SOBRE A INOCÊNCIA E O PERDÃO - depoimento de caráter pessoal
SOBRE A INOCÊNCIA E O PERDÃO
Zuleika dos Reis
Eu não sou inocente em lugar algum, nem em relação a qualquer setor da minha vida, nem na relação com praticamente todos os meus companheiros de jornada, assim como não sou inocente no que se refere a cada um dos destinos que me poderiam ter sido, nem no que se refere ao destino que me ficou. Dentro do meu universo pessoal carrego como que uma culpa de natureza universal, isto não significando que eu tenha a pretensão, até certo ponto blasfema, de ser a maior pecadora do mundo (escrevo isto sabendo que a escrita deste momento vai soar muito enigmática ou mesmo totalmente absurda perante os olhos de algumas das pessoas que, porventura, leiam este texto).
Preciso do perdão de todos os “meus” e dos que, de algum modo, passaram a fazer parte, ainda que de modo periférico, da minha vida. Preciso do perdão de mim. Preciso da misericórdia e do perdão de um Deus que tenha a capacidade de perdão de uma mulher. Preciso do perdão de um Deus profundamente maternal.
Diz a Bíblia: “ Das crianças será o Reino dos Céus.” e também:“ Aquele que se humilhar será exaltado.” Minha criança interior... não morreu, certamente, só não sei onde está. Se estou me humilhando... também não o sei. Apenas exponho o que sinto como verdade a meu respeito. É possível que eu me engane a seu tanto; quem sabe me haja atenuantes; quem sabe não seja eu tão absoluta e irremediavelmente culpada como estou me julgando e condenando, sem me abrir a possibilidade de apelação.
Escrito na manhã de 25 de março de 2010, ainda no período da Quaresma.