A VOCAÇÃO ESPECIAL DO ARTISTA
2. Nem todos são chamados a ser artistas, no sen-tido específico do termo. Mas, segundo a expres-são do Gênesis, todo o homem recebeu a tarefa de ser artífice da própria vida: de certa forma, de-ve fazer dela uma obra de arte, uma obra-prima.
É importante notar a distinção entre estas duas vertentes da atividade humana, mas também a sua conexão. A distinção é evidente. De fato, uma coisa é a predisposição pela qual o ser humano é autor dos próprios atos e responsável do seu valor moral, e outra a predisposição pela qual é artista, isto é, sabe agir segundo as exigências da arte, respeitando fielmente as suas regras especí-ficas.(2) Assim, o artista é capaz de produzir objetos, mas isso de per si ainda não indica nada sobre as suas disposições morais. Neste caso, não se trata de plasmar-se a si mes-mo, de formar a própria personalidade, mas apenas de fazer frutificar capacidades operativas, dan-do forma estética às idéias concebidas pela mente.
Mas, se a distinção é fundamental, importante é igualmente a conexão entre as duas predisposições: a moral e a artística. Ambas se condicionam de forma recíproca e profunda. De fato, o artista, quando modela uma obra, exprime-se de tal mo-do a si mesmo que o resultado constitui um refle-xo singular do próprio ser, daquilo que ele é e de como o é. Isto aparece confirmado inúmeras ve-zes na história da humanidade. De fato, quando o artista plasma uma obra-prima, não dá vida apenas à sua obra, mas, por meio dela, de certo modo manifesta também a própria personalidade. Na arte, encontra uma dimensão nova e um canal estupendo de expressão para o seu cres-cimento espiritual. Através das obras realizadas, o artista fala e comunica com os outros. Por isso, a História da Arte não é apenas uma história de obras, mas também de homens. As obras de arte falam dos seus autores, dão a conhecer o seu íntimo e revelam o contributo original que eles oferecem à história da cultura.