SOU DE DEUS, UM VASO
Na capela, em Santo Antão,
Eu ouvi a homilia.
Um santo monge a entregou
Falando em analogia.
O Salmo quarenta e seis,
Eu ouvi com atenção.
Falava de confiança:
Deus é a nossa proteção.
No Salmo cinqüenta e um,
O relato de Davi
Encheu-me os olhos de lágrimas.
Pecado assim, eu já vi.
Na capela, o silêncio.
No coração, um alívio.
Da impactante mensagem,
O que eu lembro, eu te envio:
“Outrora, eu fui digno vaso.
Dessa glória, eu não fiz caso:
Portar a divina imagem,
E sendo vaso, ser rei.
E foi esta a suma honra:
Ser de Deus, a sua imagem;
Que, por amar, degradei:
E da fama, a desonra;
E de Deus, só a miragem.
Do meu reino, eu fui tirado.
De outros vasos, separado,
E no chão, vi-me caído.
O vaso fez-se em bagaço.
No bagaço, nenhum viço;
E esse no pó, esquecido.
Jaz na terra, e é mais nada.
E no Caos, sua morada.
Eis o Fiat Divino!
Essa é de Deus, a Palavra:
- Surge, ó, pó desse nada.
- Ó Terra, se tu, formada.
- Nessa terra, eu moldo o barro,
Faço dele, a minha imagem.
- Nesse vaso, a mi’a estalagem.
- Eu te adoro, esse teu jarro,
Pelo amor inesgotável,
Irrestrito e inefável.
Em mim, a eterna honraria:
Ser de Deus a moradia.
Sou filho, não sou miragem.
Seja essa, a mi’a missão:
Depor, aos teus pés, os cacos.
Por tuas mãos, venha a moagem.
Misericordiosa mão,
Faz que os filhos, mesmos fracos,
Resplandeçam tua imagem.
Moses Adam
F.V. 26.10.08
(Título anterior: Minha glória: ser de Deus, um vaso.)
- Um fragmento da Novela O Paladino e a Donzela