UNIDADE E PLURALIDADE – PROPOSTAS E DESAFIOS.
Na minha <b> “oikos” </b>há um micro-universo de relações, interações, individualidade e unidade. Nesse meu-nosso <b> “mundo habitado” </b>realmente salta à vista um micro-universo formado por minha família. Ao pensar <b> “oikumene” </b> fui forçado a pensar e refletir minha própria <b> “oikos” </b>ficando a imaginar como preservar a <b> “unidade do Espírito no vínculo da paz” </b>dentro da minha experiência familiar.
Durante cerca de 13 anos, minha-nossa <b> “oikos” </b>era circunscrita. Uma terra habitada por mim e por minha esposa, contando vez por outra com investidas em outras <b> “terras habitadas” </b>por nossos pais, irmãos e irmãs, tios e tias, primos e primas, amigos e amigas, e aqueles e aquelas <b> “do Caminho” </b>.
Ainda assim, comungávamos da mesma mesa e salvo melhor juízo, tínhamos a mesma meta em torno da fé professada em Jesus Cristo. Sabíamos que era em torno dele, i.e. em Cristo, que nossa <b> “oikumene” </b>era constituída e construída. Com essa premissa nos aventurávamos em <b> “outras terras habitadas”. </b>
Isso passou a mudar no dia em que tivemos uma filha. Nossa <b> “terra habitada” </b>recebeu uma nova habitante e a visão de toda a <b> “oikumene” </b>foi subvertida, senão, convertida a um novo olhar.
Às vezes gosto de falar e escrever por metáforas. No caso, ao falar e escrever sobre Ecumenismo e Movimentos Ecumênicos, foi insuperável o desejo de refletir sobre esse tema à luz da minha própria <b> “oikos” </b>. Somos três membros. Eu, minha esposa e nossa pequenina Débora, de “apenas” 6 anos de idade.
Como já me referi anteriormente, nossa <b> “oikos” </b>foi revolucionada com a chegada da Débora. Nosso micro-universo foi forçado a estender-se além das fronteiras seguras de nossa <b> “oikós” </b>. Nossa visão míope do mundo necessitou de novos óculos a fim de enxergarmos com maior clareza as possibilidades e a iminência de encontros fora do nosso micro-universo.
Ao falar de micro-universo e ao designá-lo como minha-nossa <b> “oikos” </b>quero dizer fundamentalmente que nele residem todos os elementos do macro-universo das relações interpessoais, com Deus e com o Cosmos.
Jaque e eu compartilhamos a mesma fé, mas temos histórias diferentes, famílias diferente, estruturas emocionais diferentes, habilidades diferentes, formação diferentes, características humanas diferentes e posturas diferentes frente à crises, conflitos existenciais, relações interpessoais. Sofremos influências diferentes e experimentamos vivências diferentes. Fizemos opções diferentes quanto à carreira profissional: ela: exatas; eu: humanas! Os círculos de amizades também foram diferentes como são diferentes as cidades em que nascemos, os bairros em que crescemos e as histórias que ouvimos na construção do nosso caráter e na formação do nosso ego. Contudo, decidimos nos unir. Apesar de tão diferentes, graças a Deus, nossas diferenças tem sido motivos para nos complementarmos um ao outro, e não para nos dividir ou nos afastar um do outro. Falar de Ecumenismo para mim é exatamente isso: a despeito de nossas diferenças, somos um, e assim, como essa máxima de Cristo, procuramos manter a unidade do Espírito pelo vínculo da paz!
Outro fato do nosso “micro-universo” é que sempre cultivamos relações com outros <b> “micro-universos” </b>, os quais carinhosa e usualmente chamamos de <b> “vizinhos” </b>. Uns, indiferentes a nossa fé, outros que dela comungam ativamente, outros que são completamente antagônicos a ela.
Fico a pensar: o que me aproxima de meu vizinho, irmão na mesma fé será tão diferente com aqueles de quem não professa a minha fé? Como, então, posso eu compartilhar da mesma mesa num churrasco entre famílias, ou acudir um ou outro, desde um simples bocado de açúcar a uma assistência em emergências médicas? O que nos aproxima? O que nos separa? Responder essas perguntas é tão crucial nas vivências com todas as outras <b> “oikos” </b></b>quanto o é para a minha.
Tenho aprendido que a despeito da minha fé nem sempre ser igual à fé deles, não me impede de dialogar com eles. Creio que esse seja, em suma, a proposta do ecumenismo apresentados por Gottfried Brakemeier, em seu <b> “curso de ecumenismo” </b>. Assim como na relação com meus vizinhos eu busco o bem estar da rua, do bairro, da cidade e daí por diante, também, na minha relação e diálogo constante com outras igrejas cristãs, reafirmo minha postura e prática eclesial e cristã, sem desmerecer a do outro, procurando estabelecer <b> “pontes” </b>em que a unidade é, não somente possível, como indispensável e necessária. Lembro-me de uma música que marcou minha geração: <b> “Palavra não foi feita para dividir ninguém! Palavra é a ponte onde o amor vai e vem!” </b>
Mas, como também me referi anteriormente, nossa <b> “oikos” </b>fui subvertida ou convertida com a chegada da Débora e nossa visão de <b> “oikumene” – “toda terra habitada” </b>revelou-se insuficiente para atender e responder aos diálogos decorrentes dessa invasão. À primeira vista, uma avalanche de novas informações, cuidados e contatos invadem nossa <b> “oikos” </b>e desestabiliza a sua rotina e forma de ser. Contudo ela continua sendo a <b> “nossa oikos”. </b>
E tudo começa com o um fato surpreendentemente novo: nosso olhar sai de nós mesmos, dos nossos umbigos, e convergem-convertem para olhar o Outro e para tudo aquilo que move o mundo do Outro! E os espaços da <b> “oikos” </b>adquirem novo <b>lay out</b>: quarto, salas, móveis... tudo, agora, visto e revisto na ótica do Outro. A isso se aplica todo comportamento dos primeiros habitantes desse micro-universo, suas aspirações, seus desejos e projetos. Apenas por causa de um novo ser. Mas, mesmo assim, mantemos uma posição: é ainda, a <b> “nossa oikos!” </b>
O ecumenismo possui disso também! Embora nos faça olhar para outro, não requer, nem exige que abramos mão daquilo que nos identifica, ou seja, nossa eclesiologia centrada na Palavra de Deus encarnada em Jesus Cristo.
Ora, se esse <b> “novo elemento” </b>ou <b> “habitante” </b>subverte-converte uma <b> “oikos” </b>o que não dizer no campo religioso fértil de nossas comunidades com o qual nos envolvemos e no qual somos desafiados a olhar o Outro. Sobretudo a olhá-los com a mesma ternura, compaixão e amor, ainda que eles venham subverter nosso <b> “pedacinho de chão”. </b>
Débora surge nesse <b> “micro-universo” </b>nos forçando a ver o Outro. Olhar o mundo do outro; e compreende-lo nem sempre é um desafio simples. Com aqueles vizinhos, a outra <b> “oikos” </b>que compartilha a minha fé, foi fácil permitir que ela saísse, especialmente quando o lugar dessa <b> “saída” </b>é a Eclésia de lá. Até aí ia tudo muito bem até termos que lidar com a <b> “festa junina da Escola, com a Matinê do Clube da amiguinha da frente, e da festa de aniversário da amiguinha do lado em pleno dia das bruxas – o famoso o Halloween”. </b>
Assim como sugere Gottifred Brakmeier, foi necessário informar-me e compreender o outro, tendo como ponto de partida o conhecer-me a mim mesmo. Assim é valiosa a abordagem desse autor, em que nos apresenta um olhar sobre o que se distingue como <b> “Ecumenismo” </b>desde sua etimologia e ideologia, até às formas como ele avança e se apresenta nesse universo multi-colorido das religiões cristãs, com suas ênfases nos <b> “movimentos ecumênicos” </b> e seus esforços que eclodiram desde a formação Igreja Primitiva, na busca da construção à luz da consumação do Reino de Deus, de justiça, amor e paz.
Mas, voltando novamente à metáfora de minha <b> “oikos” </b>, a despeito de termos que por nosso olhar no olhar do outro, continuamos ser os mesmo. Eu e Jaque. Histórias e vidas diferentes, unidos ao redor da comunhão dos santos, mas agora com uma nova ótica, sem com isso perder a nossa própria história, nossa identidade e tudo o mais que nos distingue das outras <b> “oikos” </b>. Sempre preservando a UNIDADE do Espírito, no VÍNCULO da paz!