AS APARÊNCIAS ENGANAM

Estive, naquela manhã, acompanhando minha esposa ao médico. Enquanto a aguardava, brincava e conversava com nosso filho de quatro meses, mas sem deixar de observar que havia alguém querendo entrar na clínica, mas não conseguia abrir a porta de vidro. Quando chegamos, ele já estava à porta, do lado de fora, e se afastou para podermos entrar. - Muito educado – pensei, mas não aproveitou a abertura da porta para entrar.

Durante todo o momento em que observei, ele dava a preferência para qualquer pessoa. Muito cortês. Mas ninguém se importava com suas tentativas frustradas de entrar na clínica. Notifiquei às secretárias sobre isso, mas elas apenas riram e afirmaram que desde cedo ele ali estava, repetindo cada movimento.

Só não achei mais estranho porque não há, naquela clínica, médico para atender sua especificidade. Mas alguém poderia tê-lo atendido e indicado outra clínica. Embora fosse uma figura popular, ninguém o atendeu. Não era um paciente comum, mas com real importância para sociedade. Será que se esqueceram disso?! Ele não se alimenta de coisas comuns, na verdade ele come o que as pessoas desprezam. Quem sabe esse seja o motivo que o levou ali? Talvez não tivesse dinheiro, pode até ser por essa razão que não quiseram atendê-lo. Que injustiça!

Ele demorou um pouco mais e, após inúmeras tentativas frustradas de um atendimento médico... Içou vôo. Estou falando de um urubu.

Diga-me: você pensou que eu falava de algum andarilho conhecido da sociedade, ou de alguma pessoa, certo? Pois é, as aparências enganam...

Embora seja um acontecimento real, só o contei para poder ilustrar o título que escolhi para este texto: As Aparências enganam.

Aprendi isso quando estudava na 3ª série do ensino fundamental, tinha nove anos de idade. O ano letivo já iniciara há alguns meses, os grupos de amigos já estavam compostos e, num belo dia, a turma recebeu uma nova aluna.

- Nossa! Que menina feia! – diziam alguns.

- Não quero que ela sente perto de mim. – diziam outros.

- Vem sente-se aqui. - disse a professora.

Bem na minha frente.

Ela era muito diferente. Seus cabelos, rebeldes (conhece a Medusa, da mitologia grega? Bem parecidos). Sua pele, era pele ou escamas? Não sei, não sabia muito naquela época. Mas uma coisa eu tinha certeza: ela é muuito feia!

Com o passar dos dias começamos a conversar, pegar borracha emprestada, essas coisas. E, pasmem: ela ficou muito bonita. Na verdade, antes de conhecê-la de fato, achava-a feia, todos concordavam. Mas o que aconteceu foi que pude conhecê-la de verdade e nenhuma beleza exterior se comparava com a beleza dessa garota. Nunca mais a vi da mesma forma, feia. Os outros poderiam até achar. Em alguns momentos também achava. Mas ela se tornou real, mais que uma carinha feia. Uma amiga. Inteligentíssima, diga-se de passagem. Nos demos muito bem.

Em 2007 (dezesseis anos depois) conheci uma pessoa simpaticíssima a qual, pelo falar de outras pessoas, já a conhecia, veja bem: apenas de ouvir falar. Eu havia criado uma imagem de uma pessoa de meia idade (uns 45 anos mais ou menos), rabugenta e orgulhosa. Sem acrescentar a cara-de-uvas-passas e o corpinho do tipo de quem saiu da piscina e esqueceu-se de tirar a bóia. Estilo foco da dengue. É, sabe como é? Arredondado e cheio de pneus. Essas pessoas precisam se enxugar bem após o banho, o combate à dengue já começou. Mas quando a conheci...

- Nossa! Você é... Muito prazer. Ouvi falar muito de você (muito mal - pensei).

Um sorriso cintilante, uma voz meiga, e muita simplicidade no viver. Ah, ela é mais jovem que eu, e muito bonita, é casada com um pastor de uma cidade vizinha, compartilhamos a mesma missão/profissão.

Ao dar ouvidos ao que me diziam, criei uma imagem dessa pessoa que mais parecia o Munra dos Thunder Gats que uma pessoa.

Quem é que não conhece, ou conheceu um saradão, ou saradona, que não tem se quer opinião própria. Que tem uma “carcaça” bem desenvolvida: músculos, músculos e mais músculos ou bunda, bunda e mais bunda (até acabaram com o moral das frutas!), porém só tem isso: “carcaça”; sem assunto para uma conversa sadia, escrevi em outro texto que futilidade é a palavra da vez, acho que se aplica perfeitamente a este caso.

Agora, lendo o que o apóstolo Paulo escreveu aos Coríntios veio à memória essas experiências. O apóstolo disse o seguinte:

“as coisas que se vêem são temporais, e as que não se vêem são eternas” (2 Co 4: 18).

Claro, Paulo está exortando sobre as aflições que a pessoa temente a Deus passa, e que tais aflições podem até trazer momentâneas tristezas, essas por sua vez trará, como ele disse, “eterno peso de glória, acima de toda comparação” e que devemos confiar não nas aparências, nas coisas que se vêem, elas nos enganam e são passageiras.

Talvez você conheça a Deus da mesma forma que falei que conhecia aquela pessoa. Talvez você tenha criado uma imagem da pessoa de Deus que, quem sabe, só exista em seus pensamentos. Tem pessoas que confiam num Jesus derrotado, pendurado numa cruz. Cristo vive! Não o procure entre os mortos (Lc 24: 5).

Outros se desesperam porque o seu deus o abandonou. O abandonou? Este deus não existe se não no pensamento dela. Outras esperam uma promessa que alguém disse que vem de Deus, daí se frustra, uma vez que a promessa não se cumpre e passam a desacreditar em Deus.

O que essas pessoas precisam é conhecer a Deus. O verdadeiro. O profeta Oséias escreveu:

“conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor [...]. [...] Pois misericórdia quero, e não sacrifícios, e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos” (Os 6: 3 e 6). Percebeu? O conhecer é um processo. O profeta nos exorta a conhecer e continuar conhecendo, se aprofundando, tendo um relacionamento intimo com ele.

Deus não te quer subindo de joelhos em intermináveis escadarias, nada de sacrifícios. Ele quer que você o conheça. O conheça mais que as aparências. Mais do que te dizem. Mais do que você mesmo (ou mesma) imagina. Ele quer que você faça uma aliança (se alie, se unifique) com Ele.

Ele quer que você se guie pela fé e não no que você vê (2 Co 4:18 e 5: 7).

Lembre-se: as aparências enganam. Viva além das aparências. Viva na presença de Deus e deixe-o viver presente em sua vida.

Que Deus te abençoe.