A VIDA QUE DEUS ME DEU
A minha origem remonta a um espermatozoidezinho microscópico carregado de mochilas genéticas, vencedor de uma grande corrida, que, na reta de chegada, teve um encontro romântico com um minúsculo óvulo.
Desse encontro de amor, eu passei a existir, a viver. Era só uma célula no princípio. Não tardou, já eram algumas, várias, cada vez mais sofisticadas, misteriosamente. Alguns meses se passaram e passei a ser um conjunto incontável de células super dotadas e organizadas, todas de mãos dadas. E tive o prazer de entrar no palco do mundo e fazer parte da história. Que obra maravilhosa Tu fizeste de mim, Senhor!
Nas aulas de biologia, descobri que para um cachorrinho ou um elefante nascerem, Tu providenciaste o mesmo processo. É o milagre da vida. Mas há uma diferença, uma tremenda diferença entre um elefante e eu. Quando entregaste o presente da vida, colocaste no meu pacote a capacidade de escolher, de pensar, de sentir, de louvar conscientemente o Teu nome. Tu me fizeste parecido contigo. Que potencial imenso me entregaste. Sou capaz de fazer um aparelho de toneladas de metal voar a uma velocidade superior a do som, ou criar um sofisticado computador, que não passa de um brinquedo, diante da memória que Tu inventaste para mim.
E não sou único. Há outros. São muitos, milhares, milhões, na verdade são bilhões, parecidíssimos comigo e, ao mesmo tempo, tão diferentes de mim. A mesma dedicação e capricho, os mesmos cuidados e amor, Tu tiveste ao conceder a vida para cada um de nós. Ensina-me a valorizá-los e ajudá-los a desfrutarem o melhor da vida. Dá-me a capacidade de amá-los tanto quanto Tu os amas.
Pai Celestial, ontem me encontrei no espelho e uma tímida ruga passeava na minha testa. “Engraçado – pensei – isso não é coisa só para velhos?” E quem disse que não sou velho? Já se passaram mais de um bilhão e meio de segundos desde o meu primeiro choro. Sei que esta ruguinha vai atrair sobre mim outras mais, que serão acompanhadas de fios brancos em minha cabeça ou de uma peruca sem cabelos. Então, surgirão os lapsos de memória, a frouxidão dos músculos, os olhos perderão seu brilho e as mãos ficarão trêmulas. Até que o colosso que fui se acabe num último passeio num carro preto, cercado de flores, seguido por vários carros carregando semblantes tristes e lágrimas.
Parece estranho, Deus, sei lá, incompreensível! Teu majestoso milagre da vida ser derrotado pela cruel e inesperada, porém, tão certa, morte... Terá sido tudo em vão, vazio, tudo perdido?...
NÃO!!!!! Tu abriste as cortinas de chumbo que cegavam o meu entendimento. Agora eu posso ver! Teus planos são ainda melhores do que eu imaginava. Foi uma tola escolha a minha, optar pela morte. E sei que ela começou a operar em mim desde a concepção no ventre de minha mãe, envelhecendo minhas células gradativamente até seu golpe fatal que me aguarda. Porém, na mesma proporção a Tua vida vai crescendo em mim, sem limites, e há de vencer gloriosamente o fim da minha morte. Foi escolha Tua querer me amar desse jeito, comprando para mim a vida com o preço mais caro do mundo: a morte cruel e inocente de Teu Filho JESUS CRISTO em meu lugar.
As palavras são pobres para poder expressar minha gratidão a Ti. Quero demonstrá-la vivendo a Tua vida intensamente e aguardar o momento de indescritível glória em que sairei e saltarei como um bezerro solto da estrebaria e correrei livre ao teu encontro para um longo abraço, longo abraço, longo, muito longo... abraço!