QUEM DEVOLVE O DÍZIMO JAMAIS PASSA FOME

A esposa de um sobrinho de minha esposa reclamou para a mãe de seu marido que, ao receber a indenização de um emprego de onde fora demitido após muitos anos de trabalho, seu marido devolveu mais de R$ 1.000,00 (um mil reais) de dízimo para a igreja Batista que frequentam, acrescentando que por isso faltava comida em casa e ela e os filhos estavam passando miséria.

Hipocrisia da esposa a parte, se o marido devolveu mais de mil reais de dízimo, que é dez por cento (10%) do que ele recebeu, significa que ele recebeu mais de dez mil reais de indenização. Sendo assim, ele somente devolveu R$ 1.200,00 (mil e duzentos reais) porque recebeu R$ 12.000,00 (doze mil reais). Portanto, sobrou-lhe R$ 10.000,00 (dez mil reais) e com todo esse dinheiro a esposa queixou-se do marido para a sogra dizendo que faltava comida em casa. Muitas vezes fui constrangido a suportar pessoas denunciando a insanidade de outros por devolverem o dízimo. Antigamente, quando não mais frequentava a Igreja Adventista do Sétimo Dia, na qual tinha nascido e crescido até os quinze anos, – nesse tempo eu até me calava diante dessas afirmações maldosas, pois não tinha argumentos. Certa vez vi no jornal Zero Hora um artigo em homenagem a um tirinista porto-alegrense morador do bairro Cidade Baixa. Numa das tirinhas dele que o jornal publicou na matéria dizia: "Está bem, eu confesso, já fui um adventista do sétimo dia e, após suportar o culto enfadonho, passava o sábado confinado no meu quarto". No quadrinho seguinte ele aparecia criança tirando uma moedinha do cofrinho para o dízimo e, com os olhos cheios de lágrimas, dizendo que por causa daquela moedinha não poderia comprar o tênis novo que desejava.

Lamentei muito a hipocrisia daquele tirinista, pois, como ele, crescera adventista e jamais achara o culto enfadonho, tampouco ir a igreja e poder encontrar meus amiguinhos na escolinha e depois ver o titio falando de Jesus. Também nunca me pareceu enfadonho poder andar a tarde pelos campos próximos a nossa casa sem compromisso de ir para o colégio, aproveitando para ver a natureza e ouvir o murmúrio aconchegante da queda d’água da cascata que amávamos muito. O sábado também era o dia em que se podia ir passear na casa das pessoas com os pais fazendo trabalho missionário; também passear na casa da avó na chácara ou ir direto da igreja almoçar na casa de algum irmão e passar a tarde brincando com seus filhos.

Recordo dos sábados de minha infância sempre como se fossem dias ensolarados, coloridos e perfumados, mesmo que fossem chuvosos, sombrios e frios. Quanto ao dízimo, nunca nos faltou nada do que precisamos. Ao contrário, Deus sempre abençoou nossa família. Nosso pai não podia pagar, mas nós estudamos em colégios particulares, por exemplo, e nossos uniformes sempre estiveram bem limpos e passados, bem como nossas mochilas sempre tiveram todo o material necessário. E, sendo que minha mãe era filha de pais adventistas convertidos desde 1905, estou certo que o dízimo nunca nos tornou mais pobres, apesar de que nosso avós e tios sempre o devolveram. Ao contrário, sempre vi minha avó materna dando dois pães de cada fornada para gente que não gostava da religião e vivia na miséria em um barraco distante de nossa casa. Além disso, todos os dias ela nos dava uma pequena panela cheia de comida que levávamos para uma senhora velhinha doente e sozinha há duas quadras de distância. E sei também que nossa família, juntamente com a igreja, muito tem dado alimento para pessoas que não devolvem o dízimo e passam miséria.

Por outro lado, na casa da minha avó paterna tinha no mínimo dez tipos de laranjeiras sempre carregadas, além de umas quinze variedades de bergamota, lima, limão, goiaba, pêra, abacaxi, cereja, araçá, butiá, amora, ameixa, cana de açúcar, e muitas outras árvores frutíferas e de tudo isso desfrutávamos.

Hoje, quando sou adulto e tenho meu próprio negócio, embora que pequeno, mas que cresce lentamente, – do líquido que tiro desse negócio devolvo dez por cento (10%) para igreja, que sei que tem abençoado muita gente nos mais de 208 paises onde está estabelecida, libertando as pessoas dessa visão minimalista do mundo que faz com que os indivíduos sintam-se apenas mais um ser sem importância, sujeito a um mundo que deles requer tudo, mas não lhes oferece nada e nem mesmo uma expectativa de futuro. Mas, tão logo a Igreja Adventista do Sétimo Dia chega, muitas dessas pessoas já percebem a existência Divina e a mão do Salvador, que vai logo resolvendo seus problemas através da ADRA, tirando de alguns a fome, de outros o vício, de muitos outros as doenças e dores, além de tirando da solidão os desprezados.

Muitas vezes meu dízimo tem sido alto. Obviamente que me parece alto porque o vejo do ponto de vista que minha medíocre concepção de muito. Todavia, sempre que meu dízimo é mais alto, sendo que é dez por cento (10%) do meu líquido, sei que o líquido aumentou. Então desejo que o meu dízimo aumente muito mais, almejando que ele se transforme em milhares e até em milhões, como foi o caso do fundador da Colgate, pois cada novo aumento me mostra que Deus tem me dado bênçãos maiores a medida que vai me ensinando a ganhar e economizar mais, me enviando também mais clientes, inclusive com o mercado em crise, e esses novos cliente vão valorizando mais meu trabalho, pagando mais e reduzindo a abstinência. Além do mais, nossa pequena loja no Centro tem sido guarnecida num lugar onde seguidamente assaltam e arrombam lojas. Isto sem contar que o ponto é privilegiado e o aluguel muito barato.

Portanto, se Deus me abençoava desde quando eu não tinha renda para devolver o dízimo e continuou me abençoando mesmo no tempo em que, por avareza e insegurança, não devolvia, só tenho mesmo é que devolver-lhe o dízimo agora com grande satisfação, pois essa é uma forma até muito acanhada de demonstrar-lhe gratidão por sempre ter me abençoado e nunca ter permitido me faltar nada. E, sendo que só lhe devolvo de dízimo dez por cento (10%) da bênção que Ele já me deu, jamais faltará comida e recursos em nossa casa, pois se devolvo dez (10) é porque me sobrou noventa (90).

E o salmista Davi disse: “Fui moço e já, agora, sou velho, porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão”. – Salmo 37:25.

Portanto, o dinheiro devolvido na forma de dízimo jamais fará falta para alguém, a não ser para esses que o dão com vistas em adquirir as bênçãos de Deus, como se tivessem a comprar o amor daquEle que nos amou muito antes de podermos comprar. E é assim que as Igrejas do Santo Lucro ensinam, por isto instigam as pessoas, não a dar dez por cento (10%) da bênção que receberam, mas a dar cem por cento (100%) para receberem as bênçãos. Todavia, não foi isso que Deus pediu, tampouco pediu para dar algo do que não se tem e do que não se ganhou. Aliás, a Bíblia é bem clara em dizer que não nos é possível comprar qualquer coisa de Deus e tampouco pagar-lhE em dinheiro por nossa dívida. Bem pelo contrário, Jesus diz que o bom Pai manda o sol e a chuva sobre bons e maus, sobre os que devolvem dízimo em gratidão e sobre os que não devolvem.

Entretanto, quem for grato a Deus sempre estará próximo a Ele e seguirá Seus ensinos, o que redundará em mais bênçãos. E o dízimo devolvido jamais redundará em falta para essa pessoa e sua família porque a pessoa só devolverá dez (10) dos cem (100) que tiver recebido e em seu bolso restará noventa (90).

Wilson do Amaral

Autor de Os Meninos da Guerra e Os Sonhos não Conhecem Obstáculos.