Tomé e sua fé
Reflexão jovem sobre Tomé
Em Jo 20,24-29, refletirei três questões:
1ª – Tomé poderia ser considerado patrono da ciência? Da filosofia?
2ª – Como Jesus soube das intenções de Tomé?
3ª – por que “bem aventurados os que viram”?
Em relação à primeira pergunta, respondo:
Tomé, e seu desejo, revelam a importância de se “questionar” as narrações de outras pessoas; na verdade, ele explicita aquilo que muitos já vivem na pratica: ver e tocar as coisas.
Hoje a ciência é, conceitualmente, aquela que vê e toca as coisas, explica os fenômenos. Não chega a saber as coisas em si mesmas, e suas intenções ultimas, mas demonstra como funcionam os mecanismos delas, ajuda a prevenir seus próximos acontecimentos. Neste sentido, Tomé não queria tocar Jesus para explicar como pode alguém ressuscitar, mas demonstra, sim, o “impulso” cientifico curioso diante dos fenômenos supostamente sobrenaturais. Alguém pode nos dizer alguma coisa ocorrida como um milagre, mas se formos sinceros conosco, só acreditaremos e daremos testemunho se virmos e tocarmos o mesmo que nos foi relatado.
É também uma espécie de fuga contra as frustrações. Essas frustrações, com certeza, não são fruto do acaso, mas de muitas experiências na vida que nos levam a um desacreditar de certas coisas - uma espécie de maturidade. Sendo assim, quando me contam algo que me emociona profundamente, me defendo pensando: “ mas espera aí. E se isso não for verdade? Vou me frustrar e ficar magoado. Não quero sentir isso. Por tanto, só acreditarei quando ver com meus próprios olhos.”. Este tipo de pensamento pode não ser consciente, mas penso que, no fundo, seja assim que funcione. Logo, Tomé pode ter dito (ou sentido) isto, pois não queria se frustrar mais do que provavelmente já estava.
Em relação á segunda, respondo:
Se partirmos do pressuposto de que Jesus é Deus, e que Deus é onisciente, onipresente e onipotente, logo, Jesus sabia o que Tomé disse não só por que o conhecia, como se previsse está atitude dele (isso também), mas por que sendo Deus, sondou esta cena da vida de Tomé. Jesus é presente mesmo que não o vejamos. Ele sabe não só por uma espécie de indução sobre nós homens (como defendem alguns pensadores ao dizer que a onisciência de Deus se fundamenta no pré-conhecimento que tem sobre nós e nossas disposições para as coisas, o que, de certa forma, esta correto, mas penso que não cabe como justificativa nesta cena). Isto fica até fácil de sustentar quando se lê que estando eles em uma sala fechada Jesus entra e deseja a paz. É um fenômeno sobrenatural e não humano, que demonstra a divindade de Jesus e seu poder. Muitas coisas ele sabe por que está na cena junto, mesmo invisível, participa. É como o caso da bilocação, mas esta é invisível.
Outra possível resposta seria a de que algum dos discípulos tenha encontrado Jesus em algum outro momento e tivesse lhe contado o que ocorrerá com Tomé, mas esta suposição é muito especulativa (ideológica); sem bases para fundamentá-la, tanto na escritura como na tradição da igreja, ou pelo menos, não conheço nada neste sentido.
Em relação à terceira, respondo:
Esta foi minha maior inspiração (aproveito para pedir perdão às pessoas que já pensaram como acabo de pensar e que coloco como algo novo) diante desta leitura. Os apóstolos são estes primeiros bem-aventurados, pois estavam conforme combinado no dia combinado para a aparição de Jesus , na qual, Tomé, por incredulidade não foi. Tomé não estava trabalhando (como muitos hoje durante o domingo). Não foi por que não acreditava que Jesus apareceria. Deve ter achado um sonho inútil de seus irmãos. Mas ao ouvi-los relatarem sobre a vista do mestre, ainda os provoca dizendo: só acreditarei se tocar suas feridas... Não foi um ato de fé modelo (como muitos pregam), na verdade, Jesus dá um “puxão de orelha” nele quando diz que felizes eram os que o esperaram, na semana passada, e viram. É como se Jesus dissesse: agora acredita? Muito mais foi a fé de seus irmãos que estiveram aqui semana passada, acreditaram antes de ver”. Esta é, talvez, a fé que nosso senhor espere de nós: a fé que acredita antes de ver. Que vê, mas como conseqüência de um não necessariamente ver.
Por fim, Jesus mostra que se permite tocar por quem o procura, mas a postura de fé admirável está em quem independe do material, do concreto, do ver e tocar. A fé de quem experimentou é forte, grande, maravilhosa, mas não é maior do que aquela daquele que ainda não experimentou, mas espera, busca, acredita. Hoje muitos dizem; “é preciso viver para testemunhar”, é preciso “experimentar para poder falar”. Esta passagem pode, pelo menos, abrir-nos mais os olhos para a possibilidade de “não ver” e mesmo assim “falar com verdade”, “esperar” verdadeiramente e que esta espera converta mais do que testemunhos reais. Seguir alguém que pratica é fácil e cômodo, mas acreditar no que se diz sem testemunhas, enfrentando o desafio de ser o pioneiro no testemunho é difícil, mas o mais bonito.
Ps.: Por favor, se você ler, comente. Obrigado
3/6/9
Wallace