvação, paz, cura e libertação". Do mar, a água volta para o céu (em forma de nuvens) que, após cumprir o seu papel de louvar ao Senhor, retorna à terra, em forma de chuva (mais inspiração) para cumprir o ciclo da vida, ou seja, glorificar o nome do Senhor que é o dever e vocação de todo aquele que serve ao Senhor neste ministério de louvor e adoração ao Único que é digno de os receber.
João Bosco Rolim Esmeraldo
Missionário Evangélico
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Glossário:
Isofalante: pessoal de uma mesma região que tem o mesmo sotaque ou falam a mesma língua.
Insight: anglicismo, inspiração, intuição.