O MENDIGO

Camila chegava do serviço cansadíssima, quando viu o carteiro depositar na caixa de correios uma correspondência. Pensou em entrar e ir pegar depois, mas algo lhe dizia para ir imediatamente. Pegou a carta e não esperou, entrou a abrir e a ler a mensagem no papel amarelado, que dizia:

"HOJE À NOITE IREI VISITÁ-LA

Ass.: Jesus"

Apenas isso.

Leu, releu e não acreditou, logo de cara, no que leu. Por muitas vezes ela lançou mão da carta, a ler nova vez, como que registrando na memória aquelas poucas palavras. Enfim, decidiu-se a sair.

- Se o Senhor virá visitar-me, devo preparar a casa... um jantar, e deve ser o mais especial, a melhor comida que já fiz.

Após ficar o dia inteiro preparando a casa, perfumando-se, ajaezando-se, depois de transformar sua casa quase num palacete, para receber o Mestre, Camila saiu, apressada - não queria que o Mestre chegasse e a não lograsse em casa - comprar alguma cousa no mercado mais próximo. Comprou muita cousa, das melhores que lá viu.

Em voltando à casa, deparou-se na rua com um mendicante mal vestido, ao qual não ligou importância. Entrou a preparar o jantar especial, o melhor, como dissera. Preparou a mesa e preparou a casa e preparou-se inteira para a chegada do Senhor, que não tardaria.

Ouviu a campainha e saiu a ver quem incomodava. Viu o mendicante ao longe, e de lá mesmo perguntou que queria.

- Apenas um prato de comida, senhora, e um cobertor, porque está frio e tenho fome.

- Mas o que aqui tenho é para um conviva especial. Não posso dar-lho.

- Tenho certeza de que, se seu conviva for uma boa pessoa, e chegar em casa e não vir comida, e souber que deu o pouco que tinha para um pobre mendicante, sairá de casa satisfeito.

A essas palavras, a jovem, comovida e arrependida, atendeu ao pedido do pobre mendicante com gosto e deu-lhe o que pedia. Não somente fez isso, como o convidou a entrar em sua casa e a comer quanto quisesse, e deu-lhe roupa, e um cobertor, e pediu-lhe que ele dormisse ali aquela noite, que o conviva não se importaria, ao contrário, alegrar-se-ia demasiado.

- Não quero incomodar, senhora.

E, dessa maneira, o mendicante se foi.

Na mesma noite, Camila recebeu um telegrama, que dizia:

"OBRIGADO. A COMIDA ESTAVA ÓTIMA.

Ass.: Jesus"