EU e ELA

Confesso que não me lembro do exato momento que a conheci.

Eu acho que estava começando a me entender como gente, foi na chácara da minha avó nas proximidades da cidade grande.

Meu avo mandou construir uma casa dentro da propriedade para ela morar e receber seus devotos, os adultos chamavam de capela.

Era linda, toda branca, havia uma paz imensa em seu interior, e um silêncio profundo interrompido somente pelo barulho dos pássaros que construíam seus ninhos em seu telhado.

Eu muito pequeno adorava ir sozinho a sua casa, quantas vezes sem avisar minha avó subia o morro que separava a sede da chácara da capela só para vê-la e sentir a paz que havia ali dentro.

Quando minha avó preocupada dava falta da minha presença, sabia sempre onde me encontrar.

Na entrada, lembro-me do cheiro da madeira dos bancos enfileirados, dos raios do sol atingindo os vitrais coloridos das janelas criando um arco-íres divino a sua volta no altar.

Ajoelhava, aproximava minhas mãos pequenas para uma prece, fechava meus olhos imitando os adultos, e ficava muito tempo nessa posição mexendo os lábios, somente os mexia, não sabia rezar.

Do altar a me observar se divertia com o meu inocente comportamento.

Desde essa época nos tornamos amigos íntimos, ela sempre soube do que acontecia na minha vida, esteve sempre ao meu lado durante todos esses anos, durante o dia e a noite na cabeceira da minha cama.

Os acertos que realizei na vida foram construídos sob sua proteção, os erros cometidos, o seu perdão sempre foi o mais importante.

Em determinado momento na adolescência para nos tornarmos mais próximo pensei até em ser padre para estar vinte quatro horas por dia ao seu lado, e viver da paz e da calma que sua presença sempre causou em meu coração.

Durante esses anos de existência, todas as vezes que me perdi pelos caminhos escuros da vida, ela sempre me encontrou, estendeu suavemente suas mãos protetoras e sob seu manto sagrado me conduziu de volta a luz.

Nossa Senhora Aparecida, sempre que rezo pedindo sua proteção e vejo a sua imagem me emociono, com o sentimento puro daquele menino que corria escondido da avó para ficar perto da senhora e sentir dentro da sua casa o seu infinito amor.

A senhora é a primeira lembrança importante que guardo da minha vida, eu mudei muito durante todos esses anos, só não mudou o amor que trago dentro de mim.

Hoje sinto uma saudade enorme daquela infância que deixei há muito para trás, consciente e envelhecido, mantenho o mesmo amor, a mesma devoção,e a mesma fé, com a senhora ao meu lado nada temo, sei que estará junto a mim até a eternidade.

Duda Menfer
Enviado por Duda Menfer em 22/12/2008
Reeditado em 23/08/2021
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